
Lula amplia vantagem sobre Tarcísio, que se movimenta para criar obstáculos ao governo
A derrubada na quarta-feira da medida provisória (MP) editada como alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), impedindo um incremento de arrecadação estimado em R$ 17 bilhões para o governo Lula, escalou a queda de braço entre o presidente e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a um ano das eleições de 2026. Cotados para um possível embate nas urnas, Lula e Tarcísio usaram o episódio para delinear discursos de campanha, em um momento em que pesquisas vêm apontando uma melhora no desempenho do petista em um hipotético segundo turno contra o governador paulista.
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Pesquisa Genial/Quaest divulgada na quinta-feira apontou vantagem de 12 pontos de Lula para Tarcísio em um eventual segundo turno em 2026. É a maior distância numérica entre os dois, segundo o instituto, desde maio, quando ambos apareciam empatados com 41% das intenções de voto.
Diante da articulação de Tarcísio junto a lideranças do Centrão contra a MP, que poderia dar fôlego ao Planalto no ano eleitoral, Lula afirmou na quinta-feira que os opositores “derrotaram o povo brasileiro”, e não o governo, ao trabalharem para que o texto caducasse. Em reação, Tarcísio cobrou o governo federal a “parar de inventar culpados” e a “cortar impostos”.
Embora o governador de São Paulo tenha negado atuação contra a MP, deputados ouvidos reservadamente pelo GLOBO admitiram ter recebido telefonemas de Tarcísio com orientações para derrubar o texto. Segundo líderes partidários envolvidos nas negociações, o governador manteve contato com os presidentes do PP, Ciro Nogueira, do União Brasil, Antonio Rueda, e do Republicanos, Marcos Pereira, para garantir que as respectivas bancadas ficassem contra a MP.
Segundo interlocutores, Tarcísio já havia ficado insatisfeito com o fato de esses partidos e do próprio PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, não terem brecado outra medida provisória, que instituiu gratuidade na conta de luz para famílias de baixa renda. O texto, aprovado pelo Congresso em setembro e sancionado na quinta-feira por Lula, acabou gerando uma agenda positiva para o governo em meio à derrota da outra MP, que ampliava a tributação de fintechs.
Batalha retórica
Na quinta-feira , em entrevista a uma rádio na Bahia, Lula citou a isenção na conta de luz como uma vitória de sua gestão, e criticou adversários por barrarem o texto que tributava setores com alta arrecadação. Além das fintechs, o texto original da MP pretendia ampliar a taxação sobre bets, mas o trecho foi retirado pela base do governo na tentativa de evitar uma derrota no plenário, que acabou mesmo assim acontecendo.
Na entrevista, Lula também alegou que “se o povo não tomar cuidado” pode haver reveses em programas sociais em um governo de oposição, e projetou concorrer em 2026:
— Se eu tiver do jeito que estou, serei candidato para ganhar as eleições. Os nossos possíveis adversários devem estar mais preocupados. Eles sabem que vai ser difícil derrotar a gente na eleição — disse o presidente à rádio Piatã.
Tarcísio, por sua vez, afirmou que o governo federal deveria “ter vergonha” e trabalhar para “cortas gastos” em vez de aumentar a tributação sobre determinados setores.
“Ficar jogando uns contra os outros de forma absurda e querer que a população apoie aumento de impostos (...) ninguém, nem eu, nem o país vai apoiar. Já chega. Vamos parar de inventar culpados”, disse o governador, em um vídeo publicado nas redes sociais.
Sob reserva, um interlocutor do governador relatou que ele, em telefonemas, chamou a MP de “estranha” e que uma aprovação “seria ruim para a eleição de todo mundo e, principalmente, para o país”. Já o deputado federal Fernando Marangoni (União-SP), também aliado de Tarcísio, alegou ter votado contra a MP na quarta-feira porque a tentativa original do governo de aumentar a arrecadação, através do aumento de IOF, já tinha sido validada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Após a derrubada da MP, na quarta-feira, o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), elogiou Tarcísio por seu “empenho” no assunto. Na quinta-feira , Sóstenes afirmou ter recebido um telefonema de “um líder de partido de centro” com sugestões para dificultar a tramitação da MP. Procurado pelo GLOBO, ele negou que estivesse se referindo a Tarcísio.
No plenário, na quarta-feira, o texto foi retirado de pauta pela Câmara por 251 votos a 193. Como era o último dia para análise da MP antes que ela estourasse o prazo, a retirada, na prática, derrubou o texto. Além do PL, Republicanos, PP e União Brasil ficaram majoritariamente contra a MP. Até mesmo MDB e PSD, partidos aliados do governo Lula, mas também da gestão de Tarcísio, se dividiram na votação; cerca de metade das respectivas bancadas votou contra a medida provisória.
Vantagem nos cenários
Na pesquisa Genial/Qua
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