
Tributo a João Gilberto inaugura novo centro cultural em Botafogo, na zona sul do Rio
Na frente, uma casa do início do século XX, restaurada. Atrás, uma sala moderna, construída do zero. Passado e presente se encontram na Acaso Cultural, a nova casa de cultura do Rio. Fica na Rua Vicente de Sousa 16, em Botafogo, na Zona Sul, perto da saída São Clemente do metrô. No show de inauguração, que acontecerá no sábado, 25 de outubro, às 20h, o cantor e violonista Fred Martins e o violoncelista Jaques Morelenbaum fazem um tributo a João Gilberto. O show se repete no sábado seguinte.
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A historiadora Catarina Amaral, diretora executiva do lugar, justifica abrir um espaço cultural neste momento como “responsabilidade social de redistribuição”. Ela é uma das sócias da editora Acaso, que publica livros de ficção e não ficção, especialmente os frutos de pesquisas acadêmicas. Resolveu abrir as portas ao público para, primeiramente, cursos e outras iniciativas ligadas ao trabalho da editora. Logo pensou em mais usos para o espaço.
— O projeto do centro é de 2016. E a ideia sempre foi ter música, que é uma ferramenta transformadora — diz ela, que usou recursos próprios e de investidores na obra de cinco anos.
A Sala Acaso, como se chama área dos fundos da casa, tem capacidade para cerca de 110 lugares. O “cerca” é porque as cadeiras não são presas no chão.
— Seria mais fácil fazer uma estrutura fixa, com cadeiras de um lado e palco do outro. Mas preferimos deixar que a sala seja usada da maneira que se desejar — explica Catarina.
No domingo (26), às 17h, na roda de samba comandada pelo ator e cantor Jorge Maia e pelo violonista Fábio Nin, haverá mais espaço para pessoas em pé. Está prevista a participação da Johann Sebastian Rio, que é a orquestra residente da sala e se apresenta com até 21 músicos.
Gosto eclético
No show de sábado, a disposição dos lugares é a convencional. O repertório tem “Chega de saudade”, “Corcovado”, “Você e eu”, “Pra machucar meu coração” e outras gravadas por João Gilberto.
Embora com pai maestro e formação clássica, Morelenbaum sempre gostou de vários tipos de música popular, incluindo rock e o Clube da Esquina.
— Não tinha uma predileção especial pela bossa nova, mas tive o privilégio de ser chamado para tocar com Tom Jobim (na Banda Nova). Foram dez anos que mudaram a minha vida — ressalta.
Para ele, Fred “é um dos grandes representantes da influência de João Gilberto sobre os músicos brasileiros, porque pegou o jeito de o João tocar violão”. A dupla se formou na Europa, onde Fred mora desde 2010 (sete anos na Espanha e, depois, em Portugal). Tocaram, por exemplo, na Itália, na Áustria, na Polônia e em Cabo Verde, na costa africana.
— João é uma grande referência — afirma Fred, nascido em Niterói há 55 anos. — Tomei conhecimento quando era criança. O que mais me fascinava era “Eu vim da Bahia”, do álbum branco (“João Gilberto”, de 1973).
Atitude provinciana
Na adolescência e no início da juventude, Fred diz ter ficado incomodado com o que chama de “monoculturas”: as ondas de rock, pagode e axé. Hoje, continua crítico ao panorama nacional.
— Vejo uma atitude provinciana de querer repetir fórmulas que deram certo fora. Acho que tem pouca gente conhecendo Tom Jobim, Villa-Lobos, Pixinguinha, os sambistas — acredita. — A música brasileira, mas não só a brasileira, está num momento sem lugar, por causa da saturação. Ninguém escuta uma canção com calma. Está cada um na sua caixinha, no seu grupinho, na sua identidade fechada. E a gente no Brasil é uma colcha de retalhos usados, e isso é bom.
Seus álbuns estão nas plataformas digitais — entre eles um de 2025, “Esperança”, feito com Nancy Vieira, cantora de origem cabo-verdiana nascida na Guiné-Bissau. Mas ele não se empolga com o ambiente:
— O acesso ao público é limitado. É como um cassino: você tem que dar sorte de uma música sua entrar naquelas playlists. É meio ilusório.
Além dos próprios registros, composições de Fred foram gravadas por Ney Matogrosso, Pedro Luís, Zélia Duncan e outros.
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