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Setor privado turbinam projetos de restauração florestal, que geram mais que créditos de carbono

09/10/2025 07:01 O Globo - Rio/Política RJ

O mercado brasileiro de restauração florestal ainda é modesto, mas já é um dos segmentos mais relevantes da chamada bioeconomia, principalmente pelo seu grande potencial. Mira em créditos de carbono, mas também mobiliza uma série de serviços ambientais como motores econômicos para ampliar escala e captar recursos. E um fator tem funcionado como um catalisador desse crescimento: a atração de cada vez mais investimentos de grandes corporações.
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Esse movimento aparece em novos empreendimentos, como o Projeto Muçununga, o primeiro da Biomas, empresa de restauração ecológica em larga escala que tem como acionistas Itaú, Marfrig, Rabobank, Santander, Suzano e Vale.
O nome vem da muçununga, um ecossistema de vegetação rala em solo arenoso que contrasta com a floresta de tabuleiro típica da Mata Atlântica. Esse bioma brasileiro — que se espalha ao longo da costa brasileira envolvendo 17 estados — é o que acumula mais experiências com reflorestamento no país e tem muito a ensinar aos projetos que começam a se multiplicar agora na Amazônia.
Riqueza natural
As muçunungas são ilhas que lembram restingas, mas ocorrem fora da faixa litorânea, em regiões de baixa altitude do extremo sul da Bahia e do litoral norte do Espírito Santo. A aparência é modesta, porém a muçununga é muito rica em biodiversidade. Abriga várias espécies da fauna e da flora, apesar de pouco conhecida.
Os primeiros plantios do projeto começaram em julho, com a intenção de reflorestar 1,2 mil hectares de Mata Atlântica em áreas da Veracel Celulose, no sul da Bahia. O investimento inicial é de R$ 55 milhões, como parte de um plano para atingir uma meta mais ampla: restaurar 2 milhões de hectares de áreas degradadas ou improdutivas nos próximos 20 anos.
Espaço de transição
A região foi escolhida por funcionar como um espaço de conectividade entre fragmentos florestais e plantios de eucalipto (matéria-prima da indústria de celulose) no corredor central da Mata Atlântica, reconhecida como área prioritária para a conservação da biodiversidade. Segundo Luiz Tápia, diretor de Sustentabilidade da Veracel, as terras definidas para serem restauradas pelo projeto somam mais de 500 blocos, entre 1 e 25 hectares, distribuídos por oito municípios.
— São áreas que não têm aptidão para o plantio de eucaliptos, por questões de relevo e devido aos solos arenosos, mas que têm um potencial para o restauro estratégico, visando uma conexão entre remanescentes de florestas — explica.
O contrato entre Biomas e Veracel tem duração de 100 anos — as espécies nativas plantadas demoram ao menos três décadas para crescer — e foi desenhado na esteira de oportunidades que abre a restauração atrelada à geração de créditos de carbono. O potencial estimado é de cerca de 500 mil créditos em 40 anos.
A perspectiva de ganhos com o mercado de carbono tem sido um forte incentivo para empresas anunciarem projetos robustos como esse, mas não é o único vetor. Há uma explosão recente de iniciativas de restauração florestal, evidenciando uma aposta de longo prazo em soluções baseadas na natureza e na valoração de serviços ecossistêmicos.
Em paralelo, o setor privado busca alinhamento à meta brasileira de restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, no âmbito do Acordo de Paris, e tem recorrido a linhas de crédito incentivadas voltadas à restauração, inclusive do BNDES. É o caso da Symbiosis, que conseguiu em maio um empréstimo R$ 77 milhões do banco para investir no plantio de árvores nativas de madeira nobre na Bahia, uma operação inédita no país que agora abre caminho para outras.
— Hoje, vemos investidores tomando esse risco e buscando sair na frente com a aposta em novos negócios alinhados com as metas climáticas e de proteção à biodiversidade. Carbono, madeira e outros produtos florestais também podem contribuir com uma rentabilidade futura — diz Luís Fernando Guedes Pinto, diretor executivo da ONG SOS Mata Atlântica.
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Ele ressalta, contudo, que a restauração de grandes áreas é cara. O aporte necessário é de cerca de R$ 50 mil por hectare, e projetos ainda esbarram no gargalo de terras disponíveis para plantio de florestas:
— Encontrar donos de terras dispostos a ceder áreas, mesmo que sejam de preservação permanente ou reserva legal, é a maior dificuldade.
Viveiro com 700 mil mudas
Há três décadas atuando na área, a SOS é pioneira em parcerias com grandes empresas, como Bradesco, Heineken, Ypê e Nestlé. Em 30 anos, foram 23 mil hectares plantados de Mata Atlântica, o equivalente a 42 milhões de árvores, com média anual de 300 hectares por ano. As empresas entram nos projetos com motivaç

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