Clima de Halloween inspira roteiro pelas histórias de fantasmas que habitam o Theatro Municipal do Rio
Quando exatamente essa história de Halloween baixou por aqui é incerto, mas pelo menos desde os anos 1990 há quem reclame da tradição importada. É a minoria. A julgar pelas vitrines cheias de fantasias e adereços, festas e eventos temáticos agendados, as queixas sobre a apropriação das tradições alheias não assustam ninguém. Já o Theatro Municipal, sabemos muito bem desde quando está entre nós: são 116 anos de assombrosos serviços prestados à cultura brasileira. Desde o início da construção, em 1905, muita gente passou por lá. Alguns, pelo visto, resolveram ficar. São abundantes os relatos de misteriosas aparições e outras ocorrências (aparentemente) sobrenaturais. Tantos que a instituição abraçou a fama e desde 2023, na carona das comemorações pelo Dia das Bruxas (31 de outubro), organiza a Visita Fantasma. Um passeio de arrepiar pelos mistérios que rondam o teatro mais famoso do Rio.
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Espetáculo sobrenatural
Não precisa ter (muito) medo. Os fantasminhas residentes no Municipal são camaradas. Há relatos de gente muito boa que de vez em quando dá pinta por lá: os escritores Olavo Bilac (1865-1918) e Artur Azevedo (1855-1908) são dois deles. Recentemente, uma caçadora de fantasmas sentiu a presença da cantora lírica Bidu Sayão (1902-1999) na sala da reserva técnica.
A lista tem ainda um maestro, bailarinas — entre as quais a célebre francesa Gabrielle Réjane (1856-1920) —, músicos, cantores, mecenas e até espectadores. Dá para imaginar um espetáculo completo. Operários mortos ou gravemente feridos no local durante as obras são tidos como eternamente presentes nos corredores da casa que ajudaram a erguer: José Martins, Manoel Tavares, José dos Santos, João Maria da Silva e Manoel Garcia são alguns dos nomes levantados no estudo que serviu como base para a construção do enredo da Visita Fantasma.
Vultos históricos: relatos de aparições incluem gente famosa como Olavo Bilac e Artur Azevedo, músicos, bailarinas e também operários que trabalharam nas obras do teatro
Custódio Coimbra
Espectros anônimos — vultos de fraque e cartola, sem pernas, atravessando paredes — e de ex-funcionários que seguem dando expediente no local também são comuns. Há ainda quem jure ter ouvido música saindo espontaneamente do piano que pertenceu a Chiquinha Gonzaga, exposto em um dos salões do teatro.
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— A ideia (da Visita Fantasma) surgiu da curiosidade do público e das inúmeras histórias sobrenaturais que sempre circularam sobre o teatro. Várias vezes, fui procurada por jornalistas, pesquisadores e até caça-fantasmas querendo investigar o prédio, porque dizem que é um dos lugares mais assombrados do Rio. Além disso, quem trabalha aqui no dia a dia também relata aparições. A gente costuma brincar que esses fantasmas são os melhores funcionários, porque continuam trabalhando nos bastidores — brinca Clara Paulino, presidente da Fundação Theatro Municipal do Rio.
Clara nunca presenciou aparições, mas já ficou impressionada com um rápido fenômeno vivido em local de trabalho:
— Na minha sala já voaram papéis com todas as janelas fechadas. Há quem veja homens trajando roupa de época passando nos corredores, quem escute barulhos misteriosos... enfim, também estamos em uma instituição que é antiga, que por si só também já tem os seus barulhos naturais. Mas é isso, a gente lida bem com os nossos amigos.
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Muito bem, aliás. E com coragem suficiente para não temer uma injustificável repercussão negativa para a imagem da casa que alguém, de espírito mais fechado, poderia imaginar.
— Nada disso. A gente acredita que esse tipo de visita até homenageia esses “fantasmas” e acaba sendo mais uma ferramenta de democratização do acesso — reflete Clara.
Os relatos de pessoas que juram ter visto fantasmas se deslocando dentro do Municipal ocorrem há muiitos anos
Custódio Coimbra
As oportunidades para fazer a Visita Fantasma são raras. Mais até que as aparições. Os grupos são agendados só em outubro mesmo, pela proximidade com o clima de Halloween instalado na cidade. As sessões para adultos já aconteceram. Os 40 ingressos para cada uma das duas visitas programadas este ano foram vendidos rapidamente. Desapareceram como que por encanto. Na próxima quinta-feira acontece a versão para crianças. Depois, só no ano que vem.
Cosplay do além
A cargo do setor Educativo do Theatro Municipal, a visita foi sendo aprimorada ao longo dos anos. Ganhou elementos cênicos e até atores que se encarregam de dar mais realismo e emoção à experiência. Os grupos de visitantes têm composição bastante diver
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