Fiocruz relata 1º caso raro de encefalite associada à infecção por zika no Brasil
Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) publicaram um estudo na revista científica Viruses em que descrevem um primeiro caso raro de encefalite do tronco encefálico, também conhecida como rombencefalite, causado pelo vírus zika.
O tronco encefálico é uma estrutura do sistema nervoso central que fica perto da base do cérebro e que o conecta à medula espinhal. Um quadro de encefalite, considerado grave, ocorre quando há uma inflamação de alguma parte do cérebro, como do tronco, geralmente devido a uma infecção.
O caso relatado no Brasil foi de uma jovem de 21 anos saudável, sem histórico de comorbidades, de Salvador, na Bahia, que apresentou sintomas típicos de uma infecção viral, como febre, dores articulares e erupções na pele, no dia 28 de junho de 2015.
Essas queixas se resolveram em três dias, porém sete dias depois o quadro da paciente evoluiu para queixas neurológicas graves, como confusão mental, dificuldades na fala, alterações motoras e convulsões.
As características dos sintomas indicaram um problema no tronco encefálico. Os exames confirmaram que era um caso de encefalite e também a infecção pelo vírus zika. A jovem foi tratada com corticosteroides e antiepilépticos e chegou a ter alucinações visuais e verbais durante a internação.
O tratamento foi efetivo, e ela teve uma melhora significativa nos 34 dias subsequentes, até receber alta. Em uma consulta nove dias após sair do hospital, ela estava completamente recuperada da infecção.
Nove anos depois, os médicos a reavaliaram e ela permanece 100% funcional, porém com sintomas residuais persistentes, incluindo dores de cabeça intermitentes semelhantes a enxaqueca, lapsos de memória e comprometimento cognitivo leve.
No artigo, os pesquisadores escrevem que, embora alguns vírus como o do Nilo Ocidental e da encefalite japonesa já tenham sido ligados a casos de encefalite do tronco encefálico, “é incomum que essa condição esteja associada a infecções por arbovírus” (vírus transmitidos por mosquitos).
“Descrevemos um caso de rombencefalite associada à infecção pelo zika vírus que, até onde sabemos, é o mais bem documentado em termos de achados clínicos e laboratoriais. O vírus zika (ZIKV) deve ser reconhecido como um agente etiológico potencial de encefalite, particularmente em regiões endêmicas, ressaltando a necessidade de maior atenção clínica e compreensão detalhada de suas manifestações neurológicas”, afirmam.
O zika já é conhecido por causar complicações neurológicas, como a síndrome de Guillain-Barré e a síndrome congênita em recém-nascidos, riscos que foram revelados durante o surto da doença em 2015 no Brasil.
“Este relato de caso contribui para o crescente corpo de evidências que destaca o potencial neuroinvasivo do vírus e reforça a importância de pesquisas adicionais sobre sua capacidade de causar complicações graves, como a encefalite do tronco encefálico”, dizem os pesquisadores.
Eles reforçam a necessidade de considerar a possibilidade do vírus no diagnóstico diferencial de encefalites, especialmente em regiões endêmicas, caso do Brasil, e do uso de testes sorológicos para confirmar a infecção.
Além disso, apontam que é essencial aumentar a conscientização sobre as manifestações neurológicas do zika e investir em métodos diagnósticos e terapêuticos que possam reduzir as possíveis sequelas a longo prazo.
“Este trabalho amplia o conhecimento sobre os efeitos neurológicos do vírus zika e alerta para a necessidade de vigilância clínica e estratégias de diagnóstico mais eficazes”, afirma, em nota, a pesquisadora da Fiocruz Bahia e coordenadora do estudo, Isadora Siqueira.
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