Drones com explosivos, bloqueios em série, alta letalidade: o que a megaoperação no Alemão e na Penha teve de inédito
A ação nos complexos do Alemão e da Penha alcançou o topo do ranking de letalidade, superando outras duas operações também realizadas no governo Cláudio Castro (no Jacarezinho, em 2021, com 28 mortos; e no próprio Complexo da Penha, em 2022 com 23 vítimas).
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Fabiano Rocha
Um dia inédito na história da segurança pública do Rio. Para um estado onde tiroteios, fechamentos de vias expressas, unidades de saúde e escolas e guerras entre facções já fazem parte do cotidiano da população, é difícil que acontecimentos na área tenham ar de ineditismo. No entanto, 28 de outubro de 2025 vai ficar marcado por um acúmulo de situações sem precedentes. De um lado, a operação policial mais letal da história do estado; de outro, uma reação inédita do Comando Vermelho (CV), que confrontou a polícia durante mais de 12 horas, usou pela primeira vez drones para jogar granadas nos agentes e, por fim, fez bloqueios coordenados em diversas vias importantes da Região Metropolitana — atrapalhando a volta para casa de milhões de pessoas.
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Parte de uma série de iniciativas do governo para tentar impedir o avanço do CV, a Operação Contenção foi planejada para tentar tirar das ruas alguns dos protagonistas do movimento expansionista. A operação, inicialmente, tinha como objetivo o cumprimento de 51 mandados de prisão expedidos pela Justiça do Rio a partir de uma investigação de um ano da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). Um dos alvos era Edgar Alves de Andrade, o Doca, principal liderança do CV fora dos presídios. O efetivo empregado, de 2.500 policiais, pretendia estabilizar o território para possibilitar a captura de alguns dos criminosos.
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Marcelo Theobald
Incursão de risco
A expectativa de policiais que participaram da incursão era de que fosse mais uma operação de rotina, mesmo que com grau elevado de risco. Como a polícia já tinha uma investigação em andamento, havia pontos mapeados e um roteiro a ser seguido para entrada e saída da comunidade até, no máximo, as primeiras horas da tarde. A reação dos criminosos aliada às mortes dos policiais em confrontos — os dois policiais civis ainda pela manhã e uma dupla de PMs do Bope horas depois — acabaram motivando o avanço da polícia até áreas de mata onde os criminosos tentaram se esconder.
Por conta do risco e da baixa visibilidade com a aproximação do fim da tarde, outras operações foram encerradas naquela localidade. A decisão das equipes de prosseguir com os confrontos contou com a aprovação dos superiores. Até o fim da noite, Doca, no entanto, não havia sido encontrado.
O saldo operacional da ação não foi corriqueiro: a operação terminou com 81 presos e 93 fuzis apreendidos. Em comparação, este ano a polícia tirou das mãos de criminosos uma média de 65 armas longas por mês. A maior apreensão de fuzis do estado numa única ação segue sendo a realizada na casa de um amigo do ex-PM Ronnie Lessa, onde 117 fuzis foram encontrados em 2019. A diferença é que, naquele caso, os fuzis estavam desmontados e ainda seriam comercializados; ontem, foram retirados diretamente de territórios dominados pela facção.
Expansão lucrativa
A expansão capitalizou a facção: novos parceiros de negócios por todo o país aumentaram a rede de fornecedores de drogas — os matutos — e de armas da facção e também possibilitaram que o CV, até então pouco expressivo no tráfico internacional de cocaína, ganhasse maior protagonismo nas remessas da droga para a Europa e para a África.
Atualmente, parte desses novos “parceiros de negócio” oriundos de pelo menos dez estados estão encastelados nos complexos da Penha e do Alemão e na Rocinha, de onde comandam à distância suas quadrilhas em seus redutos de origem. Ontem, três dos mortos eram criminosos da Bahia e do Espírito Santo.
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No Rio, a consequência do enriquecimento da facção é o investimento na tomada de territórios: desde 2022, o Rio assiste ao maior movimento de expansão do CV no Rio desde a criação dos grupos paramilitares, no fim dos anos 1990. No período, mais de duas dezenas de favelas já foram invadidas pelos traficantes — algumas delas, como a Gardênia Azul, eram reduto da milícia há mais de 20 anos.
Hoje, praticamente todo corredor que circunda a Floresta da Tijuca, passando pela Tijuca, Lins, Praça Seca e a Grande Jacarepaguá, já é dominado pela facção, que foca agora
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