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Restaurar florestas é um ramo promissor da bioeconomia, mas o país ainda está longe de cumprir meta

09/10/2025 03:01 O Globo - Rio/Política RJ

Em 2015, o Brasil assinou o Acordo de Paris com o compromisso de restaurar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030. Dez anos depois, o ritmo e a área reflorestada ainda estão longe do ideal, mas começam a avançar. A atração de mais empresas especializadas pode ajudar o país a apertar o passo.
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Segundo o Observatório da Restauração e Reflorestamento da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, cerca de 150 mil hectares foram incorporados em projetos de restauração florestal entre 2022 e 2024, uma área equivalente à da cidade de São Paulo. O volume é 90% mais que o registrado em 2021, mas ainda é apenas 1,25% do objetivo.
Laura Antoniazzi, colíder da Força-Tarefa de Restauração da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e pesquisadora da Agroicone, diz que o país passa por um momento de crescimento dos incentivos para acelerar ações de restauração como se vê em outras partes do mundo. No entanto, faltam prestadores desse serviço. A atividade ainda pode levantar dúvidas sobre a rentabilidade. Esse resultado ainda depende das condições e do produto escolhido e de como ele está inserido, diz a pesquisadora. Segundo ela, o financiamento climático e a regulação do mercado de carbono podem fazer a diferença:
— Recursos, por exemplo, remunerando por crédito de carbono podem fazer a diferença entre a atividade ser rentável ou não ser, fechar ou não fechar a conta — afirma.
Com 119 mil hectares reflorestados, a Mata Atlântica é o bioma com a maior área restaurada. Na sequência, estão Cerrado, Amazônia, Caatinga e Pampa. São Paulo, Minas e Espírito Santo lideram entre os estados. Aimorés, cidade mineira que abriga o Instituto Terra, criado pela arquiteta Lélia Wanick e seu marido, o fotógrafo Sebastião Salgado, morto neste ano, é o município com maior área restaurada.
Cacau é carro-chefe
A regulamentação da lei que criou o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), em 2024, é vista como uma chance de alavancar o setor, que tem potencial de gerar mais de R$ 770 bilhões em receitas líquidas, de acordo com estudo do Instituto Escolhas.
O levantamento aponta que atingir a meta de restaurar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030 resultará em ganhos ambientais e econômicos, como a remoção de 4,3 bilhões de toneladas de CO2 da atmosfera e a produção de 1 bilhão de metros cúbicos de madeira de reflorestamento para comercialização. Parte do setor privado já percebeu o potencial de investimento, e várias cadeias despontaram.
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— As empresas maiores de restauração têm interesse na madeira, que é um produto de longo prazo, mas há muitos outros produtos florestais não madeireiros — afirma Laura Antoniazzi.
O cacau, por exemplo, é considerado o carro-chefe do setor, com mercado consolidado. Açaí e café produzidos em sistemas agroflorestais também atraem iniciativas. Já as cadeias de sementes nativas e de castanhas ainda precisam se consolidar. A castanha-do-Brasil, ou castanha-do-Pará, símbolo do país conhecido e consumido planeta afora, por exemplo, tem 75% da produção mundial hoje vindos da Bolívia, de acordo com o Anuário Estatístico do Conselho Internacional de Nozes e Frutas Secas, entidade que reúne produtores, exportadores, importadores, distribuidores e pesquisadores ligados ao setor.
Se escalar processos de restauração é fundamental, frear o desmatamento é ainda mais, observa Fábio Scarano, engenheiro florestal, professor da UFRJ e curador do Museu do Amanhã, no Centro do Rio:
— O maior problema não é o país ter restaurado só 150 mil hectares em três anos. Crítico é ter desmatado mais de 3 milhões de hectares entre 2023 e 2024. Se considerarmos que 90% desse desmatamento é ilegal, me parece bem menos prioritário investir em restauração que em conservação.
Embrapa testou
Ele lembra que soluções como a integração lavoura-pecuária-floresta já foram desenvolvidas pela Embrapa e aplicadas em várias regiões.
— O país tem cerca de 70 milhões de hectares de área produtiva de agropecuária e outros 60 milhões de pecuária improdutiva, com menos de uma cabeça de gado por hectare. Se tornarmos o improdutivo produtivo, poderíamos dobrar nossa capacidade de produção de alimento, fibra, biomassa e até restaurar, sem cortar uma única árvore sequer.
O governo federal aposta no incentivo aos processos de reflorestamento. O Ministério do Meio Ambiente lançou neste ano o Planaveg 2025-2028, segunda versão do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa. A pasta explica que a atualização reorganizou a política em quatro estratégias: inteligência espacial e monitoramento, financiamento,

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