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Cangurus canhotos? Estudo revela lateralidade em animais e desafia ideias sobre evolução

26/10/2025 07:01 O Globo - Rio/Política RJ

Um gesto aparentemente simples, como um canguru usar a pata esquerda para se alimentar ou se limpar, pode revelar pistas sobre a evolução do comportamento animal. Um estudo recente da National Geographic indica que os cangurus vermelhos e cinzentos orientais exibem uma preferência quase absoluta pelo uso da pata esquerda, fenômeno conhecido como lateralidade, antes considerado exclusivo de grandes primatas e humanos.
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A pesquisa foi conduzida pelo zoólogo Yegor Malashichev, da Universidade Estadual de São Petersburgo, com apoio do Comitê de Pesquisa e Exploração da National Geographic. A equipe analisou centenas de marsupiais na natureza, na Tasmânia e na Austrália continental, e em cativeiro, incluindo zoológicos em Sydney e na Europa, observando espécies como o wallaby-de-pescoço-vermelho, o canguru-vermelho e o canguru-cinzento-oriental.
Os resultados mostraram que, enquanto o wallaby-de-pescoço-vermelho apresenta preferência pela pata esquerda apenas quando bípede, os cangurus vermelhos e cinzentos orientais a utilizam quase exclusivamente em atividades como alimentação e higiene, independentemente de estarem apoiados em dois ou quatro membros. Em contraste, os cangurus-arborícolas de Goodfellow, que se locomovem predominantemente com quatro patas, não exibiram lateralidade.
Segundo Malashichev, a lateralidade provavelmente se desenvolveu após a adoção da postura bípede. “Parece que não somos mais tão únicos”, disse o pesquisador à National Geographic, destacando a semelhança com a evolução humana, em que a postura ereta liberou as mãos para tarefas específicas, favorecendo a especialização lateral.
De um ponto de vista neurobiológico, a lateralidade em humanos e cangurus estaria ligada a diferenças na função dos hemisférios cerebrais. Nos animais, mesmo sem lateralidade pronunciada, o hemisfério esquerdo coordena tarefas do dia a dia pelo lado direito do corpo, enquanto o hemisfério direito atua em respostas de emergência. A evolução da postura bípede pode ter acentuado essas funções, permitindo que membros superiores fossem dedicados a tarefas específicas.
Paul MacNeilage, biólogo da Universidade do Texas, destacou a magnitude do fenômeno: “É surpreendente a quantidade de animais canhotos, considerando o tamanho reduzido de suas patas dianteiras”, comentou, sugerindo que ancestrais arborícolas dos cangurus utilizavam preferencialmente o lado direito do corpo, deixando a mão esquerda livre para manipulação e higiene.
Apesar da robustez das observações, MacNeilage e Malashichev reconhecem limitações, como a restrição do estudo a marsupiais, o que exige mais pesquisas para confirmar se a lateralidade bípede se aplica a outras espécies. O comportamento ausente nos cangurus-arborícolas de Goodfellow reforça a hipótese de que a postura ereta é um fator determinante para a preferência manual.
O estudo não apenas desafia ideias tradicionais sobre lateralidade no reino animal, mas também abre novas perspectivas sobre a evolução de comportamentos complexos. Da próxima vez que um canguru se alimentar ou se limpar, vale observar qual pata ele usa: esse simples gesto pode ser um reflexo de uma história evolutiva que compartilha paralelos com os humanos.

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