
Vinicius de Moraes ganha exposição no MAR com manuscritos, quadro de Portinari e mais itens raros
O quadro “Retrato de Vinicius de Moraes” (1938), de Cândido Portinari, dá as boas-vindas ao visitante da exposição “Vinicius de Moraes — Por toda a minha vida”, que chega ao MAR - Museu de Arte do Rio neste sábado (18). Exibida pela primeira vez ao público carioca na véspera dos 112 anos de nascimento do artista , a pintura é um convite ao íntimo da vida e da obra do Poetinha (1913-1980), que marcou a cultura popular brasileira.
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— Ele era fascinado por esse quadro. Sempre que se separava de uma mulher, levava só duas coisas: o retrato e a escova de dentes — revela José Castello, autor da biografia “Vinicius de Moraes: o poeta da paixão” (1994), que admitiu não lembrar o número exato dos vários casamentos de Vinicius (foram nove).
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Depois de estrear no Farol Santander de São Paulo, em 2022, e passar pelo Farol Santander de Porto Alegre no ano passado, a mostra desembarca na cidade natal do artista trazendo mais de 300 itens, incluindo raridades como os manuscritos do poema “Soneto de fidelidade” e das letras de clássicos como “Garota de Ipanema” (1963) e “Chega de saudade” (1959), compostos com Tom Jobim, e “Tarde em Itapuã” (1977), com Toquinho. São exibidos ainda o jornal “O Mexerico”, criado pelo poeta aos 8 anos, documentos originais, fotografias ao lado de figuras como Chico Buarque e Maria Bethânia e um piano e um violão.
Em cinco núcleos, a exposição passeia por diferentes facetas do homenageado, desde as mais celebradas, como compositor e poeta, até outras menos conhecidas pelo grande público, como a carreira diplomática.
— Essa exposição no Rio tem um sentido especial porque Vinicius de Moraes é um personagem carioca na sua essência. Ele é parte de uma geração que produziu grandes transformações na cultura brasileira, muitas das quais o Rio foi epicentro, que reinventaram nosso sentido de nação. Foi nesse momento que surgiram a bossa nova, o Cinema Novo, a poesia concreta, o teatro de vanguarda, e de tudo isso Vinicius participou, sempre empregando seu caráter libertário — destaca a ex- secretária municipal de Cultura do Rio Helena Severo, que assina a curadoria com o poeta Eucanaã Ferraz.
No percurso, algumas obras célebres ganham destaque especial, como o espetáculo “Orfeu da Conceição” (1956), que inaugurou a parceria histórica entre o Poetinha e Tom Jobim, mestres da bossa nova que influenciaram gerações de artistas da MPB. Ocupam quase uma sala inteira do espaço expositivo cartazes de divulgação de Djanira, Carlos Scliar e Luiz Ventura, croquis dos figurinos, um desenho de Oscar Niemeyer para o cenário e várias fotos de cena da “tragédia carioca”, ambientada em favelas e apresentada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, além de cartazes e trechos do filme “Orfeu negro” (1959), adaptação para o cinema dirigida pelo francês Marcel Camus que levou a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
A atriz Léa Garcia (em pé, à direita) na peça Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes
Reprodução
A mostra ainda celebra outras parcerias marcantes. De Vinicius & Toquinho, é lembrado o famoso álbum “Arca de Noé” (1980), adaptação musical do livro de poemas de mesmo nome, com ilustrações originais de Elifas Andreato (designer e ilustrador responsável por capas emblemáticas de álbuns da MPB) e um espaço fotografável. Da dupla com Baden Powell, o piano em que os dois compuseram o álbum “Os afro-sambas” (1966), no apartamento do poeta com a então esposa Lúcia Proença, no Parque Guinle, em Laranjeiras.
— Vinicius e Baden se encontraram para jantar numa sexta-feira e ficaram até segunda numa maratona à base de uísque e salgadinhos, compondo sem parar — conta Castello. — Em cada fase da carreira, ele tinha um parceiro preferido. Dizia que eram casamentos sem sexo.
Disco "Arca de Noé" (1980) tem núcleo dedicado na mostra "Vinicus de Moraes — Por toda a minha vida", no MAR
Coleção Gabriela Moyle
De espírito livre e questionador, o poeta atuou como diplomata por mais de 20 anos até ser exonerado por seu estilo de vida boêmio, incompatível com as regras rígidas do Itamaraty. Antes, foi cônsul em cidades como Los Angeles, Paris e Montevidéu, fase relembrada por meio de cartas e cartões-postais trocados com amigos e figuras ilustres, como o cineasta Charles Chaplin. Exitosa, a carreira diplomática de Vinicius é também considerada essencial para seu lado artístico.
— Ter morado fora abriu novas perspectivas e o aproximou de artistas de prestígio, como Carmen Miranda e Orson Welles, e de outras pessoas que provavelmente não teria conhecido, ou teria conhecido mais superficialmente — diz o biógrafo.
Tendo vivido intensamente o momento de efervescência cultural do século XX, Vinicius também manteve relação próxima com grandes pintores modernistas, aspecto destacado na exposição. Além do r
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