
Segredos da Maçonaria atraem jovens cariocas a partir de vídeos virais e influenciadores nas redes
Envolta em símbolos, rituais e certa aura de mistério, a maçonaria remonta à Idade Média, quando se formaram as primeiras fraternidades. No Brasil, organizações dedicadas, em linhas gerais, à ajuda mútua e ao aperfeiçoamento da sociedade, marcaram presença em episódios como a Independência e a Proclamação da República. Com uma longa lista de adeptos que vai do general, senador e ex-vice-presidente da república Hamilton Mourão a George Savalla Gomes (imortalizado como o Palhaço Carequinha), essa tradição repleta de rituais ganhou popularidade e chega aos dias de hoje renovada. Jovens, que em geral chegavam à ordem trazidos por seus pais, hoje se aproximam por conta própria, instigados por vídeos virais nas redes sociais, buscas na internet e influenciadores digitais que abriram as portas, até então discretas, das lojas maçônicas.
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Thiago Jatobá, de 20 anos, mora em Itacoatiara, bairro da Região Oceânica de Niterói. Influenciador digital com mais de 183 mil seguidores no Instagram, transformou a curiosidade em conteúdo e levou a câmera para dentro da loja maçônica de seu pai, Alexandre Jatobá. Um dos vídeos, em que promete arrancar segredos do patriarca, alcançou 3,1 milhões de visualizações. Outro, com detalhes do templo, ultrapassou 5,7 milhões de cliques.
Nova geração. João Victor Maciel (último à direita), de 20 anos, e outros irmãos durante reunião da Ordem DeMolay, voltada para jovens de até 21 anos
Arquivo pessoal
“Vou fazer meu pai abrir o bico hoje sobre a maçonaria. Sempre tive curiosidade, só que ele nunca me contou nenhum segredo”, brinca Thiago no post. Um dia após a publicação, o termo “maçonaria” quase atingiu o pico máximo de popularidade no Google Trends — ferramenta que mede o alcance das pesquisas — no Estado do Rio. No recorte de 90 dias, também apareceu em alta a busca por “o que é maçonaria”.
Regras de ingresso
No vídeo, Thiago exibe objetos que povoam o imaginário popular: o esquadro e o compasso, que representam a retidão moral; a estrela com a letra G, referência ao Grande Arquiteto do Universo; o avental de mestre; a espada ondulada; e o “olho que tudo vê”, símbolo também presente na nota de um dólar. Cada elemento tem significados associados à ética, ao conhecimento e à espiritualidade, de acordo com maçons. Há ainda o teto das lojas com constelações e colunas com signos do zodíaco.
Para entrar neste universo, é preciso ser convidado por um integrante e demonstrar “postura, conhecimento e capacidade de liderança”. “Um maçom que te conheça vai saber se você tem o perfil”, diz o pai de Thiago no vídeo.
A exclusão das mulheres, ponto recorrente nas críticas à ordem, também aparece nos diálogos.
O grão-mestre José Ricardo Salgueiro de Castro, que confirma o rejuvenescimento da ordem
Márcia Foletto
“A maçonaria é evolutiva. Já existem lojas femininas na Inglaterra. O mundo muda, e a gente também”, reconhece Alexandre.
Anderson Verçosa, diretor de um dos principais núcleos da maçonaria no Brasil, com sede em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, reforça que, no país, as mulheres participam em grupos paralelos, como as “Filhas de Jó”, para jovens, e o “Estrelas do Oriente”, para esposas de maçons. Ele também aproveita para desfazer mitos:
— Não existe ritual com bode. Isso é lenda. Tenho aversão a esses misticismos que colocam na maçonaria. Somos apenas homens que se reúnem, assim como outros se encontram para jogar bola — afirma.
Ordem DeMolay
A popularidade da maçonaria entre jovens encontra eco na Ordem DeMolay, grupo juvenil criado em 1919 nos Estados Unidos e trazido ao Brasil em 1980. Voltada para rapazes de 12 a 21 anos, tem forte presença no Rio e é patrocinada por lojas maçônicas.
— Hoje, muitos jovens chegam à ordem atraídos por vídeos na internet ou até mesmo por nossas redes sociais. Isso é novidade, porque o mais comum antes era a influência da família, em que o pai leva o filho. Minha família, por exemplo, é toda de maçons — contou João Victor Maciel, de 20 anos, que atua como mestre conselheiro da Ordem DeMolay do Estado do Rio, que fica em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Maciel detalha os quatro requisitos para ingressar. É preciso acreditar em Deus, professar uma religião, “de umbandista a evangélico”, ter boa índole e estar na faixa etária adequada.
O rito é claro: ao completar 21 anos, o DeMolay pode se tornar maçom, ingressando no grau 1. Dali, a jornada pode se estender até o grau 33, o mais alto da hierarquia — atingido pelo general Mourão e pelo palhaço Carequinha. No entanto, a entrada depende do convite de um “tio”.
— Não necessariamente o jovem que entra na ordem vira maçom, mas existe a possibilidade. Toda reunião nossa é em uma loja maçônica, supervisionada por um “tio”, como chamamos os maçons adultos — explica Maciel.
Para jovens co
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