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O bom e velho feijão preto tem gosto de festa

16/10/2025 09:01 O Globo - Rio/Política RJ

Estudei em colégio de padres jesuítas. Pouco do que aprendi por lá me serve até hoje, é verdade. Mas não usar o santo nome em vão é uma delas. E é por isso que o tal do feijão carioquinha me apoquenta tanto. Posso elencar mentalmente as caras de frustração quando amigos de outras cidades descobrem que essa é uma das maiores falácias da comida daqui. Faço cara de paisagem e, dependendo da audiência, tento justificar de alguma forma.
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Diogo Melão me explicou que a origem do nome nada tem a ver com nosso DDD. Vem lá dos anos 1970, quando o grão apareceu no interior de São Paulo, rajadinho tal qual a pelagem de uma raça comum de porco por lá, o carioca. Em mesa de bar, já ouvi dizer que é porque as listrinhas mais claras das favas remetem ao calçadão de Copacabana. É, pode ser. Mas fico com a teoria do Melão, craque em comida caipira e piloto titular do fogão a lenha do Capiau.
Alfabetizada em alegria pelas Frenéticas, sei desde pequena que o feijão que tem gosto de festa, é melhor e mal não faz é o famoso “pretão maravilha” da letra de Gonzaguinha. E é esse que reina nas mesas do Rio, está sempre presente nos PFs e inspira criações de ícones da nossa gastronomia.
Bolinho de feijoada criado pela chef Kátia Barbosa
Robertyo Moreyra/Agência O Globo/25-10-2021
Uma das invenções mais famosas com esse velho amigo do peito é o bolinho de feijoada, da Katia Barbosa. É o Brasil inteiro numa mordida só em dia de carnaval na Sapucaí. Há 16 anos no topo das paradas de sucesso país afora.
Puro, com pão, com arroz, com farinha ou com macarrão. Vale, vale tudo! Dos pastéis de feijão gordo do Da Gema, no Maracanã, e os quadradinhos do Bar do Mineiro, em Santa Teresa, ao cachorro-quente. Portuguesa da Ilha do Governador com sotaque e tudo, Rosi Coelho decidiu inovar e botou a feijoada completa dentro do pão.
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Nada de molho de tomate, a base é de lombo e carne seca acebolados, desfiadinhos, a linguiça é feita no feijão para pegar cor e mais sabor. Para completar, couve crispy por cima para dar aquela crocância. O negócio fica completo com um copinho de caldinho de feijão, a ser consumido a gosto do freguês: como molho ou como shot. Onde? Lá na Rosi.
O cachorro-quente de feijoada
Divulgação
Dois feijões cariocas — carioquinha, nunca — mexem demais com meu coração. Um deles já falei por aqui. É o paio com feijão, do Botequim do Joia. Temperado na medida certa, sem espantar vampiro na saída. O outro é o da Academia da Cachaça. Para iniciantes, vale o da refeição infantil. Um caldinho na verdade, servido naqueles pratinhos com divisória, e vem com bolinhas de carne, arroz e cabelinho de anjo. Para iniciados, o da feijoada é imbatível. O melhor: é servido todos os dias.
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Esse sabor bem Brasil, verdadeiro fator de união da família, me leva para a Embaixada Carioca, no Morro da Urca. Prima da Academia da Cachaça, serve a receita de família, farta, em panelas de barro. Como a gente tem a sorte de morar na cidade onde os outros passam férias, vale tirar um dia de folga e ir turistar por lá sem peso na consciência. Como se não bastasse almoçar com uma das vistas mais bonitas do Pão de Açúcar, você ainda esbarra em feijões originais de Carlos Vergara. O artista e exímio cozinheiro sabe bem quem é que faz mais feliz a mamãe, o papai, o filhinho e a filha. Ontem, hoje e sempre.

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