Do Buda gigante às rotas internacionais: veja o aeroporto de R$ 11 bilhões que o Camboja acaba de inaugurar; imagens

Num dia úmido de outubro, o silêncio do saguão de embarque em Phnom Penh foi quebrado por cânticos budistas. Monges, com túnicas alaranjadas, rodeavam uma estátua dourada de Buda com nove metros de altura. A bênção marcava o começo de um novo capítulo no céu cambojano: só após a consagração da obra, que pesa nove toneladas, os aviões puderam pousar no mais recente e ambicioso aeroporto do país, o Aeroporto Internacional Techo, inaugurado na segunda-feira (20).
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O terminal, localizado a cerca de 30 quilômetros ao sul da capital, custou US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10,78 bilhões) e ocupa 87 mil metros quadrados. O projeto arquitetônico, assinado pelo escritório britânico Foster + Partners, foi inspirado nos cocares das dançarinas Apsara, ícones da cultura Khmer. Lá dentro, a luz natural atravessa janelas do chão ao teto e realça o piso de madeira clara e a vegetação tropical. De acordo com Nikolai Malsch, sócio sênior da Foster + Partners, ouvido pela CNN, o desenho prioriza trajetos intuitivos, com distância máxima de caminhada de 500 metros até os portões: “Ao caminhar em direção aos portões, chega-se a um ponto em que o portão está à esquerda ou à direita”.
O aeroporto também tem ambições sustentáveis: a cobertura curvilínea funciona como sistema de captação de água da chuva, enquanto empresas locais se integram ao espaço — a rede Brown Coffee chegou a operar ainda durante as obras, servindo trabalhadores e visitantes. Para Charles Vann, diretor da Cambodia Airport Investment Company, o terminal pode ser uma atração em si. “Acreditamos que este aeroporto pode atrair muitos viajantes e turistas para o Camboja, de forma semelhante a Dubai ou Londres”, afirmou à CNN.
Portal para o futuro — e para o turismo
O governo de Hun Manet vê no Techo International um marco econômico. “Esse é um novo passo que reflete a visão de longo prazo para o desenvolvimento do Camboja”, declarou o premiê ao inaugurar o aeroporto em 20 de outubro. Hoje, o país recebe apenas cerca de 2,5 milhões de turistas internacionais por ano — número modesto diante dos 18 milhões que visitam o Vietnã e dos 32 milhões que vão à Tailândia, segundo dados citados pela CNN. Com novas rotas diretas para centros como Istambul e Abu Dhabi, a expectativa é ampliar a conectividade e, com isso, a visibilidade do destino.
A modernização inclui scanners de reconhecimento facial e até uma música-tema oficial — “Power of Techo International Airport” — compartilhada nas redes sociais do premiê. O terminal também compõe o plano diretor “Sacred Tourism 2025-2035”, que pretende diversificar o turismo além de Angkor Wat, apostando em bem-estar, experiências comunitárias e atrações no sul do país.
Desafios no horizonte
Apesar do entusiasmo, há obstáculos no caminho. A CNN lembra que o aeroporto foi inaugurado quatro dias após a Coreia do Sul emitir um alerta raro — o “código preto” — por riscos envolvendo golpes e segurança no país. Analistas também mantêm cautela. Shukor Yusof, fundador da Endau Analytics, avalia que só infraestrutura moderna não basta: “Vietnã e Tailândia oferecem mais em termos de cultura, gastronomia e, principalmente, segurança”. Para ele, o Camboja ainda precisa superar a imagem associada a fraudes e tráfico humano.
Além disso, o antigo Aeroporto Internacional de Phnom Penh foi fechado, e seu futuro permanece indefinido. Já o novo terminal aguarda a segunda fase de desenvolvimento, que deve incluir ligação ferroviária ao centro da capital. Por enquanto, o acesso ocorre principalmente por carro ou tuk-tuk, pela nova rodovia que atravessa campos de arroz.

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