'A Grande Onda' e relíquias de 3.000 anos: bilionário japonês se desfaz de obras raras para pagar dívida de R$ 270 milhões
Grandes obras do Museu de Arte de Okada, criado pelo bilionário japonês Kazuo Okada e que abriga um importante acervo de arte asiática reunido por ele ao longo de décadas, serão vendidas para quitar uma conta judicial de US$ 50 milhões (cerca de R$ 270 milhões) decorrente de sua disputa com o magnata dos cassinos Steve Wynn.
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Quando o conflito com Wynn foi resolvido extrajudicialmente em 2018, Okada contestou os honorários cobrados por seu escritório de advocacia, Bartlit Beck. No entanto, a banca venceu tanto em uma arbitragem vinculante quanto no tribunal. No mês que vem, as obras mantidas pelo museu irão a leilão pela Sotheby’s em Hong Kong para cobrir o débito.
Leilão de peças raras
O leilão da Sotheby’s, marcado para 22 de novembro, reúne 125 lotes com obras-primas da arte asiática, incluindo bronzes rituais tardios da dinastia Shang, porcelanas imperiais Qing, telas japonesas e cerâmicas coreanas — algumas delas estimadas em valores que devem superar milhões de dólares.
“Esta é possivelmente uma das melhores coleções desse tipo”, afirmou Nicolas Chow, presidente da Sotheby’s Ásia e diretor mundial de Arte Asiática, em entrevista por telefone. “São basicamente 3.000 anos de algumas das maiores cerâmicas, objetos artesanais e pinturas da China, Japão e Coreia.”
A venda incluirá um raro vaso Qianlong “Oito Tesouros”; uma grande tigela “guanyao” da dinastia Song do Norte; um par de telas de seis painéis do século XVI de Kano Motonobu, do período Muromachi; e “A Grande Onda da Costa de Kanagawa”, de Katsushika Hokusai, descrita como “a xilogravura japonesa mais famosa do mundo”.
“A Grande Onda” e a série do Monte Fuji
“A Grande Onda” — que mostra o Monte Fuji ao fundo, sob a força de uma onda gigante — integra a série “Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji”, que consagrou as gravuras de paisagem japonesas. Hokusai iniciou o conjunto em 1830, aos 70 anos, produzindo diversas versões ao longo do tempo.
“Existem muitas impressões de A Grande Onda, e não há uma versão ‘definitiva’”, escreveu Capucine Korenberg, pesquisadora científica do Museu Britânico, em 2020. “O Museu Britânico tem três impressões na coleção, o Metropolitan Museum of Art tem quatro e o Maidstone Museum (Reino Unido) possui uma.”
Informações disponíveis online sobre a venda apontam que as obras foram consignadas “por um agente dos administradores nomeados pelo tribunal sobre as ações da Okada Fine Art Limited”, em cumprimento a ordens judiciais emitidas em Hong Kong.
O museu de Okada não comentou o impacto da venda em seu acervo. Informou ainda que não poderia fornecer contato do bilionário, que não foi localizado para se manifestar.
Das montanhas de Hakone aos cassinos de Las Vegas
Situado na área florestal de Hakone, famoso resort de montanha, o museu foi inaugurado em 2013 como vitrine para uma coleção de centenas de peças. Segundo a Sotheby’s, o acervo foi estruturado ao longo de 30 anos pela Kochukyo Co., concessionária de arte fundada por Hirota Matsushige — mais tarde conhecido como Fukosai — que assessora museus e colecionadores desde 1924.
“À medida que o escopo da minha coleção se ampliou — de pinturas tradicionais japonesas para cerâmicas asiáticas e arte budista — e a quantidade de peças aumentou, convenci-me de que precisava construir um espaço que preservasse adequadamente esses tesouros culturais, para que fossem apreciados pelo maior número possível de pessoas”, escreveu Okada na introdução do museu.
Okada é ex-presidente da Universal Entertainment Corporation, fabricante de máquinas de entretenimento, em especial de pachinko — híbrido entre pinball e caça-níqueis bastante popular no Japão. Por isso, ganhou o apelido de “Rei do Pachinko”.
Há anos, ele e Wynn tornaram-se aliados e fundaram a Wynn Resorts em 2002, após Wynn vender a Mirage Resorts para a MGM Grand.
“Eu amo Kazuo Okada tanto quanto qualquer homem que já conheci na minha vida”, declarou Wynn em teleconferência de resultados em 2008.
Mas a parceria desandou. Ambos passaram a trocar acusações de pagamentos irregulares a autoridades na Ásia. Em 2012, a Wynn Resorts destituiu Okada da vice-presidência e recomprou, com desconto, a participação de 20% da Universal.
A Universal, com sede em Tóquio, contestou o valor do resgate na Justiça. Em 2018, venceu o litígio após um acordo no qual Wynn e a Wynn Resorts aceitaram pagar US$ 2,6 bilhões para encerrar o processo movido pela Universal e sua subsidiária, a Aruze USA Inc.
Mas, de acordo com os autos, Okada se negou a pagar os US$ 50 milhões ao escritório que o representou no caso, o que levou à arbitragem. Depois, ele argumentou no tribunal que o processo havia sido injusto, alegando que um problema de saúde o impediu de participar integralmente.
O escritório Bartlit Beck contratou a Kobre & Kim para executar a decisão arbitral, e tribunais federais de Illinois confirmaram a sentença, destacando em uma decisão que Oka
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