Logo
Tudo que você precisa saber sobre as eleições em um só lugar

Mariana Ximenes fala sobre conexão com a cultura cearense, força feminina e ancestralidade nordestina

10/10/2025 06:31 O Globo - Rio/Política RJ

Homenageada no 35º Cine Ceará — Festival Ibero-americano de Cinema, Mariana Ximenes atravessou a tela e voltou às origens. No último dia 21 de setembro, a atriz subiu ao palco do Cineteatro São Luiz, em Fortaleza, para receber o Troféu Eusélio Oliveira, entregue pelo cineasta cearense Halder Gomes. Mais do que um reconhecimento artístico, a cerimônia marcou um reencontro íntimo com sua ancestralidade nordestina, e com a menina que, entre brincadeiras e siriguelas no quintal da bisavó, começava a sonhar com a atuação.
Vanessa Giácomo fala sobre representar o Brasil em premiação portuguesa e papel das mulheres na arte: 'Quando uma se ergue, todas ganham'
Lore Improta lança série e reforça a importância da rede de apoio na maternidade: 'Dividir responsabilidades é fundamental'
— Na verdade esse sangue nordestino corre em minhas veias desde meu nascimento — afirma Mariana, que nasceu e cresceu em São Paulo, mas guarda no Ceará uma parte essencial da sua história: — Sempre passei minhas férias de verão no Ceará, minha infância teve muita siriguela, baião de dois, caranguejo, dunas… Toda essa convivência constituiu a mulher que eu sou e a atriz que me tornei.
A cerimônia foi um mergulho profundo em memórias e afetos. Emocionada, ela conta que a homenagem foi também uma pausa para olhar o caminho já trilhado, e o que ainda está por vir.
— Receber essa homenagem no Ceará me proporcionou um mergulho em toda minha trajetória, desde aquela criança que sonhava em ser atriz, que brincava de fazer teatro para os familiares, até repassar todos os filmes que fiz, os cineastas com quem tive o privilégio de filmar, os aprendizados, os lindos encontros. E tudo isso na terra de minha mãe, preenchida dos abraços dos meus familiares e conterrâneos. Senti uma energia tremenda — conta.
Mariana Ximenes se emociona ao ser homenageada no Cine Ceará e reencontra raízes no Nordeste
Divulgação @nicolasgondim
Mariana cresceu ouvindo histórias da mãe, que deixou Sobral aos sete anos para viver com tios no Rio de Janeiro, após uma longa viagem de pau de arara organizada pelo avô. — Minha avó teve 15 filhos, e minha mãe foi criada longe dos pais, mas o laço com a família foi mantido. Todo ano eu passava as férias de verão no Ceará com meus tios e muitos primos, tenho mais de 30! — revela.
Essas mulheres, a bisavó Chiquinha, a avó Maria do Carmo e a própria mãe, são para Mariana fonte de força e inspiração.
— A minha doce bisavó, a longeva Chiquinha, que viveu até os 96 anos em Groaíras, eu tive a oportunidade de conhecer. Na casa dela tinha um pé de siriguela, e eu guardo essa memória afetiva: meus primos, eu e meu irmão subíamos nas árvores para comer as frutinhas — detalha.
A artista também recorda a avó, mulher de saberes ancestrais e resistência: — Minha avó Maria do Carmo, que pariu 15 crianças no sítio, bordava, fazia crochê, tapetinhos e tinha muita sabedoria com ervas para curar qualquer doença — relata.
E completa, emocionada: — Minha mãe, destemida, escolheu dar um destino diferente para sua vida e mudou de cidade aos 7 anos. Depois, já adulta, mudou de novo, casou e foi para São Paulo. Quero ter essa força realizadora, coragem para enfrentar as mudanças, intuição para ter boas escolhas, garra para vencer as dificuldades, quero ter essa inteireza de viver.
Mariana Ximenes se reconecta com suas raízes cearenses e fala sobre pertencimento e criação artística
Divulgação @nicolasgondim
A conexão com a cultura nordestina, no entanto, vai além da memória. Para Mariana, vestir estilistas cearenses durante o festival foi um gesto de pertencimento e celebração da potência criativa local.
— É exaltar a força criativa do Ceará, é buscar conhecer o que está acontecendo nesse momento lá, tanto na moda como em várias áreas: no cinema, nas artes visuais, na literatura, na gastronomia, na música.
Ela mergulhou nesse universo de forma ativa: visitou a Pinacoteca do Ceará, descobriu artistas como Grauben e Chico Silva, conheceu o trabalho social da EDISCA, conectou-se com a escritora Socorro Acioli, de quem é fã confessa, e se encantou com o som de Matuê. Para o ensaio de moda que acompanhou a homenagem, escolheu peças das marcas Marina Bitu e Catarina Mina, que desenvolve trabalho artesanal com mulheres da região.
— Poder estar antenada com essas potências criativas é uma forma de me aprofundar na cultura local e experienciar melhor — diz.
Mariana Ximenes revisita raízes nordestinas e fala sobre força feminina
Divulgação @nicolasgondim
A atriz fez questão de se aproximar de cineastas e produtoras da região. — Fiz uma pesquisa das cineastas, marquei encontros, porque acredito que cultura e educação transformam uma sociedade, e todas essas manifestações são a expressão da identidade cultural de um lugar.
No palco do Cine Ceará, Mariana não apenas foi homenageada: ela devolveu o gesto com presença, escuta e afeto. A atriz que conquistou o país agora resgata as marcas deixadas por sua própria história, e por aquelas que vieram antes dela.
— Receb

Fonte original: abrir