'Zona das Múmias': cientistas descobrem dois fósseis raros de dinossauros com mais de 66 milhões de anos nos EUA
Durante uma escavação em 1908 no Wyoming, o caçador de fósseis Charles H. Sternberg fez uma descoberta impressionante: um esqueleto de dinossauro coberto por pele escamosa. O espécime de Edmontosaurus, conhecido como bico de pato, foi enviado ao Museu Americano de História Natural. Quando foi revelado em 1909, o The New York Times destacou que a descoberta "não era apenas um esqueleto, mas uma múmia genuína".
Um ano depois, na mesma região do Wyoming, Sternberg e seus filhos encontraram uma segunda múmia de Edmontosaurus, que foi enviada para um museu na Alemanha.
Novas múmias no século XXI
Quase um século depois, uma equipe de paleontólogos retornou à chamada "zona das múmias" do Wyoming e desenterrou mais duas múmias de Edmontosaurus, preservando características raramente fossilizadas, incluindo o primeiro exemplar de cascos de dinossauro. Em artigo publicado na revista Science, os pesquisadores descrevem os fósseis e propõem um processo de mumificação envolvendo micróbios, ocorrido há mais de 66 milhões de anos.
"Pela primeira vez, acho que conseguimos capturar completamente a aparência do Edmontosaurus", disse Paul Sereno, paleontólogo da Universidade de Chicago e autor principal do estudo. "Com base em nossos desenhos, você poderia colocá-lo em um filme de Hollywood, e ele seria fiel da cabeça aos pés."
Em 2001, Sereno levou alunos para explorar os depósitos fósseis do leste de Wyoming, datados do final do período Cretáceo. Entre as descobertas estavam dois espécimes de Edmontosaurus: um jovem e a metade posterior de um dinossauro mais velho.
Batizados de Ed Jr. e Ed Sr., os fósseis foram levados para o laboratório de Sereno em Chicago. À medida que a rocha circundante era removida, a equipe percebeu que se tratava de múmias, e não de esqueletos comuns.
Ed Jr. apresentava o contorno de uma crista carnuda no pescoço e nas costas, coberta por pequenas escamas semelhantes às de lagartos modernos. Ed Sr. tinha pele enrugada, cascos em forma de cunha nas patas traseiras e uma fileira de espinhos ao longo da cauda.
Os novos fósseis foram coletados na mesma região onde Sternberg havia encontrado suas múmias. Pesquisas posteriores mostraram que todas as quatro múmias de Edmontosaurus foram descobertas em uma faixa de cerca de 10 quilômetros, que a equipe chama de "zona das múmias".
Durante o final do período Cretáceo, o leste do Wyoming era um vale fluvial costeiro sujeito a inundações sazonais. A equipe acredita que essas enchentes enterraram os dinossauros, preservando também alguns contemporâneos — fósseis próximos incluem Tiranossauro rex e Triceratops com impressões de pele.
O segredo da mumificação
Para entender o processo de mumificação, os pesquisadores usaram tomografias computadorizadas e microscopia eletrônica para examinar a pele dos fósseis.
Os testes não encontraram vestígios de compostos orgânicos, indicando que carne, pele e cascos haviam apodrecido antes do soterramento. Quando as águas da enchente enterraram os dinossauros desidratados, micróbios formaram um biofilme sobre as peles coriáceas, deixando uma fina camada de argila que cobriu os fósseis. "Quando você toca esses fósseis e depois olha para os dedos, ainda vê vestígios de argila", explicou Sereno.
Essa camada preservou detalhes finos de escamas, espinhos e cascos, criando moldes detalhados que permaneceram após a mineralização dos ossos. Sereno destacou que esse tipo de preservação é comum em ambientes marinhos calmos, e considerou surpreendente encontrar dinossauros tão delicadamente preservados em um vale fluvial.
Novas perspectivas para a paleontologia
Stephanie Drumheller-Horton, paleontóloga da Universidade do Tennessee que não participou do estudo, afirmou que as descobertas mostram uma forma intrigante de mumificação de dinossauros. Em seu trabalho, ela estudou uma múmia parcialmente devorada de Edmontosaurus da Dakota do Norte, e destacou a diversidade de processos preservativos.
“Entender quais condições são necessárias para formar uma múmia pode ajudar os paleontólogos a identificar novos locais de escavação”, disse a especialista. “Múmias são raras, e cada uma é um tesouro de informações.”
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