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Em guinada, Lula incorpora discurso contra criminalidade e passa a citar operações de ampla repercussão

12/10/2025 06:31 O Globo - Rio/Política RJ

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou a abordar com maior frequência o combate a diferentes braços da criminalidade, num momento em que a Polícia Federal tem tocado casos de grande magnitude. Pronunciamentos do petista sucederam a divulgação de megaoperações contra o PCC e a exploração sexual infantil, por exemplo. O movimento marca uma tentativa da esquerda de evocar a pauta da segurança pública, dominada pela direita nos últimos anos, e provoca embates com possíveis adversários de Lula no ano que vem, sobretudo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Como pano de fundo da guinada está a inquietação do brasileiro com a violência. Na pesquisa Genial/Quaest da semana passada, o tema aparece como a principal preocupação do país, com 31% — percentual mais alto em um ano. O índice é ainda maior entre quem se diz lulista (36%) ou de esquerda não lulista (35%), segundo recorte inédito da pesquisa.
Mudança de prioridade
A comparação com quatro anos atrás, no mesmo período de mandato de Jair Bolsonaro (PL), escancara a mudança de percepção do eleitor sobre o que aflige o país. Àquela altura, com a pandemia e os efeitos econômicos da crise ainda patentes, a violência era citada como maior problema por apenas 2%, enquanto a economia (44%) e a saúde (24%) despontavam com sobras no topo. Ao longo do tempo, a lógica mudou, com o disparo da violência nas pesquisas e o arrefecimento dos outros temas.
Um exemplo de como Lula passou a evocar investigações se deu na quarta-feira, quando a PF, em parceria com a polícia de 16 estados, colocou nas ruas uma megaoperação contra a exploração sexual infantil. O presidente celebrou a incursão e usou expressões como “gente safada” para defender a prisão dos criminosos.
— O que não falta é gente safada nesse país para fazer coisa errada. Essa gente tem que ir para a cadeia — afirmou.
Quando foi às redes comentar a operação contra o PCC, em agosto, Lula a classificou como “a maior resposta do Estado ao crime organizado de nossa história até aqui”.
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, também tem aparecido com frequência depois das operações. Até a Fazenda, chefiada por Fernando Haddad, envolveu-se — e a Receita Federal, vinculada à pasta, criou uma delegacia focada no combate ao crime.
Antes, aliados de Lula reclamavam com frequência de como o presidente pouco conferia atenção à segurança pública, a despeito da relevância da pauta para a sociedade. O cientista político Marco Antonio Teixeira, professor da FGV, vê novidade na postura de Lula:
— É uma pauta que a esquerda sempre teve dificuldade de tocar, mas agora o governo está tocando com resposta de política pública. Há uma convergência entre a pauta e o que a sociedade espera, considerando as pesquisas. Antes, quem respondia a isso, mesmo com o PT no governo, era a direita.
O ímpeto do governo Lula em atacar casos de repercussão motivou disputas políticas com o governo de Tarcísio. Houve conflito em diferentes episódios. O principal foi na investigação contra a lavagem de dinheiro do PCC, quando o governo federal e o paulista fizeram coletivas de imprensa simultâneas e reivindicaram, nas redes, o mérito da operação. Já em relação ao metanol, a Polícia Federal passou a aventar o envolvimento da facção paulista no escândalo, o que foi descartado por Tarcísio. São Paulo também rejeitou a ajuda da PF para apurar a execução do delegado Ruy Ferraz, em Praia Grande (SP).
Nos últimos meses, Lula adotou ainda postura contrária a medidas formuladas no Congresso para beneficiar a classe política, o que representa uma virada após o PT sofrer na pele o discurso anticorrupção. O petista capitalizou em cima da oposição com a PEC da Blindagem, vetou mudanças na Lei da Ficha Limpa e rechaçou aumentar o número de deputados.

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