
Volta ao mundo da gastronomia: barracas de diferentes nacionalidades formam roteiro multicultural que vai da Praça Paris à Feira da Glória
Apesar do nome que remete à Cidade Luz, na Praça Paris, na Glória, é possível dar a volta ao mundo. Barracas de diferentes nacionalidades formam um roteiro gastronômico multicultural: do ocidente ao oriente, ninguém fica de fora. Por lá, há quitutes de Nigéria, Peru, Japão, Cuba. Quem visita pela primeira vez precisa saber que, em um dia, talvez não seja possível experimentar todas as novidades.
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Vale a pena fazer um roteiro temático: dia de provar os quitutes da América Latina ou dia de conhecer a mistura do Brasil com Egito? Para quem já é frequentador assíduo, o sentimento é aquele mesmo de visitar um lugar ou um restaurante onde se pode sentir acolhimento. A reciprocidade se replica com os comerciantes, que se sentem mais seguros dentro do parque.
— Aqui é mais organizado do que era a feira na rua. É mais limpo e seguro. Antes, às vezes eu chegava e outro feirante tinha roubado minha barraca, eu não conseguia trabalhar — lembra Tjala Tiffin, de 27 anos, da barraca A Formiguinha Inglesa.
Sucessos de crítica
Quando resolveu morar no Rio, a inglesa, ao visitar a Feira da Glória, constatou que não havia quem vendesse sobremesas típicas do seu país no local. Logo viu ali uma oportunidade. Na sua barraca, ela oferece coffee and walnut cake (bolo de café e nozes) e o lemon curd cake (bolo de limão), além de versões adaptadas ao paladar brasileiro, com mais recheio e cobertura.
— Os bolos ingleses são mais simples, então, eu misturo um pouco. É uma releitura — explica. — Eu amo o ambiente da feira, é bonito, familiar, cheio de vida. E eu gosto de fazer bolo.
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Os nigerianos Latifa Adunni Hassan e Mubarak Hassan são uma atração da feira. Todo domingo que montam a tenda Cozinha da Latifa, dezenas de pessoas se aglomeram para provar ou repetir os bem temperados pratos de arroz com camarão. A família foi acolhida há quatro anos no Rio, onde encontrou refúgio após fugir da Nigéria por conta da guerra civil envolvendo o grupo islâmico Boko Haram. Na Feira da Glória, eles já têm amigos e fãs.
— Agora temos vizinhos de barraca angolanos, colombianos. E eles também viram clientes. Os franceses e os dos Estados Unidos são os mais curiosos. No geral, entre pessoas do Rio, turistas e comerciantes, num dia a gente chega a atender 300 visitantes — diz Mubarak Hassan, filho de Latifa. — Na Praça Paris, temos mais espaço. Os clientes têm elogiado bastante. Trabalhamos das 10h às 18h. Temos clientes fiéis, pessoas que vêm muito.
Personagens de série também inspiram cozinheiros fluminenses a replicar outras culturas. Ronan Mattos, de 38 anos, é o chef responsável pela barraca Chalita da Glória — uma referência ao restaurante árabe da série da TV Globo “Tapas e Beijos”. Natural de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, ele explica que o seu negócio tem um diferencial: a proposta de unir elementos da gastronomia brasileira a receitas tradicionais árabes, para atrair o público e criar novas combinações.
O carro chefe da casa é o arroz 1001 noites, que une os ingredientes clássicos da culinária árabe a receitas com cupim, picanha suína ou frango.
— Como eu vinha de um trabalho recente em um restaurante árabe, pensei em juntar as duas coisas — diz.
O que Ronan põe em prática é parecido com o que faz o chef Sérgio Tavares, veterano da gastronomia japonesa sem ascendência oriental. Com 35 anos de experiência, o brasileiro estudou no Japão e chefiou cozinhas de restaurantes como o Zen, o badalado Gurumê e o Kotobuki, com 40 anos de existência na cidade.
— Eu amo a gastronomia japonesa. Além dela, também trabalho com culinárias chinesa, brasileira e até molecular, que modula o estado físico dos alimentos — explica.
A ideia de abrir uma barraca na Feira da Glória surgiu depois de uma visita casual ao espaço. Foi quando percebeu que não havia comida japonesa ali. O processo de entrada foi difícil, pois há uma longa fila de espera, mas Sérgio conseguiu. Há um ano mantém a operação com sucesso. Hoje, ele é o único representante dessa culinária na feira.
— O público é diverso e curioso. É um sucesso — resume o chef, orgulhoso por manter viva a tradição oriental no coração do Rio.
À espera de regularização
Um pouco mais adiante, os sabores de Portugal ganham destaque com a barraca Doces Portugueses Barcellos. Carolina Barcellos, de 18 anos, está trabalhando na barraca da mãe e mantendo viva uma tradição familiar. A receita veio da avó paterna, filha de portugueses, e atravessou gerações até chegar a ela.
— Minha avó tinha oito irmãos, e todos trabalhavam com confeitaria e padaria. Quando meus pais se casaram e vieram para o Rio, minha mãe começou a trabalhar com minha avó, e a receita foi passando — conta.
Hoje, Carolina divide o trabalho com os irmão
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