
“A nova ordem mundial da saúde passa pela integração público-privada”
O debate sobre a ampliação do acesso à saúde e o impacto de novas tecnologias deve permear a maioria das discussões promovidas pelo 29º Congresso Abramge. Para Gustavo Ribeiro, presidente da entidade, a incorporação de novas ferramentas, como as atreladas à IA, podem ajudar a garantir a disponibilidade de serviços a mais pessoas e com custo possível. Confira a entrevista a seguir:
O congresso deste ano tem como tema a nova ordem mundial da saúde, e o grande ponto de discussão é a ampliação do acesso e a redução de desigualdades. Como essas temáticas estão interligadas?
Sabemos que o que beneficia a saúde suplementar acaba auxiliando também a pública e defendemos a criação de uma agência única para garantir inclusão. Essa integração faria muito sentido para ambos os lados. Quanto mais gente tem acesso à saúde suplementar, menor é a pressão orçamentária sobre o Sistema Único de Saúde [SUS] e mais perto ficamos de assegurar a sustentabilidade para todos os lados.
O mundo está em constante mudança em todos os campos. A área da saúde é muito sensível e depende de avanços tecnológicos e da incorporação a um custo que caiba dentro do orçamento. Quando falamos em uma nova ordem, falamos em integração público-privada, em como equacionar o desafio de incorporar o que está por vir de maneira que seja viável para todas as pessoas. Dentro dessa nova ordem mundial, o grande olhar é o de gerar acesso, com custo acessível e a implementação de mecânicas que permitam que a incorporação se dê de maneira justa e menos onerosa.
Na sua visão, qual o principal desafio estrutural que o setor precisa resolver para se alinhar a essa ordem global?
Precisamos de um reforço legislativo e regulatório que traga segurança jurídica. A questão da judicialização indevida da saúde ainda é um grande gargalo, e falta uma legislação mais moderna. A Lei dos Planos de Saúde é de 1998 e retrata um mundo que não existe mais. E aqui reforço que não há uma legislação adequada para proteger nem o beneficiário nem a operadora. Precisamos avançar muito nesse sentido.
O congresso trará vozes muito plurais. Qual a importância disso diante dos temas que serão tratados?
O diálogo público e privado é decisivo. O diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar [ANS], Wadih Damous, conhece profundamente as políticas públicas, já que foi secretário nacional do Consumidor, órgão vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Nessa nova posição, ele tem a oportunidade de ver que a sustentabilidade do setor é crucial na defesa do consumidor, então acredito que teremos nos próximos anos um diálogo plural com a sociedade brasileira.
O evento também trará o tema da inteligência artificial por meio de vozes muito fortes, como Yuval Noah Harari, filósofo e grande pensador do século, e Ricardo Baptista Leite, CEO da HealthAI Agency, referência internacional em governança global da IA na saúde. Com participações tão plurais, conseguiremos olhar para o futuro com o pé na realidade.
Falando de inteligência artificial, como enxerga a implementação dessa tecnologia na saúde?
A IA deverá ter papel importante para reduzir custos e trazer mais eficiência, mas o acolhimento humano é insubstituível na nossa área. Tudo passa pelo equilíbrio das melhores qualidades humanas dedicadas ao atendimento e implementação dessas ferramentas. Se você reparar, no setor financeiro, a inteligência artificial avançou muito rapidamente. Entretanto, não conseguimos atingir a mesma velocidade. Isso porque a governança é mais difícil. O dado de saúde não trafega com a mesma velocidade que a do dado financeiro e tem outra natureza pela Lei Geral de Proteção de Dados [LGPD]. O grande ponto da IA não é a tecnologia, mas a governança e a implementação de regras. É fundamental que a saúde tenha um tratamento diferenciado na legislação.
Como avalia a sustentabilidade financeira do setor de saúde suplementar?
O Brasil tem hoje 660 operadoras, sendo a maioria pequenas empresas que desempenham papel essencial nesse ecossistema, dando capilaridade ao atendimento. Precisamos valorizá-las por sua importância social e no desenvolvimento de regiões em que fatores macroeconômicos não ajudam. É preciso discutir estratégias para criar um ecossistema que permita que as novas tecnologias sejam absorvidas por todos. Entretanto, sabemos que cerca de 30% dessas operadoras apresentam resultados negativos. Precisamos dar mais atenção a elas e abrir um diálogo propositivo.
Quais são as perspectivas para o setor olhando para a frente?
Certamente avançamos muito e tenho certeza de que estamos no caminho certo. É importante que continuemos com diálogo franco e aberto com a sociedade, com os stakeholders para que sigamos na construção da ponte para o futuro. Vamos seguir entregando, evoluindo e trazendo mais pilares para atingir a sustentabilidade e o equilíbrio que buscamos. E estou muito seguro de que estamos conseguindo fazer isso. O segredo é não parar, é seguir ao lado do consum
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