
Adubo, carvão e café: veja o que é possível tirar do açaí, que gera renda até no caroço
O que adubo, café e carvão têm em comum? Todos podem ser feitos a partir do açaí. É o que demonstram empreendedores do Amapá que desenvolveram novos produtos feitos com o caroço do fruto. A iguaria amazônica hoje está presente de Norte a Sul do país, principalmente como alimento. O que pouca gente sabe é que 70% do açaí corresponde ao caroço, que normalmente é descartado.
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Sob o conceito da bioeconomia, uma das principais agendas da COP30, três marcas do Amapá apoiadas pelo Sebrae vêm dando novo sentido à cadeia do açaí, reaproveitando os caroços. Assim nasceram a Amazon BioFert, Carvão de Açaí e Engenho Café de Açaí.
A ideia de desenvolver um novo tipo de adubo — que originou a Amazon BioFert — surgiu na eclosão da guerra da Ucrânia, quando o mercado internacional sofreu uma crise de oferta e aumento de preços de fertilizantes. Por isso, os engenheiros agrônomos Wesley Resplande e Thyago Monteiro decidiram criar uma nova tecnologia a partir da Terra Preta de Índio (TPI), técnica milenar indígena em que o acúmulo de resíduos orgânicos forma um solo fértil.
Nutrientes para o solo
Assim, criaram o biocarvão (também chamado de biochar), inédito no Brasil, feito com caroço do açaí. Melhora propriedades físicas e químicas do solo e favorece a retenção de nutrientes.
— Na literatura científica existe esse processo de pirólise (decomposição de matéria orgânica) para biochar, mas não com caroço de açaí. Fomos pioneiros nesse processo. Diminui o custo de produção e dá destino correto aos resíduos de açaí, valorizando a cadeia do fruto — diz Monteiro.
A Amazon BioFert foi registrada em 2022. O produto é vendido em lojas especializadas, floriculturas e até supermercados. A COP30, diz Monteiro, será uma importante vitrine para o biofertilizante, que ainda contribui com a remoção de gás carbônico da atmosfera. A cada uma tonelada de biochar produzido, são evitadas 2,5 toneladas de CO2 no ar, que passam a ser fixadas no solo, ele afirma. Além disso, o processo evita que a queima descontrolada ou o acúmulo do caroço do açaí gerem mais gases de efeito estufa.
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— A COP será uma grande oportunidade de mostrar que a gente já está desenvolvendo na prática, criando economia circular e ajudando a desenvolver comunidades locais sem impacto ambiental — diz Monteiro. — Se não for nesse formato, dificilmente conseguiremos um modelo de negócio longo e duradouro. Principalmente na Amazônia, onde temos riquezas naturais e precisamos criar novos negócios a partir de ativos da natureza e dos resíduos.
No caso da Carvão de Açaí, empresa que já revela seu produto no nome, o fruto foi uma oportunidade de reinvenção. De 2011 e 2018, o pai de Alex Pascoal, CEO da companhia, vendeu carvão vegetal para churrasco. Até que o negócio quebrou, deixando um estoque gigante de finos (resíduos) de carvão.
— A gente sempre teve a ideia de reaproveitar esses finos. Estudando mais a fundo, a gente viu que com o resíduo do caroço do açaí também dava para produzir carvão. Então juntamos isso e passamos a reaproveitar essa matéria-prima que normalmente é descartada incorretamente — explica Pascoal, que usa fornos ecológicos. — Geralmente a produção de carvão vegetal utiliza fornos rudimentares, que geram gases poluentes. Queremos transformar a cadeia do carvão vegetal em uma produção totalmente ecológica e sustentável.
A Carvão de Açaí produz de cinco a sete toneladas mensais de carvão, vendidas principalmente no Amapá, com início de exportações para a Guiana Francesa e planos para escalar a produção.
Usos exemplares
A Engenho Café de Açaí produz 12 toneladas mensais em blends com café tradicional e cápsulas para máquinas. Ao reaproveitar o caroço do açaí, o que confere um sabor especial ao café, destaca a criadora da empresa, Valda Gonçalves, o negócio impacta mil famílias amapaenses cooperadas, que fornecem o resíduo com certificação ambiental.
— A bioeconomia é um eixo estratégico para o Brasil porque gera riqueza e empregos e conserva a natureza ao mesmo tempo. E o açaí se destaca como um exemplo de circularidade e inovação sustentável, integrando outras cadeias — afirma Thyago Gatto, analista de Mercados do Sebrae.
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