
Censo 2022: 71,4% dos brasileiros se deslocam para o serviço; mulheres trabalham mais de casa que homens
Dados do Censo 2022 divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira mostram que 71,2 milhões de habitantes se deslocam para o trabalho no país. O levantamento aponta que 88,4% da população ocupada no Brasil exercia seu trabalho, naquele ano, no próprio município de sua residência — e sete em cada dez desses, num local fora de casa. Apenas 16,9% o faziam da própria morada.
Em 2022, caiu o número de pessoas que se deslocavam para trabalhar em outro município, de 12,2% a 10,7%. Ainda assim, essa era a realidade de 9,3 milhões de pessoas, e dentre eles 7,9 milhões cruzavam os limites de municípios para ir até o serviço em três dias ou mais da semana. Outras 31,4 mil pessoas iam até outros países para exercer a profissão.
Os dados mostram que o percentual de mulheres que trabalhavam em casa era superior ao dos homens. Segundo o Censo, 19,3% das trabalhadoras atua em casa ou na propriedade, ante 15,1% dos profissionais homens. Enquanto isso, os homens, proporcionalmente, atuavam mais fora do domicílio (72% a 70,7%) e tendiam a se deslocar mais para outros municípios (11,6 a 9,5%).
Na comparação com 2010, houve uma queda de cinco pontos percentuais na parcela do trabalho no domicílio de residência. No mesmo período, aumentou em 6,6 pontos percentuais a proporção de trabalhadores que atuavam fora de casa, mas no município onde residem.
Mauro Pinheiro, analista da pesquisa, destaca que os dados do Censo 2022 foram colhidos num período de saída da pandemia de Covid-19, período em muitos trabalhadores haviam saído de grandes centros urbanos para se instalar em municípios próximos ou adotado o teletrabalho ou o regime híbrido — isto é, um momento geral de mudanças. Para ele, os dados possibilitam uma leitura de que os habitantes estavam trabalhando mais perto de casa, se deslocando menos. Por outro lado, apontam um movimento maior de pessoas que precisaram deixar suas residências para trabalhar.
— É preciso aprofundar as causas dessas mudanças, mas temos hipóteses. Pode ser uma mudança das atividades das pessoas que trabalhavam nas suas casas. Isso pega tanto o contexto urbano quanto o contexto rural. Muito provavelmente pessoas que exerciam atividades em suas propriedades, como os agricultores, foram colocadas em outras atividades que, aí sim, demandavam deslocamento para fora da residência. Pode estar vinculado a dinâmicas do próprio mercado. Uma costureira, por exemplo, pode ter mudado de serviço. Mas há um contingente considerável que passou a se deslocar — aponta Pinheiro.
Os maiores percentuais de deslocamentos para outros municípios foram identificados em São Paulo, Goiás, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Só no estado de São Paulo, 2,8 milhões de pessoas se deslocam para trabalhar em outro município que não o da sua casa.
Dos 71,2 milhões que se deslocam para o trabalho, pouco mais de 40 milhões levam entre seis minutos e meia hora no trajeto de casa para o serviço. Os dados também mostram que 1,3 milhão de habitantes leva mais de duas horas para isso.
Os dados do novo levantamento sobre essa situação se mantiveram praticamente estáveis em relação à sondagem anterior, de 2010 (redução de 0,8 ponto percentual), mas apontam a persistência de desafios e gargalos do transporte pelo país, especialmente para homens, pretos e parda e de menor renda e em grandes metrópoles como Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus e Salvador e municípios da Baixada Fluminense.
O automóvel é o meio de transporte mais utilizado nesses deslocamentos. Ainda de acordo com o novo Censo, 22,6 milhões de habitantes — quase um terço (32,3%) dos residentes no país — passam mais tempo dentro um carro a caminho do serviço em relação a outros modais, como os coletivos. Os ônibus são o segundo meio mais adotado, enquanto os de alta capacidade, como metrô e trens, representam percentual ínfimo neste cenário.
O levantamento aponta que o uso do veículo individual motorizado é prevalente entre habitantes do Centro-Sul do país, sobretudo os brancos e amarelos, e aumenta conforme se eleva o grau de escolaridade. De forma inédita, o Censo 2022 traz um raio-x do modo como os habitantes se deslocam para o trabalho.
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