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'Disco Elysium': como um grupo de socialistas criou um jogo de sucesso, que depois os separou

10/10/2025 03:01 O Globo - Rio/Política RJ

O cerne de "Disco Elysium" é um misterioso assassinato. Você começa como um detetive desgrenhado em meio a uma ressaca terrível. Suas roupas — e sua memória — desapareceram. Não muito longe do seu quarto de hotel destruído, alguém está morto.
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E, no mundo real, uma batalha pelo legado do videogame levou os fãs a uma busca ainda mais misteriosa.
"Disco Elysium" é uma história de detetive com a alma de um poeta torturado. Depois que Harry Du Bois acorda no chão, ele precisa dar sentido a uma investigação policial incômoda e aos destroços de sua vida pessoal. A prosa literária e a seriedade política do jogo repercutiram em um público ávido por narrativas maduras. A revista PC Gamer classifica o jogo de 2019 como o segundo melhor título para computador de todos os tempos.
Criar algo tão radical exigiu uma equipe de forasteiros da indústria: um grupo de punks socialistas e artistas da Estônia que nunca havia feito um videogame. Os criadores não tinham ideia de que seu jogo se tornaria um sucesso meteórico e a exportação cultural mais importante da Estônia em anos. Eles também não poderiam prever como tudo iria desmoronar em breve.
Mais de 5 milhões de cópias de "Disco Elysium" foram vendidas, um número enorme para um estúdio iniciante. Mas, apesar da aclamação da crítica e do público, uma sequência foi cancelada. Após uma série de processos judiciais, agora cinco estúdios rivais estão trabalhando em jogos que podem ser vistos como o sucessor espiritual de "Disco Elysium". É uma batalha sobre quem deve lucrar com a criação do elogiado jogo e continuar sua história.
— Depois que foi concluído e o sucesso chegou, toda essa animosidade e pressão que estavam contidas tiveram a chance de vir à tona — disse Argo Tuulik, um roteirista de "Disco Elysium" que agora dirige um estúdio concorrente. — Claro que é triste que tenha fracassado. Mas a maneira como comecei a pensar sobre isso nos últimos anos é que é um milagre que a equipe tenha permanecido unida por tanto tempo.
Imagem do jogo 'Disco Elysium'
Divulgação
Há uma ironia amarga que os temas principais de Disco Elysium — classe, trabalho, capital — pairem sobre a fragmentação de seu próprio estúdio.
— Era um grupo de amigos que nunca tinha feito um jogo profissionalmente, que não conseguiria financiamento de canais legítimos e, por isso, teve que fazer enormes concessões para lançá-lo, como contratar um criminoso financeiro ou vender mais ações da empresa — disse Dora Klindzic, que trabalhou no estúdio por dois anos após o lançamento de Disco Elysium. — Então, todas as decisões ruins começaram a se acumular quando o jogo foi lançado.
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A Associação Cultural ZA/UM era um coletivo de escritores e artistas de esquerda que se reuniam na capital da Estônia, Tallinn, a partir do final dos anos 2000. Alguns jogavam RPGs de mesa ambientados em um universo criado por eles, conhecido como Elysium, um mundo steampunk de decadência urbana, turbulência política e neve cortante.
O mestre dos jogos era Robert Kurvitz, que ganhou reputação por sua imaginação visionária.
— Robert adorava histórias, então ele pensou em devolver histórias ao mundo — diz Martin Luiga, cofundador da associação cultural que jogava aqueles primeiros jogos de mesa e depois os editou para "Disco Elysium".
Com seus amigos, Kurvitz, agora com 41 anos, criou um mundo tão rico e complexo que decidiu transformá-lo em um romance, “Ar sagrado e terrível”, que publicou com a ajuda de Kaur Kender, um enfant terrible da cena literária da Estônia.
Foi ideia de Kender transformar o mundo de Elysium em um videogame.
— Lembro de abrir a porta para ele entrar — diz Aleksander Rostov, diretor de arte de "Disco Elysium", sobre suas primeiras conversas com Kurvitz. — Ele me olhou fixamente nos olhos e disse: "Meu amigo, fracassamos em tantas coisas. Vamos fracassar também em fazer um videogame.'"
Um ciclo de produção que duraria cinco anos começou em 2015 em uma ocupação no bairro da Cidade Velha de Tallinn, com vazamentos no telhado e eletricidade intermitente.
Como colaborador mais familiarizado com a economia da cultura, Kender, agora com 54 anos, foi convidado a captar recursos de investidores. Ele financiou pessoalmente o primeiro ano do novo estúdio, também chamado ZA/UM.
Uma banda desorganizada de punks artísticos socialistas havia se transformado em um negócio convencional com ações, capital de risco e dezenas de funcionários. Margus Linnamae, que fez fortuna com produtos farmacêuticos e era dono de um dos maiores jornais da Estônia, tornou-se o principal investidor de "Disco Elysium".
Em 2017 e 2018, a maior parte da equipe se mudou para a Grã-Bretanha para se aproximar de uma indústria de jogos já consolidada. "Disco Elysium" foi lançado em 15 de ou

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