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Relatório alerta para cenário desafiador pré-COP30 e distanciamento global da meta de desmatamento zero até 2030

14/10/2025 00:00 O Globo - Rio/Política RJ

A um mês da COP30, quando representantes das nações se encontraram em Belém para discutir a implementação de acordos climáticos, o cenário para o cumprimento do desmatamento zero até 2030 é desafiador. É o que mostra a Avaliação da Declaração Florestal de 2025, documento produzido por uma coalização da sociedade civil para avaliar o progresso em relação aos compromissos assumidos para eliminar a destruição e restaurar 350 milhões de hectares de terras degradadas até o fim do período.
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Segundo o estudo divulgado nesta segunda-feira, líderes mundiais estão descumprindo sua própria meta de acabar com o desmatamento em 63% (dois terços fora da rota). Foram perdidos permanentemente 8,1 milhões de hectares em 2024, uma área que corresponde aproximadamente ao tamanho do território do Panamá.
Esse resultado está cerca de 3,1 milhões de hectares acima da perda máxima consistente com a metade 2030 e é ainda maior do que a taxa de perda registrada em 2021, quando os líderes mundiais renovaram os compromissos assumidos em 2014 para acabar com o desmatamento.
Para a coalizão, as descobertas presentes no documento servem como um “alerta” anterior às negociações em Belém.
— A cada ano, a lacuna entre os compromissos e a realidade aumenta, com impactos devastadores sobre as pessoas, o clima e as nossas economias. As florestas são uma infraestrutura inegociável para um planeta habitável. A falha contínua em protegê-las coloca a nossa prosperidade coletiva em risco — afirma Erin Matson, uma das autoras da Avaliação da Declaração Florestal deste ano.
Do fogo ao agro
Uma das descobertas do estudo foi que as florestas tropicais remotas e intocadas tiveram um desempenho alarmante no ano passado, quando cerca de 6,73 milhões de hectares foram destruídos. Isso se deu devido a incêndios na América Latina, Ásia, África e Oceania, sobretudo.
Os pesquisadores afirmam que os líderes mundiais estavam 190% fora da rota do cumprimento das metas de proteção dessas florestas, que são ricas em carbono. A perda delas liberou 3,1 bilhões de toneladas métricas de gases de efeito estufa na atmosfera — quase 150% das emissões anuais do setor energético dos Estados Unidos.
Segundo o relatório, os incêndios — cuja maioria são intencionalmente provocados pela limpeza de terras e, portanto, evitáveis — também foram um fator de peso no aumento dos números de degradação em 2024. No ano passado, cerca de 8,8 milhões de hectares de florestas tropicais úmidas foram degradados, o que ocorre quando incêndios florestais, exploração madeireira, construção de estradas ou coleta de lenha danificam — mas não desmatam — as florestas.
“O declínio gradual e contínuo na saúde de uma floresta não é tão grave quanto o desmatamento direto, mas ainda gera impactos significativos, como as emissões de carbono. Finalmente, normalmente leva à completa desflorestação da terra no futuro. Os líderes estão 234% distantes da meta de deter essa degradação”, diz o documento.
A degradação florestal causada por incêndios florestais foi particularmente alarmante nos oito países da região amazônica, alertam os pesquisadores.
O relatório também acompanha o progresso no outro lado do espectro — o reflorestamento. Os cientistas constataram a existência de iniciativas ativas de restauração em andamento em ao menos 10,6 milhões de hectares de terras desmatadas e degradadas. Isso representa cerca de 5,4% do potencial global de reflorestamento e apenas 0,3% do potencial global de restauração florestal biofísica (uma medida das áreas que foram degradadas ou desmatadas), ficando muito aquém da meta de 30% estabelecida no Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal.
Aproximadamente dois terços dessa área (cerca de sete milhões de hectares) estão em regiões tropicais, 3,3 milhões de hectares estão em zonas temperadas e 250 mil hectares estão em florestas boreais.
O documento aponta também que a limpeza de terras para a agricultura, com o objetivo de produzir lavouras, madeira e gado, é responsável por 85% da perda florestal na última década. O estudo, no entanto, argumenta que “um dos maiores obstáculos à proteção florestal é um sistema econômico abrangente que canaliza recursos para setores destruidores de floresta em detrimento dos esforços para mantê-la em pé”.
“Quando os líderes realmente se esforçam para conter a perda florestal, seja por meio do engajamento na cadeia de suprimentos ou da aprovação de uma nova regulamentação, muitas vezes o fazem isoladamente. O progresso pode se desfazer com a próxima mudança política ou econômica. Para realmente combater o desmatamento, os líderes devem trabalhar coletivamente para implementar reformas ousadas e vinculativas que transformem o sistema que ainda recompensa generosamente a perda florestal. Sucessos isolados

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