
'Subway surfing': o que é a perigosa prática centenária que ressurgiu nas redes e voltou a matar jovens em Nova York?
O número de mortes provocadas pela prática do subway surfing — ato de andar sobre o teto de vagões do metrô em Nova York — voltou a crescer e preocupa autoridades americanas. Apenas em 2024, seis adolescentes perderam a vida em acidentes envolvendo a atividade, que se espalhou nas redes sociais e repete um comportamento registrado há mais de um século na cidade. Na última semana, duas adolescentes foram encontradas mortas no topo de um trem da linha J que chegava a uma estação de metrô no Brooklyn.
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Numa tarde de final de primavera, dois garotos comemorando o último dia do sexto ano saíram pelo bairro onde moravam, em Nova York, em busca de uma aventura. Ela surgiu na forma de um trem do metrô que entrava na estação Church Avenue, no Brooklyn. Os meninos, Donald Munoz e William Layden, se içaram até o teto de um dos vagões e logo estavam sendo levados rumo ao norte, com o ar quente batendo em seus rostos.
Mas a escapada durou pouco. Perto da estação seguinte, eles bateram em um viaduto e foram arremessados para os trilhos. O impacto fraturou o crânio de ambos, e Donald morreu naquele mesmo dia. Ele tinha 11 anos. William, de 12, foi levado inconsciente ao Hospital do Condado de Kings.
O ano era 1938. Mas poderia ter sido qualquer outro.
Relatos recentes costumam associar o ato imprudente de andar sobre um vagão de trem em Nova York — conhecido como subway surfing — aos anos 1980, e atribuem o ressurgimento dessa prática a vídeos sensacionalistas nas redes sociais, filmados tanto por espectadores quanto pelos próprios surfistas.
Mas registros de incidentes de subway surfing existem desde os primórdios do sistema de transporte da cidade, há mais de um século, e soam assustadoramente familiares.
Esses aventureiros urbanos, de ontem e de hoje, compartilham um mesmo impulso, dizem os especialistas: buscar uma dose de adrenalina, um “barato”, com os recursos limitados que têm à disposição.
“Desde que Deus criou o metrô”, disse Al O’Leary, ex-porta-voz da MTA (autoridade de transporte metropolitano de Nova York), “as pessoas vêm fazendo coisas estúpidas nele”.
Nos últimos anos, por razões que intrigam as autoridades públicas, o subway surfing tem se tornado cada vez mais mortal. Seis pessoas morreram tentando praticá-lo apenas em 2024. Cinco morreram em 2023, e o mesmo número foi registrado somando-se os anos de 2018 a 2022. Essa sucessão de tragédias sem sentido levou autoridades e moradores a se perguntarem se há algo que possa ser feito.
A angústia não é nova. Em 1996, após a morte de um garoto de 14 anos, Rudy Giuliani, então prefeito de Nova York, fez uma avaliação sombria: “Não há como proteger uma criança que decide surfar no teto de um vagão do metrô”, disse ele.
Ao que tudo indica, ele estava certo.
'A gente devia tentar isso'
O raciocínio que leva alguém ao teto de um trem em alta velocidade pode parecer incrivelmente simples. Foi assim para Justin, um jovem de 18 anos do Bronx, que descobriu o subway surfing em 2021, por meio de um vídeo no YouTube. Isso gerou uma conversa direta com um amigo.
— Eu falei: "ei, a gente devia tentar isso" — contou Justin, que pediu para não ter o sobrenome divulgado para poder falar livremente sobre uma atividade ilegal: — E ele respondeu, "fechado". Então a gente tentou.
Certo dia, depois da escola, em setembro daquele ano, os meninos subiram as escadas da estação 167th Street, no Bronx, entraram no trem no meio da plataforma, saíram pela porta traseira do vagão e escalaram o teto.
A despreocupação sumiu na hora.
— Meu coração estava disparado — disse Justin: — O vento batia no meu rosto. O trem tremia. Eu achei que a gente ia ser levado embora.
Eles viajaram apenas uma estação e desceram às pressas na 161st Street. De volta ao chão firme, Justin percebeu que suas mãos tremiam.
A sensação, contou ele, era viciante. Nos meses seguintes, surfou “mais vezes do que dá pra contar”, explorando novas partes do sistema e ganhando confiança para correr e pular sobre os trens enquanto atravessavam a cidade em alta velocidade.
Como a prática é ilegal e quase sempre feita às escondidas, é difícil rastrear quem a realiza — mas funcionários do metrô descrevem um sistema praticamente infestado de surfistas.
Omar Velez, operador de trem há mais de trinta anos na MTA, diz que ouve relatos de subway surfers todos os dias em que trabalha na linha 7, principalmente antes e depois das aulas.
A MTA não contabiliza especificamente os casos de subway surfing.
A agência informou que 2.556 pessoas viajaram “do lado de fora dos vagões” neste ano até setembro, mas a grande maioria, segundo autoridades, estava entre os vagões, e não em cima deles. (Em 2019, para comparação, foram 490 casos.)
Assim, a frequência do subway surfing costuma ser medida da forma mais macabra possível: pelas mortes. Em 2024, as
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