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'Game of thrones do bicho', diz criador de 'Os donos do jogo', nova série sobre contraventores

22/10/2025 06:31 O Globo - Rio/Política RJ

Jefferson Moraes, mas pode chamar de Profeta, aquele que enxerga longe, dotado de intuição e sabedoria diferente daquelas de reles mortais. Talvez seja preciso mesmo um dom quase divino para bancar tamanha ambição: deixar o jogo do bicho de Campos dos Goytacazes e vir para o Rio com o plano de integrar a cúpula da contravenção. Esta é a premissa de “Os donos do jogo”, série de ficção da Netflix que estreia na próxima quarta-feira, 29 de outubro, explorando os meandros desse tipo de crime organizado.
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Profeta, que conduz o jogo com os planos de se tornar um grande bicheiro, é interpretado pelo ator André Lamoglia, carioca de Laranjeiras de 28 anos, conhecido no mercado internacional pela série teen espanhola “Elite”, também da Netflix. Além dele, integram o elenco Chico Diaz e Juliana Paes (nos papéis de Galego e Leila, da família Fernandez) e Xamã, Mel Maia e Giullia Buscaccio (o Búfalo e as irmãs Mirna e Suzana, da família Guerra).
— É uma série muito completa — diz Lamoglia, que fez aulas de manejo de armas e tiro para viver o personagem. — Nem diria que é só de ação. Tem romance, pitadas de melodrama e famílias disputando o poder, mostrando o que cada um é capaz de fazer para chegar lá.
Giullia Buscácio e Xamã em cena na série "Os donos do jogo", da Netflix
Albert Andrade / Netflix
Uma espécie de “Game of thrones” do jogo do bicho, diz o criador da série, Heitor Dhalia, que bebe no shakesperiano enredo de sucessão. Mas “Os donos do jogo” é , acima de tudo, uma obra de máfia.
— Uma máfia tropical, carioca, brasileira — diz o cineasta, que cita os dois pontos de partida dessa história. — O primeiro era fazer uma atualização radical do jogo do bicho e mostrar como é hoje: há outros dinheiros envolvidos, nepobabies, Barra da Tijuca, Zona Sul, além do subúrbio do nosso imaginário. O segundo foi situar esse universo no gênero. Ouvi de vários agentes de segurança que o bicho é o mais similar que temos com máfia italiana, inglesa ou russa. Os próprios bicheiros, durante todo esse tempo, se identificaram com isso. A gente já viu em documentários a imagem do Don Corleone.
Por falar em documentários, Heitor Dhalia esclarece que “Os donos do jogo” foi criado entre 2021 e início de 2022, para que ninguém pense que sua produção é uma resposta ficcional a “Vale o escrito”. A série documental de sucesso do Globoplay foi lançada em outubro de 2023.
— O nosso roteiro foi escrito antes — diz ele. —Lembro-me quando, na semana em que tivemos o sinal verde (da Netflix), fui jantar com o Pedro Bial, meu amigo. Ele falou: “Você vai querer fazer uma ficção da série que vou lançar agora”. Ele começou a me contar, e eu disse: “ Bial, preciso te falar uma coisa para você não achar que estou te copiando. Estou trabalhando nisso há dois anos e recebi sinal verde nesta semana”. Então, é coincidência, o zeitgeist, o espírito do tempo.
Tamara e Shanna Garcia
O diretor acha divertidas as comparações, que, por exemplo, já surgiram com os personagens de que o Brasil ficou íntimo na época de “Vale o escrito”. As irmãs interpretadas por Giullia Buscaccio e Mel Maia (Suzana e Mirna Guerra, respectivamente) já são associadas às reais Tamara e Shanna Garcia pela turma das redes. A história pode até ter elementos da realidade, mas ninguém é retrato fiel de ninguém.
André Lamoglia como Profeta em 'Os donos do jogo'
Marcos Serra Lima/Netflix
—Não são personagens reais — reitera. —O universo tem relação, mas fizemos um caldeirão. Jogamos tudo ali, misturamos e fizemos uma alquimia (risos).
Dessa receita, um ingrediente que não faltou foi o carnaval. Além dos ensaios de escola de samba que permeiam a série, a Marquês de Sapucaí foi passarela para o último episódio.
— A equipe levou escolas de samba (de verdade) para a Avenida, então, tinha bateria, passistas e tudo mais — conta André Lamoglia. — Ficou um carnaval incrível, bem parecido. E foram os dois últimos dias de gravação, havia essa mistura de trabalho e nostalgia, de “vamos aproveitar”.
A temporada de gravação de “Os donos do jogo” foi mesmo uma forma de curtir o Brasil. Há cinco anos, desde que entrou em “Elite”, André mora em Madri, na Espanha. Das oito temporadas totais, ele fez as quatro últimas. Finalizada em 2024, é a série de ficção original mais longeva da Netflix espanhola e teve até a participação de Anitta na sétima parte.
— Foi um trabalho que me deu uma visibilidade mundial. Ainda me surpreende. Às vezes, as pessoas pedem uma foto e vêm com um idioma diferente. Por curiosidade, até pergunto de onde são, e a resposta são lugares que você nem imagina — diz ele. — Mas, depois, com todo esse alcance, tinha vontade de trabalhar no Brasil, e o “Jogo” veio nesse momento. Tenho um plano de carreira a longo prazo, precisei dizer “não” para me encaixar e

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