Logo
Tudo que você precisa saber sobre as eleições em um só lugar

'As esperanças são tóxicas porque o outro lado dessa moeda é o medo', diz monge uruguaio 

26/10/2025 06:01 O Globo - Rio/Política RJ

Sua voz induz estados alfa de consciência. Olhar transparente, leve sotaque estrangeiro, magro quase etéreo — o mestre Khenpo Rinchen Gyaltsen aparece sorridente na tela do Zoom e parece ter nascido lama, envolto em tons de laranja e grená. No entanto, Alejandro Vega Martínez (53), seu nome de batismo, é uruguaio e cresceu em Nova Jersey. O mais importante e conhecido difusor do budismo Sakya no mundo hispânico é filho de galegos de Pontevedra. A mãe, dona de casa, e o pai, técnico em radiologia, se estabeleceram no Rio da Prata após a Guerra Civil Espanhola. Quando Alejandro tinha oito anos, mudaram-se para o norte, onde vivia outra parte da família. Desde pequeno, ele se interessava por temas como o karma, a morte, o que acontece depois de partirmos e “outros mistérios”, como confessa — e pediu à mãe que não o obrigasse a participar do catolicismo, religião de seus pais. 
Autismo: o que diz a nova diretriz para diagnóstico e tratamento
Enfraquecimento ósseo não é novidade: análise de esqueletos revela origem ancestral da fragilidade desde o Neolítico
Buscar o sentido da vida foi o grande impulso de sua juventude. Começou a estudar economia na Universidade Rutgers porque todos na família diziam que ele era bom na área, mas desistiu, sentindo que era um ambiente "egocêntrico e materialista". Formou-se em arte e psicologia, estudou fotografia e trabalhou como designer gráfico. Mas nada o satisfez. Começou a meditar com um grupo budista e, logo depois, graças à recomendação de seu mentor lama em Nova York, embarcou em sua primeira viagem solo à Índia. 
Foi uma peregrinação iniciática, na qual absorveu os conhecimentos do Buda e as lições dos mestres — primeiro passo de um caminho que transformaria Alejandro Vega Martínez, então com 25 anos, no Venerável Khenpo Rinchen Gyaltsen. Hoje, ele dirige o Centro Budista Sakya de Pedreguer, em Alicante, e fundou a Paramita, uma plataforma digital que cresceu muito desde a pandemia. Com dois milhões de seguidores nas redes sociais, ministra mais de cem cursos, presenciais e online, para milhares de pessoas. Pode-se dizer, sem exagero, que uma das razões para sua enorme popularidade é a simplicidade com que explica as complexidades da filosofia budista. 
Essa clareza foi conquistada ao longo de anos de formação e estudos em monastérios da Índia, Nepal e Tibete — período em que também traduziu, para o inglês e o espanhol, textos essenciais dessa tradição. Em 2013, seu mestre, Gongma Trichen Rimpoche (nascido em Shigatse, 1945) — autoridade máxima da tradição Sakya e segunda figura mais importante do budismo tibetano depois do Dalai Lama — o designou para difundir os ensinamentos em língua espanhola a partir do monastério de Pedreguer. 
Atualmente, Khenpo Rinchen está em turnê pelo Equador, Bolívia, Uruguai e Argentina com o seminário intensivo “Treinamento Mental Sussurrado ao Ouvido”. Em Buenos Aires, apresentará o curso no Teatro Astral, de 30 de outubro a 2 de novembro, e os ingressos se esgotaram já em setembro. Mas ele não se surpreende. 
— É impressionante o interesse que há hoje na Argentina, especialmente em Buenos Aires, e em outros países da região. Os ensinamentos do Buda estão atraindo pessoas em busca de ferramentas contemplativas para alcançar mais equilíbrio. Há um despertar de consciência em toda a América Latina, que vem crescendo desde que comecei a viajar, em 2006. E não me refiro à quantidade, mas à qualidade da participação. Vejo pessoas maduras, educadas e bem-informadas sobre o budismo — afirma. 
Como devo chamá-lo? 
Como quiser. Recebi o título de Khenpo, que significa abade, mas muitos me chamam de lama, que é mestre. Lama é um título, Khenpo é outro, e Venerável é outro ainda. Este último é mais geral, usado para todos os monges ordenados. Já Khenpo significa alguém que dirige uma instituição, um monastério — como eu, em Pedreguer. 
O que o senhor vai “sussurrar ao ouvido” no seminário da Argentina? 
Vou compartilhar um ensinamento muito curioso. É um gênero importante da literatura tibetana, que resume em chaves todo o caminho espiritual. O Treinamento Mental Sussurrado ao Ouvido é uma antiga doutrina transmitida por Sumpa Lotsawa (um lama tibetano dos séculos XII e XIII), depois de recebê-la numa visão na Índia. 
Pode dar um exemplo? 
Um dos exemplos é: “Você é sua melhor testemunha”. O que isso significa? Que o sucesso não pode depender do que dizem os outros. Você tem a última palavra. Você se conhece por dentro, então saberá se realmente está melhorando. 
E como saber disso? 
Observando como reage quando a vida o surpreende. Não quando está num templo, mas quando sua mala se perde no aeroporto. Veja que emoções surgem em você nesse momento, quanta paciência, quanto autocontrole. Aí é que você se conhece de verdade. 
Como alcançar essa serenidade? 
Por meio do desenvolvimento das seis paramitas (perfeições): generosidade, ética, paciência, esforço (ou perseverança), meditação e sabedoria. 
 Podemos aprofundar um pouco mais? 
O segredo, mais u

Fonte original: abrir