
Professor com Alzheimer desaparece em trilha no Rio: quando é o momento da família contratar um cuidador?
Um homem identificado como Antônio Petraglia, professor universitário aposentado de 70 anos, diagnosticado com Alzheimer, desapareceu na trilha do Morro da Urca, no Parque Bondinho Pão de Açúcar, na Zona Sul do Rio de Janeiro, na noite do último domingo. Equipes do Corpo de Bombeiros fazem buscas desde então.
À TV Globo, a família contou que caminhadas diárias foram recomendação médica, e que o idoso usa uma corrente com dados pessoais e é supervisionado pela esposa por meio de um aplicativo. Por volta de 16h, ele começou a andar pelo Aterro do Flamengo e, às 17h30, entrou na trilha do Morro da Urca, porém o sinal do app parou.
Mariane Petraglia, esposa do professor, disse que começou a buscar o marido, mas não encontrou e acionou os bombeiros. Ela reforçou que ele estava com um short preto, camisa esportiva cinza e tênis.
Quando é o momento da família contratar um cuidador?
O cuidado a pessoas com Alzheimer e outras formas de demência é um desafio no Brasil que na vasta maioria das vezes recai sobre os parentes do paciente. Dados do Relatório Nacional sobre a Demência no Brasil (ReNaDe), de 2024, mostram que 83,6% dos cuidadores são familiares: 57% filhos, e 25,7% de companheiros.
Em média, o tempo diário dedicado ao cuidado é de 10 horas e 12 minutos, sete dias por semana, sem qualquer apoio financeiro. Apesar da alta carga horária demandada, 65,7% dos cuidadores mantêm outro trabalho. Em 86% dos casos, a pessoa que exerce o cuidado é uma mulher.
— Quando falamos de pessoas que são colocadas na condição de cuidadores no Brasil, temos uma realidade que grande parte dessas pessoas são familiares, que não se foram preparados para isso, então não são profissionais, muitos deles realizam esse trabalho de modo não remunerado, e o que traz sempre muita sobrecarga financeira, emocional, física, impactando na saúde de uma maneira geral dessas pessoas — diz Elaine Mateus, presidente da Federação Brasileira das Associações de Alzheimer (Febraz).
Mas, quando há condições econômicas para um cuidado profissional, qual o momento de contratar alguém? Lucas Mella, coordenador do Serviço de Psiquiatria Geriátrica e Neuropsiquiatria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e diretor científico da Abraz regional São Paulo, explica que a gravidade do paciente pode ser um parâmetro:
— Em estágios mais leves, a carga do cuidado é menor, e às vezes alguém da família consegue fazer essa função mais facilmente. Pacientes em estágios mais graves vão precisar de um nível de complexidade grande de cuidado. Desde alguém que oriente todas as atividades ao longo do dia, a necessidade de fisioterapia para questão motor, fonoterapia, por questões com deglutição. Terapeutas ocupacionais ajudam muito na organização desse cuidado, é uma profissão que tem sido bem importante nesse sentido.
Nos casos de cuidado pela família, Elaine lembra que a Febraz tem um curso online e gratuito chamado Zelar, que pode ser acessado clicando aqui, desenvolvido por profissionais para auxiliar os parentes nos diferentes aspectos da rotina de uma pessoa que vive com demência:
— O foco é para famílias que convivem com pessoas com diagnóstico de Alzheimer. Sobre como é que você, cuidador, busca o próprio autocuidado e como é que você entende essa pessoa que tem o diagnóstico. Foi pensado para os familiares, com linguagem simples, acessível.
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