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Fafá de Belém critica falta de representatividade do povo na COP30 e relembra burnout: 'Tive medo que pensassem que era overdose'

26/10/2025 07:31 O Globo - Rio/Política RJ

Após uma programação intensa no Círio de Nazaré, maior procissão religiosa do mundo, e às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) — o evento da década na cidade que carrega no nome e na carteira de identidade —, Fafá de Belém fez uma pausa estratégica. Refugiou-se em Lisboa, onde mantém um apartamento desde 2018, e recebeu a equipe da ELA para uma conversa franca entre maratonas. Aos 69 anos, a cantora continua exuberante, cheia de energia, mas consciente de que corpo e mente pedem descanso. “Precisava parar um pouco. Este ano não fiz turnê por causa de uma fratura no joelho, e, há alguns meses, tive um burnout”, conta, agora nitidamente recuperada.
Durante a sessão de fotos, cantava em alto e bom som em meio aos cliques, transformando o pequeno estúdio no bairro da Ajuda em um show particular. Estar com Fafá é perceber mais do que a gargalhada solta que virou símbolo de sua persona. É sentir um perfume sutil, só dela — do banho de cheiro que a acompanha desde a juventude e que remete a lembranças de Belém. Falou-se de (quase) tudo: política, pele de pêssego e “sem Botox”, prazer de viajar sozinha “para se lembrar quem é”. Só não quis entrar em detalhes da vida amorosa: “Nunca respondo! Mas titia continua on”.
E não foge de polêmicas. Sobre supostas irregularidades no uso de verbas públicas destinadas ao Varanda de Nazaré, espaço que comanda há 15 anos durante o Círio, reafirmou o que já tinha dito para seus 1,2 milhão de seguidores no Instagram: “A edição de 2024 não recebeu recursos da Lei Semear nem qualquer repasse do governo estadual. A citação no Diário Oficial se tratou de erro”. A varanda, segundo ela, recebeu apoio institucional do Governo do Estado, sem qualquer vínculo financeiro direto.
Fafá fala com igual intensidade sobre a Amazônia e a COP30, que define como “uma oportunidade de se devolver a autoestima ao povo paraense”. Mas faz questão de cobrar: “Não existe Amazônia sem nós, o povo”. Mais do que uma cantora, Fafá é presença. Amazônica, feminina, política e, acima de tudo, livre.
Fafá de Belém
Lucas Fonseca
A COP30 vai acontecer em Belém. Desde o anúncio, você critica a pouca presença de pensadores amazônicos nos debates e o uso do povo como alegoria. Quais são as suas expectativas?
Sempre fomos apagados. Não adianta fazer um espetáculo para o mundo e tirar os ribeirinhos de casa, para eles não participarem. Não existe Amazônia sem nós. E quando somos proibidos de fazer parte do espetáculo, atenção, algo está errado. Estive nas aberturas de outras COPs, mas na do Pará não fui convidada. Farei um espetáculo no Theatro da Paz (no dia 14) com o maestro João Carlos Martins, com ingressos populares e renda revertida para o povo de Santo Antônio. É o meu presente, a minha forma de entregar a COP para o povo do Pará.
Quais são as causas amazônicas mais urgentes?
O apoio às pesquisas da UFPA é fundamental. É preciso olhar e ouvir o nosso povo. A farmacopeia mundial nasceu das erveiras, das curandeiras. Elas precisam ser reconhecidas.
Como vê o atual momento político do Brasil?
O Brasil é uma democracia jovem. O apoio ao Bolsonaro, as tentativas de substituição da nossa bandeira pela dos Estados Unidos, eu não vejo como um movimento de direita. É um movimento de ignorância. Nem toda a direita pensa dessa forma.
Sobre as críticas à Varanda de Nazaré, você já se posicionou. Ainda assim, ficou abalada?
Não. Depois do burnout, entendi que sou maior que tudo isso. Acho que o componente é a inveja. E não é de longe, é de gente de perto. Tudo se resolveria com dois pares de convites para a varanda. Mas não entram na minha vida, muito menos no espaço em que levo meus convidados, por quem tenho respeito, para se envolver com gente que quer tirar selfie. Quando a varanda começa, já sofre uma grande reação dentro da elite paraense.
Fafá de Belém
Lucas Fonseca
Pensa em entrar efetivamente para a política?
Não. Não poderia ter partido. Sou uma pessoa livre. Prefiro um palanque livre. Sempre serei uma voz pela democracia.
Em 2022, você foi capa da revista ELA e se esquivou ao falar da vida amorosa. E agora?
Nunca respondo! (gargalha) É engraçado, se você pesquisar na internet, só aparece o nome do pai da minha filha, Raul. Mas... Titia continua on! Como disse naquela entrevista, vivo os anos 1970 até hoje. Sempre fui uma pessoa livre. Sou livre e careta ao mesmo tempo. Nunca pensei em me casar. Sempre quis uma profissão que me levasse para o mundo.
Você fala muito de liberdade. De onde vem essa força?
Meus pais sempre me deram muita liberdade. Com 10 anos, numa reunião de família, dei uma gargalhada e uma tia disse: “Com essa gargalhada, você nunca vai ser ninguém na vida porque nenhum homem vai te querer”. Saí batendo o pé, mas com o meu pai dando risada. Ele nunca teve preconceitos. O primeiro casal homossexual feminino assumidamente de Belém só era recebido lá em casa.
Fafá de Belém
Lucas Fonseca
Sempre foi símbolo de sensualidade, especialmente pelos seios fartos

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