
Farmacovigilância e as vacinas
O sistema de saúde tem engrenagens que vão muito além da assistência hospitalar. Atividades essenciais para garantir que as vacinas cheguem ao braço da população com segurança são executadas de forma consistente e minuciosa. Entre elas, está o trabalho quase invisível, mas fundamental, da farmacovigilância.
O processo avalia e detecta possíveis efeitos adversos relacionados ao uso de medicamentos e vacinas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o monitoramento pós-comercialização desses itens indispensável, pois, mesmo após rigorosos estudos clínicos realizados em humanos, que garantiram a segurança, eficácia e o consequente registro do produto para utilização no país, alguns efeitos raros ou inesperados só se tornam perceptíveis quando um medicamento ou vacina é utilizado em larga escala.
Estima-se que entre 5% e 10% das internações hospitalares em todo o mundo estejam relacionadas a reações adversas a medicamentos, o que reforça a importância de um sistema de vigilância eficiente.
A farmacovigilância ajuda a reforçar a segurança das vacinas aplicadas tanto na rede pública de saúde quanto em clínicas particulares. Na imensa maioria das vezes, os eventos adversos graves relatados pela população não encontram relação de causa e efeito com a aplicação dos imunizantes.
No Brasil, a Anvisa é responsável pelo Sistema Nacional de Farmacovigilância, que integra hospitais públicos e privados, profissionais de saúde, a indústria farmacêutica e pacientes. O sistema permite o registro e a análise de notificações sobre efeitos adversos, falhas terapêuticas ou problemas de qualidade relatados por usuários.
O Brasil é um dos países mais ativos da América Latina nessa área, mas ainda há desafios, sobretudo no fortalecimento da cultura de notificação entre os profissionais de saúde.
Na pandemia, a farmacovigilância se destacou. A rápida criação e distribuição das vacinas exigiu monitoramento intensivo, e os dados globais comprovaram sua segurança. De acordo com a OMS, mais de 13 bilhões de doses de vacinas contra o coronavírus foram aplicadas até 2024, com uma taxa praticamente irrisória de eventos adversos graves. Os dados comprovaram que os benefícios das vacinas superam, de forma incontestável, os riscos.
Além disso, o trabalho da farmacovigilância tem um papel crucial no combate à desinformação. A crença de que vacinas podem causar autismo, por exemplo, é resultado de um estudo fraudulento publicado em 1998 e amplamente desmentido desde então. Pesquisas robustas, envolvendo milhões de crianças, demonstraram de forma consistente que não há qualquer relação entre vacinas e autismo.
O processo de farmacovigilância também contribui para aprimorar a qualidade dos produtos e orientar ações de saúde pública. A análise dos dados coletados pode levar à atualização de bulas, a ajustes nas dosagens e, em casos extremamente raros, à suspensão de medicamentos que representem riscos. É um processo contínuo, que transforma a experiência de pacientes e profissionais em informação científica. Esse ciclo de monitoramento e aprendizado é o que garante que o sistema de saúde evolua de maneira segura e transparente.
Para que esse processo seja eficaz, é fundamental a participação de todos, incluindo fiscais, médicos, farmacêuticos e os próprios usuários dos medicamentos. Notificar reações adversas, mesmo que sejam leves, é uma forma de contribuir para o aperfeiçoamento do sistema.
Em um cenário de avanços científicos rápidos e grande circulação de informações, algumas das quais falsas e disseminadas nas redes sociais, a farmacovigilância é um compromisso coletivo com a saúde. Com a participação de todos, é possível evoluir na produção de novos tratamentos de maneira responsável e transparente, reduzindo cada vez mais os riscos e protegendo nossa população.
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