
Enfraquecimento ósseo não é novidade: análise de esqueletos revela origem ancestral da fragilidade desde o Neolítico
Um passeio por qualquer farmácia revela uma abundância de suplementos de cálcio e vitamina D, com alertas sobre a importância de cuidar dos ossos diante do estilo de vida moderno. No entanto, um estudo publicado em setembro na Science Advances sugere que a fragilidade óssea não é exclusiva do século XXI, aliás, ela acompanha a humanidade desde os primórdios da civilização.
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Pesquisadores liderados por Vladimír Sládek analisaram 1.881 esqueletos de diferentes períodos da Europa, abrangendo 9.000 anos de história, para investigar como os ossos envelhecem. O foco foi o estudo do úmero, fêmur e tíbia, avaliando tanto a estrutura externa quanto interna, com atenção especial à resistência mecânica. O resultado surpreendeu: a perda de força óssea ao longo da vida permaneceu consistente, independentemente de mudanças drásticas no modo de vida, da agricultura ao ambiente urbano pré-industrial.
Mesmo com o avanço da industrialização ou a diminuição de atividades físicas intensas, os ossos continuam a perder resistência da mesma forma. Segundo os autores, esse enfraquecimento é determinado por processos biológicos profundamente enraizados na evolução humana, e não pelo sedentarismo ou hábitos contemporâneos. O corpo tenta compensar a perda interna de massa óssea com a aposição subperiosteal — crescimento do osso externamente —, mas o mecanismo é insuficiente para evitar a fragilidade progressiva.
Adolescência, fase crucial para ossos saudáveis
O estudo destaca a adolescência como período crítico para a formação de ossos fortes. O desenvolvimento adequado nessa fase aumenta as chances de manter a saúde óssea na vida adulta, enquanto déficits na infância e adolescência elevam o risco de fragilidade futura. Diferenças entre os sexos também são evidentes: mulheres apresentam ossos menos robustos desde cedo, especialmente em úmeros e tíbias, e maior declínio de resistência com o passar dos anos. Em contraste, o fêmur mantém maior força ao longo da vida, em homens e mulheres.
Outro ponto revelador é que a atividade física, embora importante para a manutenção da massa óssea, não muda substancialmente a forma como os ossos envelhecem. Populações neolíticas com intensa rotina física e sociedades modernas mais sedentárias exibiram padrões similares de perda de resistência. “A fragilidade óssea é uma característica biológica e evolutiva da espécie humana, não apenas consequência da vida contemporânea”, afirmam os pesquisadores.
O estudo de Sládek reforça o valor da bioarqueologia para compreender desafios atuais de saúde. Ao observar a história da fragilidade óssea, é possível questionar suposições sobre hábitos modernos e identificar estratégias mais eficazes de prevenção, como atenção ao desenvolvimento ósseo na infância e adolescência.
A pesquisa confirma que o enfraquecimento dos ossos é uma constante na história humana, resultado de processos evolutivos, e destaca a importância de políticas e práticas de saúde que considerem tanto a biologia quanto o estilo de vida, preparando as próximas gerações para ossos mais resilientes.
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