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Insegurança alimentar também afeta quem está trabalhando

10/10/2025 13:01 O Globo - Rio/Política RJ

Os números de insegurança alimentar no Brasil não se restringem à fatia da população que está desempregada ou fora da força de trabalho, mas atingem também boa parte dos lares chefiados por trabalhadores.
Do total de domicílios cujo responsável principal estava trabalhando em 2024, 20,75% sofriam algum tipo de incerteza quanto ao acesso a alimentos, seja com preocupações sobre o futuro ou mesmo com episódios presentes de fome. São 9,9 milhões de lares nesta situação.
É o que mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) do IBGE, cujos dados sobre segurança alimentar no país foram divulgados nesta sexta-feira.
O tipo de ocupação com maiores níveis de insegurança alimentar é o de empregados domésticos. Entre o total de famílias chefiadas por esses trabalhadores, mais de um terço (37,74%) convive com algum tipo de restrição à comida.
Considerando que mulheres negras são 69,9% no serviço doméstico, segundo dados do Ipea divulgados em março deste ano, esses números podem se relacionar com os indicadores de restrição alimentar ligados à raça e ao gênero. Entre os domicílios com algum tipo de insegurança alimentar, 70,4% dos domicílios tinham pessoas negras como seus responsáveis, entre eles 54,7% de pardos e 15,7% de pretos.
As famílias chefiadas por mulheres também estão entre as mais atingidas pela fome, já que três em cada cinco (59,9%) dos lares com insegurança alimentar tinham elas como responsáveis.
Outras categorias de ocupação dos responsáveis pelos lares mais afetados pela insegurança alimentar são as de profissionais do setor privado sem carteira de trabalho (29,44%) e trabalhadores por conta própria (23,62%).
Acesso à alimentação está ligado à renda
A explicação para as categorias de trabalho listadas acima serem as mais afetadas pela fome pode estar relacionada ao fato de que a insegurança alimentar no Brasil é diretamente ligada à renda, e esses grupos tendem a alcançar rendimentos médios mais baixos.
Entre os lares que passavam por insegurança alimentar grave, em 71,9% os responsáveis ganhavam até um salário mínimo. Já considerando aqueles que passavam por qualquer tipo de insegurança alimentar, dois em cada três (66,1%) domicílios tinham renda de até um salário per capita.
— Quanto menor o rendimento domiciliar per capita, as pessoas estão mais sujeitas a estarem em algum tipo de privação alimentar — explica Maria Lucia Vieira, gerente da pesquisa.
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Por outro lado, grupos com maiores rendas, possuem maiores taxas de segurança alimentar. E é por isso que, de acordo com a pesquisadora, o acesso aos alimentos também está relacionado aos índices de desemprego.
— Em momentos que tem uma redução dos empregos, não tem jeito de não reduzir a alimentação. Tem que reduzir os custos ou para comer ou de outras contas para não reduzir a alimentação. E a gente veio observando nesses últimos 2 anos, comparando 2023 com 2024, que, de fato, a taxa de desocupação também vem reduzindo, melhorando o rendimento das pessoas. Isso tem um reflexo direto no que as pessoas conseguem adquirir de alimentos.
Isso pode ajudar a explicar o fato de que lares chefiados por empregadores, servidores públicos e trabalhadores com carteira assinada são os com maiores índices de segurança alimentar, já que geralmente possuem rendas mais elevadas.
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Além do aumento de renda via ocupação, a gerente da pesquisa também menciona os programas sociais, tanto os de transferência de renda, quanto os diretamente relacionados à alimentação, como os de merenda escolar, que são fatores importantes para reduzir a insegurança alimentar nas famílias.
— O combate à fome era uma das propostas do governo federal, de tirar o Brasil do mapa da pobreza. E ele vem trabalhando nesse sentido, de políticas para essa redução de domicílios em algum grau de insegurança alimentar.
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Entenda os critérios de segurança alimentar:
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC), do IBGE, classificam os lares de acordo com a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia). Nela, há quatro critérios que definem a situação dos brasileiros em um domicílio: segurança alimentar; insegurança alimentar leve; moderada ou grave. Veja abaixo o que caracteriza cada um:
Segurança alimentar: A família/domicílio tem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais.
Insegurança alimentar leve: Preocupação ou incerteza quanto acesso aos alimentos no futuro; qualidade inadequada dos alimentos resultante de estratégias que visam não comprometer a quantidade de alimentos.
Insegurança alimentar moderada: Redução quantitativa de alimentos entre os adultos e/ou ruptu

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