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Moradores fazem propaganda de bairro onde "só não trabalha quem não quer"

21/10/2025 12:00 Campo Grande News - Política

Entre caminhões que cortam as ruas e o silêncio que domina as calçadas, o bairro Indubrasil atraiu para Campo Grande moradores do Nordeste e do interior de Mato Grosso do Sul com a promessa da industrialização. Quem vive por lá garante: “Aqui não falta emprego, só não trabalha quem não quer”. Às margens da BR-262, o Indubrasil fica praticamente à mesma distância do Centro de Campo Grande e de Terenos. Implantado em 1977, o bairro abriga grandes empresas em diferentes setores. Produz madeira tratada, proteína de soja texturizada, soro fisiológico hospitalar e frango. Na região há uma base da Guarda Municipal, escolas estaduais e municipais, UBSF (Unidade Básica de Saúde da Família), supermercado, lanchonetes e restaurantes, mas o que chama a atenção é o contraste entre a promessa de futuro e os resquícios do passado. Até uma lan house sobrevive no bairro. Durante as quase três horas em que a reportagem esteve no núcleo industrial, o movimento de caminhões era intenso, mas o trânsito de carros e motos era pequeno. Em uma das ruas, um senhor e outro homem conduziam uma boiada. Nas calçadas e nas casas fechadas, o silêncio chamava a atenção: ninguém conversando ou tomando tereré. O parquinho, o campo de terra e a quadra coberta também estavam vazios, sem crianças brincando. Foi nesse cenário de tranquilidade que o aposentado João de Jesus Oliveira, de 63 anos, contou como o bairro o conquistou. O cunhado dele foi um dos primeiros a se mudar do Nordeste para Campo Grande, atraído pelo corte de cana e depois pelas indústrias. Há trinta anos, João veio visitá-lo por apenas 30 dias e acabou ficando. “Trabalhei bastante aqui dentro”, lembra. Ele acompanhou as transformações do bairro: as ruas de terra deram lugar ao asfalto, chegou a rede de esgoto e as casas passaram a ter água encanada. Com o crescimento, aumentou também a procura por moradia. “A maioria do pessoal de outro bairro que trabalha aqui mora aqui, procura bastante casa de aluguel”, diz. Mas para João, ainda há muito a melhorar. “Falta um posto de saúde; o que existe não funciona direito. Para marcar uma consulta, você tem que marcar hoje para ser atendido daqui a 20 dias. Remédio não tem, nem o de pressão.” Ele também reclama da falta de serviços básicos. “A única coisa que não tem aqui é uma lotérica. O banco tem um caixa eletrônico ali. Para quem tem dinheiro para tirar, né? Quem não tem, só passa raiva.” Outro morador antigo, Antônio Ferreira, de 69 anos, chegou ao bairro em 2004. Depois de anos nas fábricas da região, mudou-se para uma fazenda em Miranda e voltou há quatro meses. “Eu me mudei para cá por conta dos empregos. Como aqui tem indústrias, fica bem mais fácil conseguir uma oportunidade. Antes, havia casas, mas poucos habitantes. Depois, o bairro foi sendo povoado e agora virou quase uma cidadezinha. Emprego é o que não falta; só falta vontade de trabalhar para quem não tem”, relatou. Assim como ele, muitos vizinhos vivem ali há décadas. “Os moradores antigos trabalharam junto comigo. Hoje já estamos aposentados, estamos só gastando o que ganhamos, mas quase todo mundo conhece. Se ficar aqui na esquina, o cara passa e já conhece a gente. Aqui o clima é de uma cidade do interior”, resume Antônio. O movimento das fábricas também impulsionou o comércio. Roselene Marques, de 54 anos, cresceu no bairro e hoje trabalha na única banca de salgados e refeições ao lado da Funada. Filha de pais que se mudaram de Aquidauana em busca de emprego, ela seguiu o mesmo caminho. “Sempre trabalhei com comércio. Eu tinha outro lá em cima, ao lado da Frangovit. Acho muito bom porque conheço muitas pessoas. Eu cresci aqui nesta região, nunca saí daqui e já trabalhei nas fábricas também”, conta. Entre os rostos conhecidos, está Marly Silva, de 50 anos. Ela mora no bairro desde os 11 anos e há 20 anos abriu uma conveniência com o marido, ex-funcionário da indústria. “Abri o mercado por minha necessidade mesmo. No começo, era só a gente mesmo e um mercado em frente. Agora já abriram outros.” A lembrança dos pais reforça o sentimento de pertencimento. “Meus pais vieram atrás de serviço. O meu pai trabalhou aqui, aposentou aqui, minha mãe trabalhou nas fábricas e nós crescemos aqui. Cresci no meio das fábricas. Pra mim, foi bom porque foi uma porta que eu abri e sobrevivi e estou aqui até hoje.” Mesmo enxergando as mudanças da região, Marly sente que o bairro pode melhorar. “Hoje as ruas têm asfalto, mas aqui o povo se sente meio abandonado. O posto de saúde, você vai lá e, depois das 16h, não atende mais. Se você precisar, depois você tem que correr para outro bairro. Tudo é pra lá. Aqui não tem uma casa lotérica”. Já Nelson Alves, de 48 anos, mora na Vila Entroncamento, mas abriu uma lan house no Indubrasil para aproveitar o movimento das indústrias. “A influência das empresas é boa para nós, ainda mais para a lan house, onde a gente consegue cuidar da documentação para os clientes, como currículos e fotos 3x4. Também prestamos serviços para a

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