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Conferência Pré-COP: União Europeia evita firmar compromissos, mas Brasil angaria apoio de países em desenvolvimento 

13/10/2025 20:07 O Globo - Rio/Política RJ

No primeiro dia da conferência ministerial preparatória para a Conferência Mundial sobre o Clima, a COP30 — prevista para novembro, em Belém (PA) —, o Brasil teve a adesão de países em desenvolvimento para mitigar os efeitos do aquecimento global.  Países do Hemisfério Norte, como os europeus, contudo, permanecem em silêncio diante das principais questões.
Chamado de Pré-COP, o evento, realizado em Brasília, termina nesta terça-feira e tem por objetivo reduzir divergências e alinhar posições, sem previsão de acordos.
Enquanto nações latino-americanas, africanas e asiáticas pressionam por compromissos concretos, as potências desenvolvidas evitam assumir novas obrigações financeiras ou metas mais ambiciosas de redução de emissões. Também contribui para esse cenário a esperada ausência dos Estados Unidos na conferência de Belém.
— A Europa se mantém em silêncio — resumiu André Guimarães, diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), membro da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e enviado especial da sociedade civil para a COP30.
O debate sobre o financiamento climático — considerado essencial para a implementação do Acordo de Paris — continua travado desde a COP29, realizada em Baku. Países ricos resistem a definir aportes obrigatórios e prazos para liberação de recursos, deixando em aberto o destino do novo objetivo coletivo de financiamento, que deveria substituir a antiga meta dos US$ 100 bilhões anuais. O ideal seria chegar a US$ 1,3 trilhão por ano, destacam interlocutores que acompanham as negociações.
— Sem previsibilidade e condições adequadas de financiamento, a transição ecológica corre o risco de permanecer no plano retórico — afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na manhã desta segunda-feira, ao reforçar a posição brasileira de que a reforma dos bancos multilaterais e o aumento dos fundos climáticos são indispensáveis para a ação global.
Outro ponto de fricção é a atualização das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), as metas de redução de emissões que cada país deve apresentar periodicamente. A União Europeia ainda não submeteu oficialmente sua NDC pós-2030, limitando-se a uma declaração de intenção. De um total de 196 países associados à ONU, apenas 62 apresentaram oficialmente suas NDCs. A expectativa é que o número aumente durante a COP30.
Por outro lado, Brasil, Índia, Indonésia e Quênia estão entre os países que já revisaram suas estratégias de transição energética e adaptação. O Brasil lançou algumas propostas de financiamento sustentável, com destaque para o Fundo Florestas Tropicais para Sempre.
Diplomatas brasileiros avaliam que o país tem conseguido articular as demandas do Sul Global e consolidar sua posição de liderança. Mas, até o momento, o apoio político das grandes economias não se traduziu em compromissos concretos.
— A luta contra o aquecimento global exige ética, sustentabilidade e responsabilidade compartilhada — afirmou o presidente em exercício, Geraldo Alckmin, na abertura da Pré-COP.
Alckmin ressaltou que a NDC do Brasil prevê a redução das emissões líquidas de gases de efeito estufa de 59% para 67% até 2035, em comparação com os níveis de 2005 — percentuais que equivalem, segundo ele, a 870 milhões a 1,05 bilhão de toneladas de carbono.
— O Brasil reconhece a crise climática e quer uma meta realista de emissões, que concilie crescimento econômico e transição energética, com compromisso com o desenvolvimento sustentável. O país tem papel fundamental nas três grandes questões do século: segurança alimentar, segurança energética e combate às mudanças climáticas — disse Alckmin.
O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, destacou que as negociações da Pré-COP seguirão até o fim desta terça-feira. Um dos desafios, segundo ele, será evitar bloqueios que possam resultar na anexação de pontos não consensuais à agenda do evento. Ele explicou que cada país tem direito a veto, o que pode dificultar as discussões.
— A primeira coisa é manter a boa vontade de todos para que a COP possa começar já com negociações — afirmou Corrêa do Lago.
De acordo com o diplomata, o que mais se sobressaiu nos discursos do primeiro dia da Pré-COP foi a defesa do fortalecimento do multilateralismo — uma das prioridades da política externa brasileira, ao lado da ampliação dos recursos para financiar medidas contra o aquecimento global e do anúncio de metas mais ambiciosas.

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