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‘Outubro sóbrio’: conheça o movimento internacional que ganha força com escândalo do metanol no Brasil

12/10/2025 07:01 O Globo - Rio/Política RJ

Os casos de intoxicação por metanol após consumo de bebidas adulteradas no Brasil têm levado diversas pessoas a evitarem a ingestão de álcool e impulsionado uma tendência que já ocorre em outros países: a de aderir à abstinência ao longo do mês de outubro. Em uma publicação no X com quase 50 mil curtidas, um internauta diz que não beberá “uma gota sequer de álcool por tempo indeterminado”: “estou apavorado com o metanol”.
O “outubro sóbrio” surgiu no Reino Unido, em 2014, como um desafio lançado pela Macmillan Cancer Support, uma instituição de caridade que apoia pacientes oncológicos. O objetivo era chamar a atenção para o alto número de casos de câncer ligados ao consumo de álcool, incentivar um mês de sobriedade e arrecadar fundos.
De acordo com um estudo publicado na revista científica The Lancet Oncology por pesquisadores da Agência Internacional de Pesquisa para o Câncer, da Organização Mundial da Saúde (OMS), 741,3 mil casos de câncer em 2020 foram ligados ao consumo de álcool, 4,1% do total.
No Brasil, 20,5 mil diagnósticos foram associados às bebidas. De acordo com a OMS, o álcool causa ao menos 7 tipos de tumores. Além do de fígado, pode provocar câncer de mama, intestino, esôfago, entre outros.
O movimento do “outubro sóbrio” é semelhante ao “janeiro seco”, que também tem origem britânica e promove um mês de sobriedade. Esse último, porém, foi lançado pela organização Alcohol Change UK, em 2013, e busca repensar o consumo de bebidas alcoólicas de um modo mais amplo.
No Brasil, um evento inusitado tem promovido a onda de abstinência em outubro: os casos graves, incluindo de mortes e cegueira, de intoxicação por metanol. Segundo a última atualização do Ministério da Saúde, de segunda-feira, há 225 casos, entre confirmados e suspeitos, em 13 estados. Em relação aos óbitos, são 15 registros, dois deles com a causa comprovada.
O metanol é um composto industrial muito utilizado como solvente, combustível e outros produtos químicos. Ele é diferente do etanol, que é o álcool etílico usado nas bebidas alcoólicas. O problema do metanol é que, ao ser ingerido, transforma-se em formaldeído no fígado e, depois, em ácido fórmico, que é um subproduto altamente tóxico para o organismo.
— O metanol pode aparecer em bebidas alcoólicas de duas formas. Quando há fraude e adulteração, com alguém tentando reduzir custos ao substituir o álcool próprio para consumo (o etanol) por metanol, ou acidentalmente por erros em processos de destilação, quando partes da bebida que contêm metanol não são corretamente separadas, o que acontece principalmente em destilados produzidos de forma clandestina — explica Siddhartha Giese, analista químico do Conselho Federal da Química (CFQ).
Até o momento, a perícia do Instituto de Criminalística da Polícia Científica de São Paulo, estado com mais registros de intoxicação, afirmou que os indícios apontam que o metanol foi adicionado deliberadamente nas garrafas, não sendo produto da destilação natural.
Enquanto a origem do problema não é elucidada, e os casos aumentam, brasileiros têm optado pela abstinência para se proteger. Em diversas publicações no X, eles compartilham a decisão. Numa delas, uma internauta disse que se esforçará “ao máximo para não beber pelas próximas 6 semanas”. Em outra, a usuária conta que ficou uma semana sem beber “com medo do metanol”.
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Dados divulgados nesta terça-feira pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel SP) mostram esse impacto. Ao todo, 52% dos bares relataram queda nas vendas na semana passada. O Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro (SindRio) estima uma redução de 60% a 80% no comércio de destilados e drinques.
Tendência na geração Z
Para muitos, porém, a redução do álcool já era uma tendência antes do metanol, especialmente entre os mais jovens. Uma pesquisa realizada pela Mind & Hearts, empresa do grupo HSR Specialist Researchers, ouviu 677 brasileiros entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025 e apontou que 36% daqueles da geração Z, de 18 a 25 anos, bebem apenas mensalmente ou menos, percentual que é de 32% nas gerações Y (26 a 40 anos) e X (41 a 60 anos).
A pesquisa foi feita apenas entre consumidores de álcool, mas o último relatório Covitel, de 2023, já mostrava que 36,1% de todos os jovens de 18 a 24 anos bebiam álcool “quase nunca”, o maior percentual de abstêmios entre todas as faixas etárias. De 55 a 64 anos, por exemplo, apenas 23,7% deixavam a bebida de lado.
E o movimento não é restrito ao Brasil. Nos Estados Unidos, um levantamento da Gallup mostrou que 38% daqueles entre 18 e 34 anos não ingeriam bebidas alcoólicas entre 2021 e 2023, um aumento de 10 pontos percentuais em relação aos resultados de uma década antes.
No Reino Unido, uma pesquisa da empresa Mintel, de 2024, apontou que os consumidores britânicos entre 20 e 24 anos tinham quase metade da probabilidade de priorizar gastos com bebidas alcoólicas do que o observado e

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