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Nicolas Sarkozy inicia cumprimento de pena por financiamento ilegal de campanha; francês é primeiro ex-presidente encarcerado no país desde a 2ª Guerra

21/10/2025 08:31 O Globo - Rio/Política RJ

Nicolas Sarkozy tornou-se nesta terça-feira o primeiro ex-chefe de Estado francês a ser preso desde o fim da Segunda Guerra Mundial, após ser condenado por manobrar para financiar ilegalmente com dinheiro líbio sua campanha eleitoral de 2007.
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O presidente conservador entre 2007 e 2012 chegou pouco antes das 10h (8h GMT) à prisão parisiense de La Santé para cumprir pena de cinco anos de reclusão por associação criminosa, imposta por um tribunal em setembro.
“Esta manhã encarceram um inocente”, escreveu minutos antes na rede social X Sarkozy, que denunciou um “escândalo judicial” e um “calvário”. “A verdade triunfará”, mas “o preço a pagar terá sido esmagador”, acrescentou.
A condenação provocou polêmica porque o também marido da cantora Carla Bruni questionou o fato de o tribunal ter determinado sua prisão antes do julgamento do recurso, previsto para os próximos meses.
Aos gritos de “Nicolas! Nicolas!”, dezenas de simpatizantes expressaram apoio, a pedido da família, quando o ex-presidente deixou sua residência em um bairro nobre do oeste de Paris rumo à única prisão da capital francesa, seguido por câmeras e fotógrafos.
Com lágrimas nos olhos, François, um manifestante de 66 anos, denunciou um “julgamento político”. “Estamos na União Soviética!”, gritou outro, enquanto duas bandeiras francesas tremulavam presas a uma grade de segurança próxima.
Nicolas Sarkozy inicia cumprimento de pena por financiamento ilegal de campanha
AFP
Ícone da direita francesa, Sarkozy afirmou no domingo ao jornal Le Figaro que entraria “de cabeça erguida”, levando consigo uma biografia de Jesus e O Conde de Monte Cristo, o inocente injustamente condenado mais famoso da literatura francesa.
Para evitar contato com outros detentos e possíveis registros fotográficos, Sarkozy deverá ocupar uma das 15 celas de nove metros quadrados da ala de isolamento de La Santé, segundo agentes penitenciários. “Oh, bem-vindo, Sarkozy!”, “Está aqui o Sarkozy!”, gritaram alguns presos de suas celas à chegada do ex-presidente.
Nascido em 28 de janeiro de 1955, Sarkozy segue os passos de outros notórios detentos de La Santé, como o venezuelano Carlos “O Chacal”, condenado por atentados nas décadas de 1970 e 1980, e o ditador panamenho Manuel Noriega.
Liberdade condicional solicitada
Os advogados do ex-presidente já pediram sua libertação condicional, conforme a legislação que permite o benefício a presos com mais de 70 anos no momento do encarceramento. A Justiça tem dois meses para decidir.
“Sarko”, como é conhecido na França, é o primeiro ex-chefe de Estado francês encarcerado desde Philippe Pétain, que terminou seus dias na prisão após a Segunda Guerra Mundial por colaboração com a Alemanha nazista. Embora outros líderes europeus já tenham sido presos, Sarkozy é o primeiro de um país integrante da União Europeia.
A prisão contrasta com a imagem de linha dura contra o crime que o “animal político” cultivou como ministro do Interior entre 2005 e 2007 — cargo que o lançou à presidência.
Ele foi condenado por permitir que aliados se aproximassem da Líbia de Muamar Kadafi, morto em 2011, para obter fundos ilegais destinados à campanha de 2007. Embora o tribunal não tenha comprovado o uso efetivo do dinheiro, considerou que os recursos saíram da Líbia, o que motivou a condenação por associação criminosa e pela “excepcional gravidade dos fatos”.
Independência judicial em debate
Esta não é a primeira condenação de Sarkozy, que já usou tornozeleira eletrônica no início do ano. Ele acumula outras duas sentenças por corrupção, tráfico de influência e financiamento ilegal da campanha de 2012, além de responder a outros processos.
Nicolas Sarkozy inicia cumprimento de pena por financiamento ilegal de campanha
AFP
Embora seis em cada dez franceses considerem “justa” a prisão, segundo pesquisa recente, as críticas do ex-presidente à suposta politização do Judiciário lhe renderam apoio em setores da direita e da extrema-direita.
O Ministério Público abriu investigação sobre ameaças feitas nas redes sociais à juíza responsável pelo caso, e até o presidente Emmanuel Macron foi obrigado a sair em defesa da Justiça.
Macron, no entanto, recebeu Sarkozy no Palácio do Eliseu na sexta-feira. “Era normal que, no plano humano, eu recebesse um dos meus predecessores neste contexto”, afirmou o presidente na segunda-feira.
O ministro da Justiça, Gérald Darmanin, também declarou que pretende visitar seu mentor político na prisão — uma atitude que, segundo o procurador-geral da Corte de Cassação, Rémy Heitz, poderia “comprometer a independência dos magistrados”.

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