
Agricultura regenerativa traz benefícios para o solo, mas eles demoram a aparecer: veja casos apresentados em evento
O Brasil tem “vantagens consolidadas” para ampliar a adoção da agricultura regenerativa, sistema de produção agrícola baseado na saúde do solo, segundo produtores e especialistas que participaram do Summit Agricultura Regenerativa, que a Globo Rural organizou ontem, em São Paulo. O evento reuniu mais de 200 pessoas, incluindo também representantes da indústria e autoridades.
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De acordo com produtores, há benefícios perenes para quem adota as práticas do modelo, mas os resultados não são imediatos. Por isso, a migração para o modelo deve ser feita aos poucos e com assistência técnica. Para especialistas, além disso, o acesso a crédito é um elemento-chave para o avanço do modelo.
Paula Curiacos, gestora da Fazenda Três Meninas Cafés Especiais, de Monte Carmelo (MG), contou que ela e o marido, Marcelo, deram início ao processo de transformação na propriedade há nove anos. Naquele momento, o casal enfrentou aumento de custos e alta incidência de pragas.
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— Começamos a resgatar conceitos básicos da agronomia, como um cuidado maior com a biodiversidade do solo, para buscar um ambiente que fosse mais resiliente e equilibrado. Adotamos uma visão baseada em ciência e em colaboração, abrindo a porteira da fazenda para institutos de pesquisa e universidades — disse Paula, durante um dos painéis do Summit Agricultura Regenerativa.
Menos químicos
A propriedade incorporou as mudanças aos poucos, incluindo a redução do uso de defensivos químicos. Essa estratégia permitiu à fazenda reduzir seus custos e, com o tempo, alcançar produtividade acima da média: a Três Meninas colhe 50 sacas de café por hectare, ante a média de 31 sacas verificada no Cerrado mineiro, onde está a região de Monte Carmelo. No Brasil, a média é de 25 sacas por hectare.
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Rodrigo Ribeiro Cardoso, diretor da Agrícola Whermann, de Cristalina (GO), relatou que limitações em áreas produtivas levaram a empresa a diversificar cultivos e a migrar algumas culturas para áreas arrendadas.
Painel do Summit Agricultura Regenerativa organizado pela Globo Rural em São Paulo
Patrick Cruz/Valor
Como consequência, a Agrícola Whermann produz hoje cerca de 40 culturas, o que muitas vezes cria a chamada “ponte verde”, quando plantas hospedeiras acabam servindo de refúgio para pragas que atacam as safras principais. Para lidar com isso, a empresa optou pela agricultura regenerativa.
— Separamos áreas para plantar braquiária e, posteriormente, voltamos a cultivar batata. A braquiária deixa 40 toneladas de matéria orgânica por hectare, e o aumento de produtividade na batata compensou todo o manejo — relatou Cardoso, frisando que a adoção do modelo é um processo de longo prazo, que exige mudança de mentalidade.
Bruno Afonso, produtor de coco em Petrolândia (PE), que estava na plateia do evento, contou um pouco de sua experiência:
A braquiária deixa 40 toneladas de matéria orgânica por hectare, e o aumento de produtividade na batata compensou” - Rodrigo Ribeiro Cardoso, diretor da Agrícola Whermann
— Passamos a enxergar as plantas daninhas como pasto e a fazer a integração entre coco e ovinocultura. Além de incorporar mais uma atividade à área, usamos o esterco dos animais como adubo, o que ajudou a reduzir o custo com (adubos) nitrogenados.
A disseminação da agricultura regenerativa passa pelo consumidor final, avaliou Márcio Milan, vice-presidente de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Supermercados (Abras):
— As 30 milhões de pessoas que frequentam nossos supermercados todos os dias precisam ter a informação clara sobre as razões que fazem um café custar mais que o outro, por exemplo.
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Suelma Rosa, vice-presidente de Assuntos Corporativos da PepsiCo América Latina, reiterou a importância do trabalho conjunto para envolver o consumidor final, pois “todos os elementos da cadeia precisam estar conectados”.
Principal instrumento
Segundo Alex Carreteiro, presidente de alimentos da PepsiCo no Conesul, a agricultura regenerativa é o principal instrumento da empresa, e também do Brasil, para cumprir o objetivo de zerar o saldo de emissões de carbono:
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— Quando o solo passar a ser sequestrador de CO2, a agropecuária vai mitigar as emissões do país como um todo e atuar sobre mudanças climáticas.
Kadigia Faccin, professora da Fundação Dom Cabral, disse que a construção da agricultura regenerativa é um processo cooperativo, mas que sua adoção esbarra em diferentes obstáculos, como falta de apoio técnico e financeiro.
Alessandra
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