Logo
Tudo que você precisa saber sobre as eleições em um só lugar

Caos no Rio: três em cada quatro eleitoras acreditam que a violência é o principal problema do país, aponta pesquisa

29/10/2025 06:31 O Globo - Rio/Política RJ

A segurança pública desponta como o tema mais urgente para as mulheres brasileiras, e, ao mesmo tempo, como um ponto de consenso em meio à polarização política. Segundo o Mapa Narrativo – Entre Nós, levantamento do Instituto Update, 77% das mulheres entrevistadas consideram a violência o principal problema do país, uma percepção que atravessa classes sociais, faixas etárias, religiões e orientações políticas. O documento, lançado a menos de um ano das eleições de 2026, chama atenção por revelar que mulheres progressistas e conservadoras compartilham prioridades semelhantes, e é publicado em meio ao caos da segurança pública do Rio de Janeiro: uma operação policial no Alemão e na Penha deixou pelo menos 64 mortos nessa terça-feira.
CPI do Metanol: São Paulo soma 45 prisões por falsificação de bebidas desde início da crise
Segurança no Rio: Alckmin convoca reunião de emergência no Planalto para discutir crise
Para as pesquisadoras, o resultado indica um reposicionamento do debate público: a segurança, antes tratada como bandeira ideológica, passa a ser vista como uma preocupação que une diversos recortes demográficos.
O levantamento, chamado Mulheres em Diálogo, que deu origem a Mapa Narrativo – Entre Nós, será lançado oficialmente nesta quarta-feira (29), em evento na Comissão da Mulher da Câmara dos Deputados, com participação das deputadas Lídice da Mata (PSB-BA), Talíria Petrone (PSOL-RJ) e da ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento). O guia busca aproximar mulheres de diferentes origens em torno de valores e pautas comuns, e oferecer ferramentas de comunicação e escuta para quem atua em campanhas, projetos sociais ou políticas públicas.
— Quando 77% das mulheres do país dizem que a segurança é o principal problema do Brasil, elas não estão falando apenas de policiamento, estão falando do direito de viver sem medo. O Entre Nós revela que, apesar das diferenças, há um consenso profundo entre as mulheres: queremos respeito, igualdade e proteção — afirma Talíria Petrone (PSOL-RJ).
Em meio ao avanço do crime organizado e à crescente sensação de insegurança, o tema da segurança pública voltou ao centro da agenda política. No começo de outubro, uma nova pesquisa Genial/Quaest apontou que a violência já é a maior preocupação de 30% dos brasileiros, à frente da economia, da corrupção e da saúde.
O governo federal tenta responder ao sentimento com uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, apresentada em abril pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. O texto prevê a criação de corregedorias e ouvidorias autônomas, amplia as atribuições da Polícia Rodoviária Federal e fortalece o papel da União na formulação de políticas do setor. Lewandowski chegou a comparar a proposta à criação de um “SUS da segurança pública”.
Consenso
O questionário perguntou qual eram os três maiores problemas do país em ordem de importância. Após a segurança, o tema da saúde ficou em segundo lugar, para 47% das mulheres. O tema é preocupação prioritária para mulheres das classes C e D. Com 36%, a fome veio em terceiro lugar na opinião das entrevistadas. O levantamento ainda mostra consensos em temas de igualdade e representatividade: 94% das mulheres defendem a igualdade salarial entre homens e mulheres, e 85% apoiam o aumento da presença feminina na política.
Segundo Carolina Althaller, diretora-executiva do Instituto Update, os resultados revelam que o eleitorado feminino está menos polarizado do que o debate público costuma sugerir.
— Há uma distância entre o que as mulheres pensam e o modo como a política fala com elas. O mapa mostra que é possível encontrar uma linguagem comum, mais próxima da vida real. Estão cansadas do tom de confronto e não se interessam em quem vence a discussão, mas em quem resolve o problema — diz Carolina.
Para realizar o levantamento, foram entrevistadas 668 mulheres em 22 estados brasileiros. Cerca de 20 mulheres líderes de organizações sociais de diferentes regiões do Brasil fizeram dois dias de imersão em locais com mulheres de diversas idades, classes sociais e orientações políticas. No final, o estudo identificou o que chama de “consenso sobreposto”: mulheres de diferentes crenças e visões de mundo chegam aos mesmos valores por caminhos distintos.
No caso do tema de respeito às mulheres, por exemplo, uma mulher da geração Z considera o “protagonismo feminino” prioritário, com autonomia, crítica ao sistema, e desejo de transformação. Já uma mulher evangélica ou conservadora, chega à mesma conclusão da importância do respeito à mulher ao afirmar que “respeitar a mulher é respeitar a família”, o que traz ordem e equilíbrio da casa. Já no tema de equidade de gênero, mulheres empreendedoras exigem “o devido valor” ao trabalho, e afirmam não querer “mais escadas com degraus mais altos” para as mulheres. Por outro lado, mulheres religiosas, em depoimentos registrados pelas entrevistadoras, afirmam que “a mulher virtuosa só precisa de uma oportunidade”.
— Falar com as mulhere

Fonte original: abrir