
A química dos 'cogumelos mágicos': cientistas decifram rota bioquímica do efeito psicodélico; entenda
Ninguém sabe ao certo por que os cogumelos mágicos evoluíram para produzir psilocibina, uma potente molécula psicodélica. Mas a característica parece ter sido tão vantajosa para os fungos que surgiu de forma independente em dois grupos de cogumelos distantes.
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Uma surpresa para os biólogos foi que, em vez de seguirem o mesmo caminho químico, os dois grupos desenvolveram vias bioquímicas completamente diferentes, segundo estudo publicado no mês passado no periódico Angewandte Chemie International Edition.
“Essa descoberta nos lembra que a natureza encontra mais de uma maneira de produzir moléculas importantes”, afirmou Dirk Hoffmeister, microbiologista farmacêutico da Universidade Friedrich Schiller de Jena, na Alemanha, e um dos autores do estudo. Ele acrescentou que isso é uma prova de que os cogumelos são “químicos brilhantes”.
Na prática, explicou Hoffmeister, a pesquisa também indica um possível novo caminho para sintetizar psilocibina em pesquisas científicas e terapias. “Podemos expandir nossa caixa de ferramentas”, disse ele.
Vias bioquímicas divergentes
Os cogumelos Psilocybe, tradicionalmente chamados de mágicos, e os Inocybe, conhecidos como cápsulas de fibra, compartilham alguns habitats, mas vivem de formas diferentes. O Psilocybe prospera em matéria orgânica em decomposição ou esterco de vaca, enquanto o Inocybe mantém relações simbióticas com árvores, beneficiando-se mutuamente.
Em 1958, o químico suíço Albert Hofmann, que descobriu o LSD, isolou a psilocibina em cogumelos Psilocybe. Posteriormente, cientistas suspeitaram que algumas espécies de Inocybe também produziam o composto, hipótese confirmada em cerca de meia dúzia de espécies. Outras espécies, porém, tendem a gerar neurotoxinas potentes.
O novo estudo reforça a ideia de que os cogumelos mágicos não são os únicos capazes de produzir psilocibina. Hoffmeister e sua equipe analisaram as enzimas responsáveis pela biossíntese da molécula nos dois tipos de cogumelos e usaram modelos computacionais para prever estruturas moleculares de novas enzimas.
Ao comparar as vias bioquímicas, os pesquisadores ficaram surpresos com o quanto divergiam. “Definitivamente, não esperávamos que as duas vias fossem tão radicalmente diferentes”, disse Hoffmeister.
Apesar de partirem do mesmo aminoácido inicial, cada grupo segue roteiros distintos de genes e enzimas, encontrando-se apenas em um ponto intermediário antes de chegar ao mesmo produto final. “É como vagar pela cidade de Nova York e pegar estradas diferentes para chegar ao mesmo destino”, exemplificou Hoffmeister.
O químico Jon Thorson, da Universidade de Kentucky, não envolvido no estudo, destacou que a psilocibina já era “uma molécula relativamente simples de produzir”, mas que o novo trabalho amplia o entendimento molecular das etapas envolvidas, abrindo caminho para métodos de produção mais acessíveis.
Um mistério evolutivo
Embora as descobertas não expliquem por que alguns cogumelos evoluíram para produzir psilocibina, Jason Slot, micologista da Universidade Estadual de Ohio, ressaltou que elas reforçam a ideia de que a molécula não surgiu por acaso. Segundo ele, a psilocibina pode ter sido “uma solução para um desafio específico enfrentado pelos fungos”, ajudando-os a prosperar.
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