 
        Medo da estaca zero paralisa, mas arriscar é a chave para evoluir
Tem dias em que acordamos com aquela sensação de que tudo desmoronou. Que o castelinho de cartas que levamos meses, às vezes anos, para montar, com tanto cuidado, tanta estratégia, tanto medo de um sopro errado, caiu ou está por um triz. Aí vem o desespero: “Pronto, lá vou eu voltar à estaca zero”. Será mesmo?
Crescemos achando que a vida é um jogo linear, com fases a serem vencidas, pontuação e recompensas. Só que não se trata de um videogame. No jogo da vida, o tabuleiro muda todos os dias, e nós, como jogadores, também. E é impossível voltar à estaca zero quando quem joga já não é o mesmo de ontem.
Cada erro, acerto, tropeço ou “game over” muda o jogador e o jogo de alguma forma. Mesmo quando tudo parece igual, jogamos de outro jeito, com mais repertório, cicatrizes e intuição. O medo da estaca zero é um dos mais traiçoeiros. Ele se disfarça de prudência, de responsabilidade, de “realismo”. Mas, no fundo, paralisa. Diz: “Não mexe, não tenta, não muda... Vai que dá errado”. E aí você fica olhando para o castelinho de cartas, congelado, sem saber se adiciona mais uma, tira outra ou sopra para ver o que acontece.
Mas a verdade é que não existe castelo sem vento. O risco faz parte da construção. E é justamente o vento que testa se o que montamos é sólido ou se precisa ser reconstruído de outro jeito. O medo que paralisa é o que te impede de descobrir que talvez o castelo possa ser ainda mais bonito, mais alto ou até ganhar formas diferentes.
Tem gente que diz “não posso arriscar”, como se o risco fosse uma escolha. Mas a vida é risco o tempo todo. Uns maiores que os outros, mas tudo envolve algum risco. Respirar é arriscar, assim como amar e se expor. Sonhar é um dos maiores riscos que existem, porque exige coragem para admitir que você quer algo que ainda não tem.
Calcular riscos é necessário, mas deixar de arriscar é o mesmo que desistir de viver. Tudo é risco, especialmente quando se é o primeiro a fazer algo ou não se tem alguém próximo que fez algo semelhante para consultar. E tudo é conquista quando se entende que o medo e o risco andam de mãos dadas, e que o movimento, mesmo que imperfeito, é sempre melhor do que a paralisia.
A estaca zero é uma invenção cruel. Ela tenta convencer você de que o recomeço é sempre do ponto inicial. Este, porém, já nem existe mais. Não tem como desaprender o que foi vivido, “desver” o que foi visto e desentender o que já foi sentido. Você pode até mudar de rota, mas o mapa nunca mais é o mesmo.
Mesmo que ache que perdeu tudo, que está “recomeçando do zero”, a verdade é que o seu zero hoje é muito diferente do zero de antes. Carrega camadas de tentativas, aprendizados, tombos, ressurgimentos. Por isso, quando algo der errado — e vai dar, porque a vida é feita de curvas — não se deixe assombrar pela ideia da estaca zero. Ela é só um fantasma mal-intencionado tentando convencer você de que o jogo acabou. Mas nunca acaba. Muda, se transforma, recomeça em outro cenário, com outras cartas, com outro você.
Da próxima vez que o medo soprar, e o castelinho balançar, lembre-se: o risco faz parte do jogo. E você, que já sobreviveu a tantos ventos, não está voltando pra estaca zero, está apenas jogando de outro nível. Afinal, quem aprende a se reinventar nunca recomeça do início. E, convenhamos, o jogo fica bem mais interessante quando paramos de jogar para não perder e, mesmo com os altos e baixos, entendemos que jogar e se arriscar é viver.
Fonte original: abrir
 
                 
                 
                 
                 
                 
                 
                