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Feira do Lavradio, que faz 30 anos, abriu caminho para mudanças na Lapa e na Praça Tiradentes

11/10/2025 07:30 O Globo - Rio/Política RJ

Aberta em 1771, por ordem do marquês de quem herdou o nome, a Rua do Lavradio foi concebida como uma ligação entre a Lapa e o Largo do Rocio, atual Praça Tiradentes. É assim até hoje, mas todo o resto por lá mudou — e muitas vezes. A vocação residencial do início deu lugar à boemia que fez história na região. Ao longo do tempo, brechós, antiquários, restaurantes e casas de espetáculos, em convivência harmoniosa com bares e bilhares, deram nova personalidade à via com pouco mais de 700 metros de extensão e incrível capacidade de se renovar.
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A Lavradio sobreviveu a diversas transformações, incluindo o “bota-abaixo” do prefeito Pereira Passos, que mudou a cara da cidade no início do século passado. Já atravessada por mais de 200 anos de história, quase sucumbiu à degradação em meados da década de 1990. Foi salva por uma feira que, cheia de vida, em outubro chega aos 30 anos de existência trazendo novidades como um polo gastronômico e roda de samba. A celebração de aniversário ganhará festa no próximo dia 25, a partir das 14h, com a inauguração do Palco Isnard Manso e apresentação especial do Dança CCC.
Um pedido de socorro
Inspirada em iniciativas semelhantes como a Feira da Ladra, em Portugal, Portobello Road, em Londres, San Telmo, na Argentina, e o Mercado das Pulgas, em Paris, a Feira do Rio Antigo — nome oficial do evento que atrai milhares de cariocas e turistas aos sábados — surgiu como um pedido de socorro. Antiquários e donos de bares e restaurantes locais estavam exasperados com o grau de abandono da rua, que alagava a qualquer chuva mais forte. Sua rede de drenagem muito antiga, com manilhas de barro estreitas, não dava conta: a água da chuva misturada ao esgoto atingia mais de meio metro de altura, invadindo os estabelecimentos. Muitas lojas fecharam nesse período.
— Nós resolvemos chamar a atenção do poder público criando uma feira de antiguidades, porque aquela era uma rua de antiquários — conta o comerciante Plinio Fróes, líder do movimento que levou à Feira do Rio Antigo.
O começo foi tímido, com a participação de apenas 15 antiquários que passaram a expor suas mercadorias na rua, aos sábados. Logo a iniciativa atraiu a atenção do público. O sucesso chamou a atenção da prefeitura, que acatou o apelo dos comerciantes para executar um projeto de revitalização. A intervenção, que durou cerca de quatro anos, trouxe obras que deram fim a problemas crônicos, como o provocado pelas enchentes. O comércio voltou a crescer. Bares e restaurantes se juntaram aos antiquários que resistiram. A retomada da Rua do Lavradio acabou ajudando a impulsionar seus dois extremos, a Lapa e a Praça Tiradentes.
Dia de feira. A cada sábado, a Rua do Lavradio, no Centro do Rio, recebe 370 expositores, polo gastronômico com 50 barracas, programação musical e mais de 20.000 visitantes, entre cariocas e turistas
Leo Martins
— A ocupação do espaço urbano foi pensada para anos à frente. Hoje se vê que foi uma ação acertada para a cidade do Rio. Eu faria tudo igual novamente — diz Cesar Maia, que era o prefeito da época e estava no primeiro dos seus três mandatos.
O arquiteto e urbanista Augusto Ivan de Freitas Pinheiro, que naquela ocasião era o subprefeito do Centro, foi o responsável por levar a Cesar Maia a reivindicação dos comerciantes. Ele credita a essa movimentação espontânea da iniciativa privada o sucesso da revitalização da Rua do Lavradio.
—Trinta anos atrás a rua era um caos. Era muito central e de muita importância para a história da cidade e da região, mas tinha sofrido um processo de decadências muito grande. Nos anos 90 houve uma mudança na mentalidade de olhar a cidade. Acreditava-se que o lugar que estava fracassado era fadado a permanecer assim. Só não contavam, na ocasião, com a organização que estava se formando lentamente entre os comerciantes da área para poder reivindicar melhorias locais — afirma Augusto Ivan, acrescentando que a inclusão da via no Corredor Cultural foi fundamental para sua preservação e, em especial, para o combate a problemas de drenagem, de esgotamento sanitário, de estacionamentos irregulares e até bagunça viária — a área servia de ponto final para boa parte dos ônibus vindos da Zona Oeste.
Após reformas, vida nova
As melhorias feitas pela prefeitura, que incluíram a remoção dos pontos finais dos coletivos, acabaram atraindo não só um novo tipo de comércio — muitos casarões foram ocupados por bares e restaurantes, renovando a vocação boêmia do lugar —, como também um público diferenciado, como os funcionários de grandes estatais instaladas na vizinhança, a exemplo da Petrobras e do BNDES, ambos na Avenida Chile.
A feira mudou também o seu perfil, com a chegada de artesãos, vendedores de discos e de roupas, se consolidou e passou a ser realizada sempre no primeiro sábado de cada mês. Isso

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