
Executivos discutem os desafios para a economia brasileira
O mercado financei já começa a ajustar suas expectativas para a eleição presidencial no Brasil, em 2026, e tenta decifrar como esse evento político vai impactar a Bolsa, o câmbio e os juros. Estão também no radar, porém, as tarifas comerciais — e a imprevisibilidade das decisões do presidente americano Donald Trump — além da possibilidade do surgimento de uma “bolha” de investimentos em inteligência artificial (IA).
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— A eleição presidencial no Brasil vai impactar os ativos e há um ajuste de expectativas neste momento sobre quem seria o candidato mais competitivo frente a Lula. Mas uma nova ameaça tarifária de Donald Trump sobre a América também está no ar. E, além disso, o mercado global está tomando muito risco, e fala-se até no surgimento de uma bolha lá fora — resume Ermínio Lucci, CEO da BGC Liquidez.
Ele participou do painel Perspectivas e Desafios da Macroeconomia Brasileira, em mais uma edição do Caminhos do Brasil, debate promovido pelos jornais O GLOBO, Valor Econômico e rádio CBN, em São Paulo, no último dia 14, durante o Global Voices.
O evento contou com o patrocínio do Sistema Comércio, através da Confederação Nacional do Comércio (CNC), do Sesc, do Senac e de suas federações, e foi mediado pelos jornalistas Alex Ribeiro, repórter especial do Valor, e Luciana Rodrigues, editora de Economia do GLOBO.
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No Brasil, é consenso entre os gestores que um dos principais problemas a ser atacado pelo novo governo é a situação fiscal do país. E uma vitória da oposição é vista como uma probabilidade maior de que o ajuste fiscal seja feito via corte de gastos. Isso abriria espaço para uma redução mais rápida da taxa básica de juros, a Selic, avalia Octávio Magalhães, diretor de investimentos da Guepardo Investimentos.
Horizonte positivo
Já João Braga, fundador da Encore Capital, avalia que o foco do governo em arrecadar, em vez de cortar gastos, “cria fadiga política e limita a eficácia da política econômica”. No entanto, ele vê boas perspectivas para quem pensa num horizonte mais longo.
— No curto prazo, o mercado se assusta muito. Mas o fato é que quem consegue esperar, quem olha para o longo prazo tem o melhor cenário que pode existir — diz Braga.
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Para o gestor, os resultados corporativos não estão ruins, o crescimento da economia tem surpreendido — por motivos bons e ruins — desde 2019 e os juros devem finalmente cair no Brasil, após já terem começado a recuar nos Estados Unidos.
Ele acrescenta que, nos últimos 17 anos, para os investidores internacionais, era melhor ficar com o capital alocado nos EUA. O país estava com juros baixíssimos, o presidente Trump havia reduzido impostos corporativos no seu primeiro mandato e os avanços tecnológicos, sobretudo na nova fronteira da inteligência artificial, impulsionavam os negócios.
Mas, agora, neste segundo mandato, o governo Trump está acrescentando incertezas ao cenário global com suas tarifas comerciais. Em paralelo, a China mostrou que também está avançando no desenvolvimento de IA. Com isso, o investidor busca outros destinos para seus recursos e há um excedente de dinheiro no mundo para ser alocado em outros países fora dos Estados Unidos, inclusive o Brasil.
— É o que eu chamo de teoria da piscina olímpica. Se você tirar cinco baldes de água dela, a piscina (que seria o mercado acionário americano) vai parecer igual. Mas se você jogar os baldes em uma banheira pequena, que é o Brasil, faz uma diferença muito grande. Já é um pouco o que aconteceu neste ano — compara Braga.
Para que o ambiente de negócios melhore ainda mais no país, é preciso avançar na agenda reformista, na avaliação de Erminio Lucci, CEO da BGC Liquidez. Para ele, a reforma tributária, promulgada em 2023, mas cujos efeitos só começarão a ser sentidos em 2026, também ajuda as empresas porque simplifica os processos. É preciso, entretanto, dar novos passos:
— Começa pela reforma administrativa. O Estado brasileiro é grande e caro. E muito do que foi feito na reforma trabalhista está sendo desfeito. Empregar pela CLT ainda é caro e essa discussão precisa ser retomada — afirmou Lucci.
O risco Trump
As discussões globais sobre a formação de uma “bolha” de investimentos em inteligência artificial também entraram na pauta dos gestores, há alguns meses, como novo possível risco aos investimentos.
— Mas tem assuntos, como a IA, que nem mesmo os CEOs, os fundadores dessas empresas conseguem entender se os ativos estão caros ou baratos, qual é o seu tamanho, onde essas empresas vão chegar. Dizer que há uma bolha também é um risco, porque pode ser que essas companhias entreguem o resultado que está sendo projetado e continuem crescendo. Eu não sei avaliar, por isso
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