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Mesmo longe, venezuelanos temem guerra e dizem não ver futuro no país

28/10/2025 20:35 Campo Grande News - Política

No cruzamento da Mato Grosso com a 14 de Julho, no Centro de Campo Grande, o som dos carros se mistura ao barulho dos baldes batendo no asfalto e aos panos que limpam os para-brisas entre um semáforo e outro. Sob o sol forte, um grupo de venezuelanos lava vidros e conta como tenta recomeçar a vida longe do país que deixou para trás. Eles fugiram da crise e agora acompanham com apreensão as notícias sobre a possível intervenção dos Estados Unidos na Venezuela, em meio à escalada de tensão contra o regime de Nicolás Maduro. Mesmo distantes, dizem que o medo continua, não pelo futuro deles, mas pelos familiares que ficaram. Andrea Gonzales, de 28 anos, vive há dois anos no Brasil e deixou os pais e as duas filhas em Caracas. “Tenho medo por eles, claro. Lá sempre tem confusão, gente contra a polícia. Mas não quero voltar. Mesmo se o Maduro cair, não volto. Lá não há futuro, não há trabalho”, diz. A poucos metros dela, Osmar García Hernández, de 31 anos, limpa os vidros com calma, quase como quem medita. Está em Campo Grande há quatro anos e hoje vive em situação de rua, dormindo onde consegue, entre amigos e calçadas. Mesmo assim, ele acredita que está melhor aqui do que lá. “Lá é pior. Aqui eu consigo me virar”, diz, com firmeza. Osmar deixou a mãe na Venezuela e conta que pensa nela todos os dias. “Tenho fé em Deus que nada vai acontecer com ela. Assim como eu aprendi a sobreviver aqui, ela também sabe se virar lá.” Apesar de acompanhar a tensão política, diz que não teme uma guerra, mas sente medo pela vida que a mãe leva em meio à instabilidade. E não acredita que a queda de Maduro vá mudar alguma coisa. “O problema não é só o presidente. Sai Maduro, entra outro e tudo continua igual. O país não muda porque o povo não muda”, afirma. Osmar fala da Venezuela com uma mistura de dor e resignação. Lembra do passado com carinho, mas sem esperança de reviver o que foi. “A Venezuela já foi boa, rica, nos anos 80 e 90. Hoje é só violência. Todo mundo quer dar um jeito, mas ninguém muda nada. Eu não volto pra isso, só se mudar de verdade.” Entre um vidro e outro, ele solta uma reflexão que o resume: “Não volto, não vou morrer por causa de presidente nenhum. O único que morreu por nós foi Deus. O presidente não vai morrer por mim.” Ao lado deles, Aníbal Gomes, de 29 anos, chegou há três meses com a esposa e ainda tenta se adaptar. “Vim por causa da economia. Lá não dá pra nada. Aqui é difícil, mas dá pra seguir”, conta. Mesmo com a apreensão, ele mantém a esperança de que os outros perderam. “Se o Maduro cair, eu volto no mesmo dia. Só não volto agora porque o país está sem direção. Mas se mudar de verdade, quero estar lá de novo.” Enquanto o sinal abre, os três se apressam para o próximo carro. De longe, acompanham pelas redes sociais e por ligações rápidas o que acontece em casa. A cada nova manchete sobre o conflito, equilibram a fé e a descrença de quem ainda carrega o país dentro do peito, mas já não sonha em voltar. “Eu continuo aqui, lavando vidro, orando pela minha mãe e tentando viver”, diz Osmar. “Voltar pra lá, do jeito que está, não dá mais.” Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .

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