
Câncer de mama não escolhe gênero: especialistas explicam por que o Outubro Rosa deve incluir pessoas trans
Em outubro, o país se veste de rosa para reforçar a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama, uma doença que pode afetar qualquer pessoa com tecido mamário, independentemente do gênero. O alerta vale para mulheres e homens cis, pessoas transmasculinas, transfemininas e não binárias. Mas, enquanto as campanhas seguem centradas no público feminino, parte dessas pessoas permanece fora do debate. Homens trans e pessoas transmasculinas, mesmo após a redução das mamas com o uso de testosterona ou a realização da mastectomia, continuam suscetíveis ao desenvolvimento da doença. A falta de informação, de protocolos específicos e de acolhimento nos serviços de saúde ainda impede que essa população tenha acesso ao mesmo cuidado. Para especialistas, é hora do Outubro Rosa ampliar o olhar.
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“A campanha do Outubro Rosa costuma ser associada exclusivamente às mulheres cisgênero, mas pessoas transmasculinas, inclusive as que usam testosterona, ainda mantêm o útero, trompas, ovários e tecido mamário. Por isso, mamografia, ultrassom e autoexame não devem ser restritos apenas às mulheres”, explica a especialista em Ginecologia e Obstetrícia, Ana Paula Fabricio.
Quem tem mama pode ter câncer: mitos e verdades
O câncer de mama tem prevalência maior em pessoas com biotipo genético feminino, ou seja, com cromossomo XX, independentemente da identidade de gênero. “Se a pessoa nasceu geneticamente feminina, tem mais chance de ter câncer de mama, independente se é cisgênero, transgênero ou não binária”, detalha o especialista em oncologista do Centro Médico Paulista High Clinic Brazil, Ramon Andrade de Mello.
Por outro lado, homens cis também podem desenvolver a doença, embora representem apenas cerca de 1% dos casos. “O risco é menor, mas existe. Por isso, o rastreio não deve ser ignorado, especialmente em indivíduos com história familiar de câncer de mama ou alterações genéticas conhecidas”, complementa o mastologista Evandro Fallaci, da Oncoclínicas.
O alerta vale para mulheres e homens cis, pessoas transmasculinas, transfemininas e não binárias
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Para pessoas transmasculinas e não binárias em terapia hormonal com testosterona, a situação ainda é pouco estudada. Uma parte da testosterona administrada no corpo pode se converter em estrogênio, hormônio associado ao risco de câncer de mama. “Não há dados suficientes para determinar o impacto dessa conversão, mas é essencial que essas pessoas participem dos programas de rastreio, como qualquer mulher cisgênero”, alerta Andrade de Mello.
Mastectomia e prevenção
A mastectomia para afirmação de gênero, conhecida como mamoplastia masculinizadora, não elimina completamente o risco de câncer de mama. “A cirurgia reduz de forma significativa o volume das mamas, mas sempre permanece algum tecido mamário, especialmente atrás da aréola e nas regiões laterais do tórax. Por isso, mesmo após a cirurgia, o acompanhamento clínico continua essencial”, explica a cirurgiã plástica, Patrícia Lana.
O rastreio após a mastectomia deve incluir autoexame, ultrassonografia ou ressonância magnética, dependendo do volume de tecido residual e da presença de fatores de risco. “O diagnóstico tardio em pessoas trans pode ocorrer por falta de informação, medo de discriminação ou barreiras de acesso. É fundamental manter acompanhamento médico individualizado”, afirma o mastologista Evandro Fallaci.
A falta de protocolos específicos para pessoas trans no SUS e a ausência de dados oficiais tornam o cenário ainda mais desafiador. “Muitas vezes, a invisibilidade dessas populações nas campanhas de saúde pública leva a diagnósticos mais avançados e tratamentos mais complexos. A sensibilização nacional é essencial para otimizar toda a jornada do paciente trans, desde o rastreio até o tratamento”, reforça o especialista em oncologista.
Inclusão e acolhimento
Além das questões médicas, o atendimento humanizado é determinante para garantir que pessoas trans busquem prevenção e tratamento. “Quando atendo pacientes trans, evito julgamentos, chamo pelo nome que desejam e explico cada etapa dos exames. É preciso que se sintam reconhecidos na sua identidade sem que isso interfira nos procedimentos”, explica a especialista Ana Paula Fabricio.
O mastologista Evandro Fallaci completa: “Outubro pode ser rosa, mas o ano inteiro deve ser voltado ao conhecimento e inclusão de todos os grupos suscetíveis ao diagnóstico de câncer de mama. Informação correta e acolhimento desenvolvem confiança e comprometimento com o cuidado”.
Com dados mais precisos, protocolos claros e um olhar atento às especificidades de cada corpo, campanhas como o Outubro Rosa podem cumprir seu objetivo de prevenção de forma efetiva e inclusiva, garantindo que todos, independentemente de gênero ou identidade, recebam cuidados adequados.
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