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Alguns israelenses relatam temor após palestinos condenados por matar seus familiares serem libertados

14/10/2025 03:01 O Globo - Rio/Política RJ

A libertação dos reféns que estavam sob poder do Hamas na Faixa de Gaza nesta segunda-feira emocionou grande parte dos israelenses, que celebram com festa pelo país. A boa notícia para uns, por outro lado, foi motivo de tristeza para outros. O retorno dos reféns que passaram pouco mais de dois anos em cativeiro no enclave palestino estava condicionado à soltura de cerca de dois mil presos palestinos detidos em Israel. O combinado estava previsto no acordo de cessar-fogo firmado entre o Hamas e Israel na última sexta-feira.
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Quando Abraham Moses, de 75 anos, soube que o homem condenado pelo assassinato de sua esposa e filho há mais de três décadas seria libertado, abraçou seus dois filhos sobreviventes e chorou. Mas, "para recebermos os vivos de volta", disse ele em uma entrevista no domingo, "é hora de fazermos isso".
Moses está entre centenas de israelenses que viram os nomes de palestinos condenados pelos assassinatos de seus familiares na lista oficial de pessoas a serem libertadas nesta segunda-feira. Dos 1.968 palestinos presos que Israel afirmou ter libertado, cerca de 1.700 foram detidos em Gaza ao longo dos dois anos de conflito e mantidos sem acusação ou julgamento, e outros cerca de 250 haviam sido condenados por ataques violentos.
Entre o segundo grupo estava Mohammad Adel Daoud. Ele foi condenado à prisão perpétua em 1989 por atirar uma bomba incendiária dois anos antes no carro que transportava Moses, sua esposa e seus três filhos, em frente à sua casa, no assentamento de Alfei Menashe, na Cisjordânia. A esposa de Moses, Ofra, morreu no local. Seu filho de 5 anos, Tal, morreu três meses depois devido aos ferimentos. O israelense e seus outros dois filhos sobreviveram, sofrendo queimaduras graves.
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Enquanto muitos em Israel comemoravam a notícia de que os 20 reféns vivos e os restos mortais de pelo menos outros 26 seriam devolvidos de Gaza, para famílias como a de Moses, a notícia também trazia apreensão. Alguns expressaram horror com a perspectiva de ver as pessoas condenadas por matar seus entes queridos livres novamente.
Após descobrir que o homem condenado pelo assassinato de sua mãe estava na lista dos que seriam libertados, Renana Meir escreveu em um jornal israelense na sexta-feira: "Quando o terrorista for libertado no próximo acordo, vocês pagarão o preço".
“Cada israelense em cada casa em Israel estará menos seguro”, escreveu Meir.
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Israel já trocou reféns por prisioneiros palestinos no passado, muitas vezes em proporções desfavoráveis ​​que alimentaram debates acirrados. Yahya Sinwar, amplamente visto como o arquiteto do ataque de 7 de outubro de 2023, foi libertado junto com mais de 1.000 prisioneiros palestinos em troca de um soldado israelense em 2011. Vários ministros do governo se opuseram à troca na segunda-feira, dizendo que era desproporcional e trazia muitos riscos à segurança.
Mas para Moses, a libertação ofereceu a perspectiva de que outras famílias poderiam ter o que ele não teve. Ao ouvir o anúncio do acordo de cessar-fogo, ele e seus dois filhos sobreviventes digeriram a notícia juntos.
— Choramos porque o assassino desprezível será libertado — contou.
Mas disse aos seus filhos: “Imaginem o sentimento das famílias que acolheriam seus entes queridos que retornam do inferno”.
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Moses é presidente da Organização Nacional das Vítimas do Terror de Israel, um grupo que oferece apoio e defesa a cerca de 40 mil civis vítimas de ataques e seus familiares, incluindo muitos sobreviventes do ataque de 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra em Gaza.
Ele reconheceu que sua opinião sobre as libertações não era compartilhada por muitas das famílias que seu grupo representa. E relatou que foi repreendido por alguns parentes das vítimas, que não conseguiam entender sua posição.
Outro grupo que representa algumas famílias das vítimas recorreu à Suprema Corte de Israel na sexta-feira, após as autoridades publicarem a lista de prisioneiros com previsão de libertação. O grupo solicitou ao tribunal que bloqueasse a libertação daqueles "que voltarão a assassinar", mas o pedido foi indeferido.
Moses disse acreditar que os reféns que retornassem seriam capazes de superar o trauma e prosperar, assim como ele e seus filhos.
— Não importa como eles retornem, nós os trataremos — disse ele. — Nós os devolveremos à vida.

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