
Insegurança e transformação: por que nossas certezas não duram para sempre
O que você sente quando o que era certeza se transforma em dúvida? Uma das sensações de maior insegurança que podemos enfrentar é perceber que aquilo que parecia inabalável agora treme sob nossos pés. É como acordar um dia e ver que aquele alicerce em que foi construída boa parte da sua vida já não se sustenta mais.
Um relacionamento, por exemplo. Você tinha certeza de que era para sempre, de que aquela pessoa era o encaixe perfeito, o abraço seguro, o beijo que fazia sentido. E, de repente... a pessoa se transforma. Ou talvez você se transforme. O que antes era solidez, hoje é dúvida: será que vale a pena continuar?
O mesmo acontece com um emprego. A vaga dos sonhos, o crachá carregado de orgulho ou, talvez, o empreendimento construído com muito esforço e que trouxe a sensação de pertencimento. Até que o tempo vira. As manhãs que antes vinham com entusiasmo agora pesam. O que era doce ficou amargo. O que era encaixe virou aperto.
A vida é feita disso: transformação. É só lembrar que nosso corpo muda o tempo todo. É mais fácil notar em um bebê: cada dia uma novidade. Mas continuamos a mudar a cada segundo. A pele que ontem era lisa hoje revela uma ruga. O corpo que corria sem cansar pede pausa. E faz parte do jogo. Ainda assim, insistimos em acreditar nas certezas como se fossem eternas.
E, quando as certezas se quebram, dói. Dá frio na barriga, dá medo, insegurança, vontade de segurar com força o que está indo embora. Mas, talvez, o exercício constante da vida esteja justamente em aceitar que o que ontem era certeza pode amanhã ser dúvida.
Fomos treinados a acreditar em finais felizes, na estabilidade eterna. Como se a vida fosse um castelo de chão firme. Mas, na real, a vida é chão arenoso: instável, cheio de camadas que se movem, recebem sementes e, muitas vezes, fazem brotar dúvidas onde antes havia certezas.
Precisamos aprender a dançar nesse terreno. A rir mesmo quando não sabemos a resposta. A seguir em frente mesmo sem mapa. Porque maturidade não é acumular certezas, mas saber lidar com as incertezas que aparecem.
A pergunta que fica é: o que vou fazer com essas dúvidas? A resposta não é apagá-las, nem fingir que não existem, mas acolhê-las. Permitir-se questionar. Perguntar a si mesmo: por que isso me incomoda? O que mudou? O que já não cabe?
Esse autoquestionamento eterno talvez seja uma das poucas certezas que temos. Questionar é um caminho de crescimento. É algo que nos tira da paralisia, nos obriga a ver além, a abrir novas portas, o que ajuda a lidar melhor com as certezas que podem virar incertezas.
Nossas dúvidas podem ser convites. Convites para se rever, se reinventar, se libertar, inclusive, de crenças limitantes, estereótipos, generalizações que acreditamos e que podem cair por terra e abrir novos horizontes. Convites para reconhecer que, na verdade, a vida é um fluxo, não uma muralha estática.
No fim, entre certezas que desmoronam e dúvidas que florescem, seguimos adiante. A vida não é sobre segurar o que já não cabe, mas sobre abrir espaço para o que ainda está por vir.
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