
Justiça dos EUA rejeita processo de Drake contra Kendrick Lamar por suposta difamação em 'Not like us'
Uma juíza federal em Nova York rejeitou, nesta quinta-feira, um processo por difamação e assédio movido em janeiro por Aubrey Drake Graham, o astro canadense conhecido como Drake, chamando “Not Like Us”, de Kendrick Lamar, de “golpe metafórico final” em “talvez a mais infame batalha de rap da história do gênero”. Segundo a Justiça americana, a letra não constitui uma “opinião passível de ação judicial”, ou seja, não pode ser considerada difamatória.
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“A questão neste caso é se ‘Not Like Us’ pode ser razoavelmente entendida como uma afirmação factual de que Drake é pedófilo ou de que ele manteve relações sexuais com menores de idade”, escreveu a juíza Jeannette A. Vargas. “À luz do contexto geral em que as declarações na gravação foram feitas, o tribunal conclui que não.”
Lançada originalmente em maio de 2024, “Not Like Us” tornou-se a faixa decisiva em uma rápida sequência de ataques trocados entre os rappers, que lançaram oito músicas se alvejando mutuamente com o que o tribunal chamou de “retórica cada vez mais acalorada, acusações carregadas e imagética violenta”.
A canção, que acusava Drake de gostar de garotas jovens, acabou vencendo cinco prêmios Grammy — incluindo canção e gravação do ano — e foi o ponto central da performance de Kendrick Lamar no intervalo do Super Bowl, em fevereiro.
O processo de Drake acusava a Universal Music Group (UMG), gravadora por trás de ambos os artistas, de priorizar “a ganância corporativa em detrimento da segurança e do bem-estar de seus artistas”, argumentando que a faixa foi “intencionalmente criada para transmitir a alegação específica, inequívoca e falsa de que Drake é um criminoso pedófilo, e para sugerir que o público deveria recorrer à justiça com as próprias mãos em resposta.”
A ação foi movida no Tribunal Distrital dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York por Michael J. Gottlieb, sócio do escritório Willkie Farr & Gallagher, que anteriormente representou o dono da pizzaria de Washington visada pelos teóricos da conspiração do “Pizzagate” e as funcionárias eleitorais falsamente acusadas por Rudy Giuliani de participarem de um plano para fraudar as eleições presidenciais de 2020.
O processo citava o fato de que a arte de capa de “Not Like Us” trazia uma foto da mansão de Drake em Toronto marcada com pontos representando a presença de criminosos sexuais registrados, além de mencionar um tiroteio ocorrido na residência dias após o lançamento da música, que feriu um segurança — chamando o episódio de “o equivalente de 2024 ao ‘Pizzagate’.” A ação também alegava que a UMG teria sido incentivada a desvalorizar a marca de Drake porque seu contrato estava prestes a ser renegociado.
Um porta-voz de Drake disse em comunicado, na quinta-feira, que o cantor planeja recorrer da decisão.
Após o processo ser movido, a UMG respondeu que Drake “perdeu uma batalha de rap que ele mesmo provocou e da qual participou voluntariamente”, e depois “processou sua própria gravadora em uma tentativa equivocada de curar suas feridas.”
Em nota divulgada também na quinta-feira, a gravadora declarou: “Desde o início, este processo foi um insulto a todos os artistas e à liberdade de expressão criativa, e nunca deveria ter vindo à tona. Estamos satisfeitos com a decisão do tribunal e ansiosos para continuar promovendo com sucesso a música de Drake e investindo em sua carreira.”
Na decisão de Vargas, repleta de letras explícitas e específicas da disputa, a juíza concluiu que o contexto da música como parte do conflito era crucial: “O ouvinte médio não tem a impressão de que uma faixa de ‘dis’ é o resultado de uma investigação ponderada ou imparcial, transmitindo ao público conteúdo verificado e factual”, escreveu.
A magistrada observou que, em músicas anteriores, Drake — além de insinuar que Lamar havia agredido fisicamente sua parceira e não era o pai biológico de um de seus filhos — havia “desafiado Lamar a fazer as acusações de pedofilia em questão.”
“A semelhança na formulação sugere fortemente que essa linha é uma referência direta às letras de Drake na música anterior”, escreveu a juíza. “As músicas lançadas durante essa batalha de rap estão em diálogo entre si.” Um ouvinte razoável, acrescentou ela, “concluiria que Lamar está apenas rimando insultos hiperbólicos.”
Ambos os rappers seguem em alta após a disputa. Lamar lançou o álbum GNX, que alcançou o topo das paradas e deu origem a uma turnê internacional de estádios com SZA. Já Some Sexy Songs 4 U, de Drake — um projeto colaborativo com o cantor e produtor PartyNextDoor — também estreou no topo da Billboard. O artista vem provocando o lançamento de um novo álbum, intitulado Iceman, que deve sair parcialmente pela Republic Records, subsidiária da UMG e parceira de longa data de Drake.
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