
Dez rodadas para desfrutar
O futebol brasileiro, e mais especificamente o bom debate sobre o jogo, está sequestrado pela nociva mistura entre o baixo nível das arbitragens e, claro, o ambiente de pressão, guerra narrativas, destruição despudorada de reputações e disputa para ver quem grita mais alto. Não há país no mundo em que tantos trabalhem para inviabilizar o juiz.
Neste contexto, o jogo mais esperado do Brasileirão teve muitos momentos de rispidez e bate-boca, até terminar como se previa. Um dos times, beneficiado há 15 dias, agora se vê prejudicado de forma importante num jogo tão crucial —o pênalti em Gomez no início do jogo é claro, e condiciona a partida. Daí vêm as entrevistas, notas oficiais, denúncias sem provas e, a pior parte, o encontro entre dois grandes times de futebol posto em segundo plano. Estamos derrotados.
E há bastante coisa a dizer não só deste clássico, em que o talento de Pedro foi a grande diferença entre os dois times. Também teremos muito a desfrutar do que viveremos nas próximas dez rodadas, reta final de uma corrida em que os rivais entram empatados em 61 pontos, com vantagem do Palmeiras no número de vitórias.
O mais notável do primeiro tempo era como, especialmente nos primeiros 25 a 30 minutos, não havia momento mais definidor do jogo quanto os tiros de meta a favor do Flamengo. Porque era ali que o jogo se moldava. O Palmeiras, como esperado, organizava sua pressão com encaixes individuais, por vezes abrindo mão de uma sobra na linha defensiva. O plano foi executado com excelência, deixando os rubro-negros sufocados com bola.
O que não significa que Filipe Luís não preparara o time para este tipo de jogo, como mostra o primeiro gol. Se havia um elo fraco no Palmeiras era a sua dupla de zaga no mano a mano, especialmente Bruno Fuchs contra Pedro. Quando o Flamengo criou uma linha de passe direta de Rossi para o camisa 9 receber de costas contra Fuchs, Arrascaeta imediatamente correu em profundidade, batendo Gomez.
O Flamengo teve a capacidade de decisão de seus extraclasses, o Palmeiras tinha o controle tático. Havia um rubro-negro a menos em campo quando Vítor Roque empatou, porque Léo Ortiz saíra machucado. Mas o resultado era mais fiel ao jogo: o Palmeiras não era inferior, ao contrário. Exagerado mesmo seria o 3 a 1 Flamengo do intervalo, ainda que houvesse um mérito. Diante da marcação individual do Palmeiras, os rubro-negros tentavam acelerar passes para os atacantes o tempo todo, viam Jorginho e Pulgar pressionados, perdiam bolas. Era o que buscava o Palmeiras, gerar volume a partir de sua pressão. Mas pouco antes do intervalo os rubro-negros tiveram algumas passagens com posses um pouco mais longas, como na construção do lance do pênalti: o time moveu a marcação do Palmeiras até achar homens livres.
O segundo tempo teve roteiro parecido, mas algo se mantinha: o Flamengo novamente não era estável com bola, o volume era dos visitantes, mas o grande pecado do Palmeiras era não criar chances claras de gol. Em parte, pela ótima atuação defensiva rubro-negra, num segundo tempo de grande destaque para Jorginho e Danilo, o substituto de Ortiz.
Abel Ferreira foi assumindo ainda mais riscos, enquanto Filipe Luís apostava de vez em jogadores velozes na frente: entraram Plata e Bruno Henrique. A ideia era sair da pressão do Palmeiras e atacar os espaços, aceitar um jogo mais direto, embora por vezes o talento de Jorginho fizesse o Flamengo respirar um pouco. O placar quase cresceu, embora o único gol tenha sido o de desconto dos visitantes, já nos acréscimos.
Se o Brasil permitir que o futebol seja protagonista, teremos uma reta final com mais dez jornadas de uma disputa ponto a ponto entre dois timaços.
Termômetro
É curioso que, contados os jogos do returno, Fluminense e Vasco têm a mesma pontuação. Mas as sensações são opostas: um Vasco mais confiante e um Fluminense que oscila neste início de trabalho de Zubeldía — foi ruim a atuação contra o Juventude. O jogo define, ainda, as ambições dos dois na reta final: se lutarão por Libertadores e, no caso tricolor, como irá administrar o Brasileiro até a semifinal da Copa do Brasil no fim do ano.
A META QUE RESTOU
O Botafogo não foi brilhante no Ceará, mas mesmo cedendo campo demais ao rival na segunda etapa, o alvinegro se defendeu bem e era mais perigoso quando fez o 2 a 0 com Jeffinho. Mau planejamento à parte, o alvinegro hoje é um time desfigurado por lesões, e mesmo assim conseguiu um resultado importante para ter paz e disputar vaga na Libertadores. Não era o ano que a torcida esperava, mas é o que se pode salvar de uma temporada confusa.
GOLS EM ALTA
Um dos fatos mais marcantes do início da temporada europeia — começou em agosto — é o desempenho dos principais artilheiros do continente. Contando jogos por clubes e seleções nacionais, o inglês Harry Kane já soma 24 gols enquanto o norueguês Haaland tem 23. Já o francês Mbappé tem 17. São jogadores de perfis distintos, mostrando que, embora possa ter diversas interpretações, a função do camisa 9 es
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