
‘Sem azul, não há verde’: Aliança SOS Oceano, de ONGs em defesa da vida marinha, é lançada no Rio
Três dias após o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) autorizar a Petrobras a iniciar a perfuração de um poço exploratório localizado em águas profundas do Amapá, a 500km da foz do Rio Amazonas e a 175km da costa, na Margem Equatorial brasileira, um grupo de organizações ambientais lança, no Rio de Janeiro, uma aliança pela proteção da vida marinha brasileira.
— Sem azul, não há verde. Todo e qualquer esforço em proteger a biodiversidade terrestre será nulo se não protegermos o oceano — diz Angela Kuczach, a articuladora da aliança e diretora-executiva da Rede Pró-UC, organização de defesa da preservação ambiental.
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Batizada de SOS Oceano, a coalizão, que reúne ONGs e estudiosos especializados na preservação oceânica, será lançada nesta quinta-feira em evento no Museu do Amanhã, na Zona Portuária do Rio. O anúncio foi feito na Rio Ocean Week, festival anual que discute a preservação dos oceanos. A aliança busca discutir, às vésperas da COP30, a falta de protagonismo dos oceanos na agenda climática brasileira e o atual estado das Unidades de Conservação (UCs) marinhas e costeiras.
De acordo com dados de 2025 do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, o Brasil tem 233 UCs de área marinha ou costeira, o equivalente a 26,54% de toda a superfície marítima do país.
Apesar da parcela, que é quase 20 vezes maior do que a registrada em 2018, apenas 3,31% de toda a área marinha preservada no país está sob regime de proteção integral, modelo no qual a utilização dos recursos naturais é restrita, exceto em casos de uso indireto, como recreação em contato com a natureza, turismo ecológico, pesquisa científica e educação ambiental.
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O coletivo ressalta que, além de aumentar o número de UCs, também é necessário intensificar a proteção de áreas já existentes e mobilizar a sociedade em defesa da proteção efetiva destes ecossistemas, principalmente no caso de regiões sensíveis e estratégicas como o Parque Nacional do Albardão, no Rio Grande do Sul, e o Arquipélago de Fernando de Noronha (PE).
— O Brasil, que tem posição estratégica na proteção do Atlântico Sul, encontra-se apático diante da necessidade de ampliar a proteção marinha — afirma Angela Kuczach.
O Arquipélago de Fernando de Noronha, localizado a cerca de 545km da costa pernambucana
Reprodução: SOS Oceano / Fábio Borges
Além da Rede Pró-UC, também integram a SOS Oceano ONGs como a Sea Shepherd Brasil, Divers for Sharks, Blue Marine Foundation, Instituto Baleia Jubarte, Projeto Golfinho Rotador, entre outras comprometidas com a conservação marinha e costeira.
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No contexto da decisão do Ibama, o coletivo tem o objetivo de apontar incongruências e lacunas na autorização para o início dos estudos.
— É muito preocupante e um pouco contraditório o posicionamento do Brasil em relação à expansão da exploração de óleo em meio a um cenário de transição energética — afirma Alexandre Turra, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP). — Certamente essa decisão é margeada por questões que não são só ambientais, mas também geopolíticas.
Turra, que acumula o cargo de coordenador da Cátedra Unesco para Sustentabilidade do Oceano, afirma que é necessário colocar a preservação da costa da Amazônia brasileira entre os principais assuntos a serem debatidos na COP30, que será realizada em Belém (PA):
— A COP é uma oportunidade muito grande de pautar uma política de desenvolvimento na região integrando os oceanos. A gente vai poder unir a Amazônia verde com a Amazônia azul e enfatizar o entendimento de que o oceano tem um papel crucial tanto na mitigação quanto na adaptação às mudanças do clima.
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