
Presença de facções e milícias cresce no país e atinge 28,5 milhões de brasileiros, aponta Datafolha
Facções criminosas e milícias ampliaram sua influência sobre o território brasileiro e hoje alcançam a vizinhança de 19% da população, segundo pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgada pela Folha de S.Paulo. O percentual representa 28,5 milhões de pessoas vivendo próximas ao crime organizado, número que cresceu cinco pontos percentuais em relação ao ano anterior. Em 2024, 14% dos entrevistados afirmavam conviver com esse tipo de presença em seus bairros.
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O levantamento ouviu 2.007 brasileiros com mais de 16 anos, em 130 municípios de todas as regiões do país, entre 2 e 6 de junho. A pesquisa analisou a percepção da população sobre o crime organizado, além de situações de violência, golpes financeiros e atuação policial. Segundo os dados, as grandes cidades, as capitais e a região Nordeste concentram os maiores índices de presença de facções e milícias.
Segundo a Folha de S.Paulo, a influência criminosa não distingue classes sociais. Entre os entrevistados que ganham até dois salários mínimos (R$ 3.036), 19% afirmaram viver em áreas sob domínio de grupos ilegais, enquanto entre os que recebem de cinco a dez salários mínimos (R$ 7.590 a R$ 15.180), o índice foi de 18%. A desigualdade racial, contudo, aparece de forma evidente: 23% dos autodeclarados pretos relataram a presença dessas organizações em seus bairros, ante 13% dos brancos.
A convivência com o crime organizado também está associada a outros fenômenos urbanos. Entre os que vivem em áreas dominadas, 27% disseram conhecer cemitérios clandestinos, contra 16% da média geral. Além disso, quatro em cada dez relataram encontrar cracolândias no trajeto diário para o trabalho ou a escola — proporção que aumentou em relação ao levantamento anterior.
De acordo com Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum, “os dados revelam um fenômeno de ampliação do poder de captura das facções sobre territórios e mercados”. Ele destaca que o levantamento foi realizado antes das operações Carbono Oculto, Quasar e Tank, que identificaram a infiltração do PCC (Primeiro Comando da Capital) em setores como o de combustíveis e o financeiro — o que, segundo ele, afasta a hipótese de influência do noticiário recente nos resultados.
O estudo também aponta que 21% dos entrevistados disseram existir serviços de vigilância privada oferecidos por policiais de folga em seus bairros, uma prática proibida em quase todo o país. A pesquisa ainda mostra aumento de relatos de abordagens violentas da Polícia Militar, especialmente entre jovens de 16 a 24 anos e moradores de grandes centros urbanos.
Para Lima, os dados reforçam a urgência de políticas coordenadas e permanentes de enfrentamento ao crime organizado: “Quando há cooperação entre as agências de segurança, os resultados aparecem. O desafio é transformar isso em política de Estado.”
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