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Da elite ao povo: María Corina Machado é símbolo da resistência venezuelana, mas enfrenta críticas internas

10/10/2025 16:21 O Globo - Rio/Política RJ

Nos últimos 25 anos, desde a chegada do chavismo ao poder na Venezuela, a líder opositora María Corina Machado se destacou como representante do que muitos chamam de ala radical ou dura da heterogênea e complexa oposição venezuelana. Nesse longo período, María Corina, integrante da elite econômica e social de seu país, demonstrou ter coragem e uma ampla rede de contatos ao redor do mundo, essencial para suas lutas contra um regime autoritário, que, com o passar do tempo, tornou-se uma ditadura com poucas nuances. O exílio forçado de outras lideranças opositoras e a perseguição feroz do governo contra quem permaneceu no país — e, em muitos casos, terminou preso — colocaram María Corina numa posição de destaque, que alcançou seu auge nas primárias opositoras de outubro de 2023 — não reconhecidas pelo chavismo —, e, como fruto da conquista de mais de 90% dos votos, nas presidenciais de 28 de julho de 2024.
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O governo Maduro impediu judicialmente que a líder opositora pudesse ser candidata, mas María Corina liderou a campanha do diplomata aposentado Edmundo González Urrutia nas ruas de todo o país, e é considerada a artífice de um resultado histórico para a oposição venezuelana, que, segundo apontam observadores internacionais como o Centro Carter, obteve uma esmagadora vitória nas urnas.
O chavismo, como era esperado, não reconheceu o triunfo opositor, defendeu a segunda reeleição de Maduro, e o pleito deu início a uma nova onda de prisões, obrigando o próprio González a se exilar na Espanha. Seu genro foi preso no ano passado, dentre tantos outros opositores.
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Na campanha de 2024 surgiu uma María Corina diferente, sobretudo, por uma notável conexão emocional com a sociedade venezuelana que, até então, era um obstáculo que a agora vencedora do Nobel da Paz não conseguira superar. Independentemente da existência ou não de uma estratégia de coaching para aproximar a líder opositora do povo — tema sobre o qual há versões contraditórias na Venezuela —, o fato é que María Corina, em palavras de um ex-colaborador que rumou para o exílio, “deixou de ser vista por muitos como uma dondoca de Caracas”.
No passado, quando viajava pelo interior a deputada cassada — a mais votada do país nas Legislativas de 2010 — já recebia terços de alguns seguidores. A religião é genuinamente importante para María Corina, num país no qual entre 60% e 70% das pessoas dizem ser católicos, mas em outras épocas, frisou a mesma fonte, “havia uma barreira emocional entre ela e a população, sobretudo as pessoas mais humildes. Essa barreira se quebrou”.
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A María Corina do ano passado andava com vários terços pendurados no pescoço, roupas simples, em geral apenas calça jeans e uma camiseta, segurava bebês no colo e apelava ao papel de mãe, buscando ser exatamente isso, uma mãe para todos os venezuelanos.
O tom raivoso de seus debates com o líder bolivariano Hugo Chávez, e também com seu sucessor, Nicolás Maduro, foi substituído por um mais suave. O conteúdo, porém, continua radical: María Corina defende abertamente uma intervenção dos Estados Unidos em seu país, atitude que a diferencia de outros opositores como o ex-candidato presidencial Henrique Capriles, acusado de traidor e cúmplice da ditadura pela Iíder opositora, que em 2014 defendeu o que foi chamado de "A Saída", uma campanha para promover a derrubada de Maduro.
Segundo fontes em Caracas, há vários meses a agora vencedora do Nobel da Paz está escondida na residência do embaixador americano na capital venezuelana. María Corina conseguiu tirar toda a sua família do país (seu marido, três filhos estudam e trabalham fora, e sua mãe, uma das últimas em sair) e ficou apenas com alguns colaboradores.
Alguns foram presos, outros tiveram de exilar-se na embaixada da Argentina e, numa operação nunca revelada em detalhes, conseguiram abandonar a Venezuela este ano, e estão nos EUA. Segundo as fontes consultadas, desde os primeiros meses deste ano, María Corina está isolada numa residência diplomática que estava vazia — já que os EUA não tem embaixador na Venezuela —, fazendo uma campanha forte em redes sociais sobre o que, segundo ela, “será a liberação da Venezuela”. Não há manifestações nas ruas de um país que após as presidenciais de 2024 voltou a ser cenário de uma repressão brutal contra críticos e opositores, e a popularidade de María Corina, segundo pesquisas recentes, caiu pela desmobilização da oposição.
Em sua imagem pública, as formas mudaram, na busca de conquistar o apoio de setores moderados da sociedade venezuelana. Internamente, seu relacionamento com outros dirigentes da oposição e com seus próprios aliados continua sendo tenso. Até mesmo sua relação com Edmundo González, apesar das aparências, é difícil

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