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Não foi só o frio: estudo em dentes dos soldados revela doenças que dizimaram o exército de Napoleão na invasão da Rússia em 1812

28/10/2025 07:02 O Globo - Rio/Política RJ

O sofrimento que devastou o exército de Napoleão durante a invasão da Rússia em 1812 ganha agora novos contornos científicos. Um estudo publicado na revista Current Biology identificou infecções bacterianas até então pouco relacionadas à campanha, reforçando que o colapso francês foi, sobretudo, um desastre sanitário em meio ao frio extremo e à fome generalizada.
Entenda: Pesquisa identifica doenças que dizimaram o exército de Napoleão na invasão da Rússia em 1812
Pesquisadores analisaram 13 dentes de soldados enterrados em uma vala comum em Vilnius, na Lituânia, e encontraram traços de febre recorrente — transmitida por piolhos — e febre paratifoide, associada ao consumo de água ou alimentos contaminados. Ambas provocam febre alta, dor intensa e exaustão, sintomas que, segundo os cientistas, teriam sido fatais em corpos já enfraquecidos.
As descobertas atualizam a visão histórica sobre a retirada francesa, descrita pelo médico J.R.L. de Kirckhoff como um cenário de “desespero” diante de doenças diversas, do tifo à pneumonia. Soldados incapazes de seguir adiante caíam sobre a neve e morriam congelados, sem que houvesse remédios ou abrigo. “Nessas condições, qualquer doença infecciosa pode matar pessoas”, ressaltou Nicolas Rascovan, do Instituto Pasteur.
A deterioração da tropa, então já sem comida, água potável e roupas adequadas, foi descrita em relatos da época como um quadro extremo de imploração por pão e por sapatos. Para o historiador Kyle Harper, da Universidade de Oklahoma, trata-se de “um episódio extraordinário de sofrimento humano”, em que as infecções “exploram a vulnerabilidade”.
Ainda que a amostra analisada seja pequena, como alertou Mary Fissell, da Universidade Johns Hopkins, o avanço tecnológico desde 2006 — quando outros patógenos haviam sido encontrados na mesma vala — reforça a precisão das conclusões atuais. Agora, os agentes identificados se somam às evidências sobre o impacto das doenças na campanha.
Ao final, escritos e ciência convergem para um mesmo diagnóstico: não foram os combates que dizimaram a tropa francesa, mas a soma de frio intenso, desnutrição e infecções que se tornaram letais sob condições extremas. Como resume Harper, antes do século XX, as guerras eram “eventos médicos” — e, no caso de Napoleão, a medicina foi implacável.

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